A viuvez institucional da comunidade regional depois do fracasso do Fórum da Cidadania provavelmente seja ferida que demorará para cicatrizar e possivelmente demandará muito tempo para ser superada por outra ação de sensibilização coletiva.
Dedico um capítulo especial ao Fórum da Cidadania no livro Meias Verdades, por isso não pretendo ser repetitivo e, mais ainda, antecipar algumas constatações.
Entretanto, nada impede que faça prospecção provocativa: o que será da região a continuar nessa toada em que os aparelhos governamentais de cunho municipal que atuam regionalmente dominam completamente o cenário?
O Consórcio de Prefeitos e a Agência de Desenvolvimento Econômico são redutos importantíssimos para despertar o interesse participativo da comunidade mais qualificada e capaz de servir de referência aos menos informados.
A Agência, no interior das reformulações que estão sendo preparadas, deverá contemplar um quadradinho do organograma para formadores de opinião de diversas especialidades, indiferentemente de pertencerem ou não aos quadros associativos.
Já o Consórcio Intermunicipal de Prefeitos é um reduto oficial que chega ao ponto de nem mesmo permitir a participação da Imprensa em suas reuniões ordinárias e extraordinárias. Diferentemente, portanto, de organismos internacionais que saltam nas manchetes dos principais jornais e revistas.
O princípio e a essência do que formulamos é o que se chama de capital social, expressão que nos estimulou na definição da marca deste veículo de comunicação.
Infelizmente, como se sabe, o Fórum da Cidadania virou espécie de Exército de Brancaleone, cujos soldados devem ser reverenciados pela persistência num projeto atomizado desde que antigos comandantes desdenharam que o contraponto de voluntarismo geralmente é aniquilamento, que a contraface de politiquismo é desconfiança, que o reverso de quantidade é dispersão, que o contrário de seletividade é fragilidade, entre tantos equívocos cometidos.
A ressaca do fim do Fórum da Cidadania tem mantido a sociedade regional em estado catatônico, para deleite dos oportunistas de plantão. O perigo é que a sede pela recomposição de forças possibilite invencionices com finalidades suspeitas.
Organizar esse jogo é por demais importante. Tanto a adoção de um Conselho Consultivo no organograma da Agência de Desenvolvimento Econômico quanto um Conselho da Comunidade no Consórcio de Prefeitos seriam medidas parcialmente restauradoras dos buracos deixados pelo Fórum da Cidadania dos dois primeiros anos quando, realmente, cumpriu uma das partes do enredo que deveria caracterizá-lo permanentemente: a constituição de um quadro de lideranças capaz de pressionar com inteligência e sem partidarismo as atividades públicas na região.
Vivemos momento muito especial no Grande ABC, que tanto pode desembocar em soluções pelo menos recauchuteadoras do esfarelamento institucional da sociedade como ser estupidamente dominado por gente que não tem outro objetivo senão cuidar dos próprios currais. O temário regional cede espaço cada vez maior a picuinhas varejistas. Perde-se, com isso, a dimensão do que é de fato importante em relação ao quadro socioeconômico regional. Acredita-se que vai curar o doente com aspirina.
Será que vamos conseguir nos superar em matéria de imprevidência? O livro Meias Verdades é algo para ser lido e relido exatamente porque os equívocos acumulados pelo Fórum da Cidadania e pela Câmara Regional não podem ser revividos com maquiagens marquetológicas e movimentos localizados.
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24/10/2024 UFABC fracassa de novo. Novos prefeitos reagirão?