A dificuldade de saber exatamente que tipo de mão-de-obra o Grande ABC precisa após a reestruturação econômica dos anos 90 acabou adiando a arrancada em quinta marcha do Unifórum ABC (Fórum Regional Para o Ensino Superior). O comitê encarregado de analisar a formação acadêmica na região — primeiro trabalho dessa nova instância de discussões no Grande ABC — decidiu ouvir primeiro os maiores interessados no assunto, os empregadores, para estabelecer uma pauta mais lenta, porém mais firme nas ações, segundo o reitor da UniFEI Rubens da Silva Mello.
A decisão não surpreende. Ao contrário, confirma o que os centros universitários desconfiavam e que os motivou a criar um fórum próprio de debates: a academia não conhece o parque econômico da região nem o Grande ABC sabe o que os bancos escolares têm a oferecer no campo da pesquisa e da profissionalização. “É difícil fechar uma agenda sobre como o Ensino Superior pode repensar e ajudar a região sem conhecer primeiro o Grande ABC atual” — reconhece a coordenadora do Unifórum e assessora da Universidade Metodista, Amália Fernandez Gomez. Os encarregados de fazer o fórum das universidades sair do ponto morto serão empresários da indústria e comércio, convocados para reunião neste 15 de maio. Ciesps e associações comerciais vão compor a primeira chamada de uma lista que incluirá encontros setoriais também com sindicatos trabalhistas, setor de serviços, poderes públicos e escolas de ensino médio, entre outros.
De qualquer forma, o comitê de formação acadêmica do Unifórum estabeleceu que serão pelo menos quatro os eixos prioritários de trabalho: criar canais para contatos entre universidades e empresas, verificar quais as demandas profissionais da região, estimular as parcerias empresa-escola e aprimorar a grade de ensino.
A qualidade do ensino dividiu opiniões das 10 instituições que compõem o Unifórum. Uma parte admite que não tem tido flexibilidade para acompanhar as mutações constantes do mercado e outro grupo acha que, ao contrário, deve-se continuar com formações genéricas, voltadas a grandes famílias ocupacionais. O atendimento a formações específicas poderia ficar por conta dos cursos de extensão e pós-graduação, com duração de dois anos após o diploma universitário. “O problema de adaptar a graduação às especificidades de cada atividade econômica é que há determinadas disciplinas e cargas horárias mínimas impostas pelo MEC. Além disso, temos uma infinidade de empresas na região, com tamanhos e necessidades muito diferentes” — expõe Heloísa Gomes, da Faculdade Octógono de Santo André.
Desconhecimento — É por isso que o primeiro passo será conversar com quem gera empregos na região. As universidades entendem que para dar mais ofensividade aos cursos voltados ao Grande ABC é preciso que também os agentes econômicos conheçam melhor a realidade local. Rubens Mello, da UniFEI, cita exemplo de encomenda feita por um poder público para uma escola ir à periferia dar cursos de inglês, espanhol, informática e de modelo, quando um microempresário reclamava, à época, que não tinha mão-de-obra para sua oficina de bicicletas. “Às vezes o erro está no foco do que se quer” — acredita. Amália Gomez, da Metodista, também vê falhas de conhecimento: “A Agência de Desenvolvimento Econômico foi buscar estagiários no Mackenzie, em São Paulo, e tem convidado catedráticos e mestres da USP e da PUC para palestras no Grande ABC, quando temos muita gente boa por aqui” — lamenta.
A academia não deixa de fazer mea culpa. Reconhece que permaneceu entrincheirada durante todos os anos de transformação política e econômica do Grande ABC. O temor da concorrência impediu até agora que estabelecessem essa relação ideal de pesquisas e formação profissional que atendam ao parque produtor e auxiliem as políticas públicas de revitalização regional. “Nós também não fomos até a comunidade ouvir o que queria” — resume Vitor Bittencourt, coordenador de estágios do Iesa de Santo André e incentivador da figura de um homem de marketing, essencialmente da área comercial, dentro das reitorias. Vitor conta a experiência que teve na Universidade de Mogi das Cruzes, onde foi incumbido de visitar empresas de Mogi e Suzano para ofertar cursos sobretudo de MBA. “Paramos de exportar alunos para a Capital” — conta ele.
Professores também assumem que poderiam empenhar-se mais em discutir a regionalidade. Houve menção a mestres de administração que usam em salas de aula exemplos internacionais como da Microsoft ou McDonald’s como cases de estudos, quando a região tem histórias de sucesso para contar. As reportagens de negócios e o Prêmio Desempenho de LivreMercado foram apontados como exemplo disso. Jacob Daghlian, da Fundação Santo André, parafraseou o ministro da Educação, Christovam Buarque, de que a universidade no Brasil deve ser global, nacional e regional.
Outro trabalho do Unifórum este mês será com o comitê projeto de vida, que abre as discussões sob o tema Conhecimento, Profissionalização e Realização Pessoal. O encontro está agendado para dia 22. Em junho é a vez do comitê universidade cidadã, que agendou para dia 26 painel sobre Universidade Para a Formação Cidadã. O Unifórum já registrou o domínio da marca e estrutura a página na Internet para sua divulgação. O movimento é aberto à comunidade em geral, sobretudo profissionais ligados à educação.
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