Um aliado de peso promete fornecer combustível novo à Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC: a academia. Sete escolas de Ensino Superior são os mais novos filiados da Agência, escaladas para irrigar os projetos de revitalização da região a partir da expertise de professores e alunos. Era a perna que faltava para fechar a sustentação dos trabalhos do organismo, até agora apoiado pelas sete prefeituras do Grande ABC, sindicatos trabalhistas, pólo petroquímico e regionais do Sebrae (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa). A adesão universitária reforça a Agência de Desenvolvimento em um momento delicado, por causa da deserção de empresários da indústria representados pelos Ciesps e de varejistas ligados às associações comerciais. Por outro lado, o convite encontra a academia em um momento especialmente oportuno: as universidades dão a partida neste mês a um fórum setorial de debates e ações em favor do Grande ABC (veja box).
A multiplicação dos parceiros em direção às escolas preenche um importante vazio. Afinal, 10 entre 10 agências de desenvolvimento no Primeiro Mundo têm as academias como uma das vigas-mestras, cita o diretor-executivo do organismo no Grande ABC, José Carlos Paim. A decisão de agregar a inteligência acadêmica era antiga. Data da própria criação da Agência Regional, há três anos. Mas a decisão de acelerar o processo foi de um ano para cá, quando Carlos Paim, ex-professor da Fundação Getúlio Vargas, entregou-se a um corpo-a-corpo junto aos reitores. "Dos 11 campi visitados, sete já fazem parte do colegiado da Agência: UniFEI, Uni-A, Fundação Santo André, Foco, Umesp, UniABC e Unip Anchieta" -- saúda Paim.
Pelo menos três objetivos estão nos planos mais imediatos. O primeiro é que as universidades agreguem seus bancos de dados aos da Agência. Individualmente a rede de informações de cada instituição não é robusta, mas a união de todos pode dar músculos aos estudos e estatísticas regionais. O segundo objetivo é estimular a pesquisa socioeconômica no Grande ABC, incentivando a investigação nas escolas como atividade tão obrigatória quanto a educação tradicional. A aproximação com a universidade pode render apoios de ouro, sobretudo a partir da Medida Provisória 66 de agosto último, que permite finalmente às empresas deduzir do Imposto de Renda todas as despesas com pesquisa e desenvolvimento.
Finalmente, a terceira meta é adequar os currículos escolares às vocações do Grande ABC, onde houve funda reestruturação industrial com a globalização e a atividade terciária ainda está longe do perfil tecnológico que agrega valor. "Vamos discutir com as universidades cursos com mentalidade mais empreendedora, porque as empresas e o próprio mercado exigem novas posturas profissionais. Além disso, temos de pensar em novas demandas, como cursos voltados ao meio ambiente e à nova Internet agregada à telefonia móvel" -- exemplifica Carlos Paim, preocupado com razão. Antes um diploma e uma profissão acompanhavam o trabalhador até a aposentadoria. Hoje, a formação universitária garante no máximo os cinco primeiros anos da carreira, adverte Gerson Correia, consultor da DBM do Brasil, empresa de caça talentos. O cenário mundializado exige maior dinâmica e aprendizagem continuada ao longo da vida. "Hoje as profissões surgem, têm seu apogeu e desaparecem em período menor que 20 anos" -- diz o especialista.
A academia tem consciência das transformações que precisa acompanhar. A veterana UniFEI de São Bernardo, cuja vocação tradicional é formar engenheiros para a indústria, atualizou a agenda de ensino introduzindo cursos de computação e de administração voltados ao setor produtivo, entre outros. Além disso, dinamiza seu espaço de convivência com as empresas renovando com frequência laboratórios e equipamentos de pesquisa. "Estamos sempre detectando demandas para o futuro. O curso de Novos Materiais decorreu de outro curso bem-sucedido de Metalurgia, já que a cada dia surgem opções de matérias-primas para produção" -- comenta o professor e secretário-geral da UniFEI, Alessandro La Neve. Pioneira na formação de mão-de-obra automotiva, têxtil, química e de logística, a escola recém-introduziu o atualíssimo curso de Infotelecom, de telecomunicações com ênfase na informática. "Somos uma escola de caráter confessional, preocupada em formar e pesquisar em benefício da comunidade" -- sintetiza Alessandro sobre a decisão de integrar a Agência Regional.
Igual postura promete ter a Universidade Metodista, que reúne três campi em São Bernardo, 34 cursos de graduação e várias agências experimentais de estudos. "Não queremos ser associados da Agência de Desenvolvimento Econômico só para pagar mensalidades" -- avisa Amália Gomes, que coordena a área de Relações Institucionais e Projetos da Metodista, sobre a disposição de cooperar com o parque econômico. Amália afirma que a Umesp espera a formatação da agenda universitária da Agência para dar início ao que chama de cooperação mais efetiva. "É muito importante a contribuição que podemos dar. As escolas foram chamadas apenas pontualmente, até agora, para discutir projetos da Agência para o Grande ABC" -- comenta.
Algumas universidades não são propriamente estreantes nessa parceria. A UniFEI e a Strong participam do conselho gestor das incubadoras de empresas de Santo André e Mauá em aliança com a Agência. Na incubadora de São Bernardo a UniFEI está ao lado do Sebrae. O conselho gestor analisa a viabilidade dos novos negócios incubados. A Metodista, por sua vez, acionou sua agência experimental de Publicidade e Propaganda para confeccionar duas peças institucionais de divulgação da Agência Regional e promoveu oficinas com empresários e alunos de Comércio Exterior em seminário sobre exportação realizado no ano passado com a participação do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp. Já o Centro Universitário Imes, de São Caetano, assina um dos cadernos de pesquisas econômicas da Agência. "Cada universidade será acionada no seu expertise para somar conosco" -- planeja Carlos Paim.
Inteligência a serviço -- Ao escalar a academia como novo centroavante no apoio à gestão de empreendimentos e formação de mão-de-obra, no aumento da qualidade e da produtividade do parque econômico, a Agência Regional quer tirar a inteligência universitária da participação praticamente residual que tem no cotidiano do Grande ABC. Carlos Paim afirma que pretende puxar do limbo não só debates sobre a regionalidade, mas ações práticas efetivas. Isso porque universidades bem-estruturadas são importante imã de empresas, como ocorre em Campinas e São Carlos, onde vários empreendedores se instalaram ao redor da Unicamp e da UfsCar para usufruir de experimentos, pesquisar produtos, registrar patentes e certificar processos. A USP (Universidade de São Paulo) da Capital já farejou esse filão e acaba de anunciar o início da construção de seu Parqtec (Parque Tecnológico) em 120 dias.
Estreitar o relacionamento entre empresas e academia também tem como objetivo radiografar com mais nitidez onde e de que forma o Grande ABC pode reestruturar o tecido econômico e o mercado de trabalho. As incubadoras de empresas, segundo Carlos Paim, já buscam atender novas vocações da região e com inclinação para empreendimentos de base tecnológica. Mas a idéia é que as universidades usem esses berços empresariais como laboratórios para incubar pesquisas e projetos de seus próprios professores e alunos.
É dentro do espírito de estimular componentes de inovação nos incubados que a Agência Regional pleiteou para 2003 R$ 1,5 milhão junto à Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Ana Benevides, diretora da Secretaria de Captação de Recursos e Relações Internacionais de Santo André, está animada com a liberação, sobretudo porque a Finep privilegia parques tecnológicos, algo que o Grande ABC ainda não tem. "Eles gostaram, entretanto, da idéia que temos de pólo regional, que articula projetos entre cidades vizinhas" -- conta. O R$ 1,5 milhão da Finep terá a contrapartida de mais R$ 1,5 milhão da Agência Regional para dar suporte aos 24 meses em que os 31 empreendimentos atualmente incubados e os planos de novas incubadoras em Diadema, São Caetano e Ribeirão Pires, pela ordem. A idéia é que as universidades reforcem a presença sobretudo nesse braço de Apoio & Fomento da Agência, com assessoria em pesquisas e processos. Os outros dois braços da Agência Regional são o Banco de Dados e o Marketing Regional.
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