Estudos e análises sobre metropolização e regionalidade vão sofrer verdadeira reviravolta a partir deste mês com o lançamento oficial do IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos) e de índices socioeconômicos desenvolvidos para avaliar a competitividade e a eficiência dos municípios. Os indicadores serão o primeiro resultado prático dessa entidade cerebral recém-criada no Grande ABC disposta a apresentar dados e propostas para subsidiar lideranças governamentais e empresariais na busca de cidades menos vulneráveis ao duro jogo da globalização e da exclusão social.
O IEME é uma organização formada por profissionais que trabalham ou moram no Grande ABC. Desvinculada de partidarismo político, a entidade vai utilizar a imprescindível ferramenta do conhecimento para colocar o dedo na ferida da mobilização regional e fazer da informação qualitativa a principal arma para movimentar a comunidade local. A apresentação do IDEE (Índice de Desenvolvimento Econômico Equilibrado) -- exatos 40 dias após o encontro preliminar que demarcou o pré-lançamento do grupo -- já demonstra a cultura de objetividade e transparência que o Instituto planeja disseminar.
"O Índice de Desenvolvimento Econômico Equilibrado é a primeira grande vitrine de um grupo apetrechado de capital intelectual para aprofundar, numa primeira etapa, as análises sobre o Grande ABC e as regiões metropolitanas do Estado de São Paulo. Queremos quebrar o paradigma de que números são números e nada mais" -- analisa o diretor-executivo de LivreMercado e idealizador do IEME, Daniel Lima. A construção do Índice de Desenvolvimento Econômico Equilibrado reunirá dados oficiais sobre os municípios, mas não será o único a dar visibilidade inicial ao IEME. Segundo Daniel Lima, em julho a entidade vai contemplar o IEM (Índice de Eficiência Municipal), já que os levantamentos, a definição metodológica e a interpretação estão em fase adiantada.
Mais uma vez o jornalista Daniel Lima -- agora com auxílio de vários profissionais versados em estatísticas econômicas e finanças públicas -- esmiuçou dados para extrair da aparente imobilidade dos números a compreensão dos caminhos que conduziram a região à atual situação de perdas econômicas. O resultado do trabalho será traduzido em forma de ranking que permitirá desnudar o gerenciamento das 40 cidades mais importantes do Estado de São Paulo e suas respectivas ações para manter o equilíbrio financeiro ou enfrentar a queda de receitas. Os municípios listados nos dois índices em preparação concentram 70% do PIB (Produto Interno Bruto) estadual e igual percentual de população.
A metodologia do Índice de Desenvolvimento Econômico Equilibrado vai ser exposta durante a cerimônia de lançamento do IEME neste dia 25, às 11h, no Hotel Plaza Mayor, em Santo André. A construção do ranking leva em conta variáveis diversas. O cruzamento de dados fornecerá transparência e densidade necessárias para entender os mecanismos que levam as cidades a se sobressaírem em alguns pontos ou a patinarem em outros.
"É importante agregar informações que permitam fazer correlações entre cidades e regiões. Só assim se pode contextualizar e estabelecer referências para saber o que deve ser melhorado" -- explica o diretor-executivo da Target Marketing e Pesquisas e responsável pela formulação nacional do IPC (Índice de Potencial de Consumo), Marcos Pazzini. Marcos Pazzini é um dos conselheiros do IEME que integra a equipe encarregada de dar consistência aos novos indicadores.
Foco e mais foco -- O grupo que forma o Instituto ainda não está fechado. Por enquanto, são cerca de 40 representantes entre empresários, acadêmicos, funcionários públicos, jornalistas, religiosos e publicitários. Mas já é possível ter idéia da sistemática de trabalho que será imprimida para que o Instituto seja um produtor de diagnósticos bem elaborados e não se perca na retórica improdutiva.
O Instituto de Estudos Metropolitanos vai reunir as competências individuais por área de conhecimento comum. Com a estratégia, assegura o foco necessário para evitar que todos tentem fazer tudo e produzam exatamente nada. Por isso, o Conselho Gestor terá a importante função de manter a dispersão sob-rédea curta. "A entidade cerebral não se transformará em plataforma de embarque de oportunistas" -- avisa Daniel Lima.
O espaço para novos integrantes está aberto, mas a permanência será vinculada ao cumprimento de regras estatutárias. Assiduidade e produtividade terão peso preponderante inclusive como ferramentas de mobilidade à aprovação de novos membros no Conselho Gestor.
O viés fortemente propositivo também deixa claro que o IEME não vai assumir papel de salvador da pátria. Problemas que competem às esferas governamentais e empresariais devem ser solucionados pelos respectivos responsáveis. Por isso, 11 pontos foram previamente definidos como alvo de atuação. Entre os principais temas de análise encontram-se a vulnerabilidade dos pequenos negócios, logística da região, incremento da cadeia produtiva do plástico como alternativa à dependência do setor automotivo, além de reforma tributária, especialmente no que se refere à redistribuição mais justa de impostos federais e estaduais aos municípios.
O foco e a produtividade serão ainda os principais antídotos para evitar que a entidade se perca no assembleísmo. Dessa forma, evita o principal erro cometido pelas instâncias regionais e que levou o Fórum da Cidadania a estado vegetativo, o Consórcio de Prefeitos a tornar-se um clube fechado e a Câmara Regional a patinar em muitas propostas inexequíveis. "Pela primeira vez teremos um fórum que vai pensar a região longe das interferências políticas e do interesse particular de cada cidade. Hoje, quase não há referências isentas para apresentar aos investidores" -- analisa José Batista Gusmão, diretor comercial da McNew, diretor da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) e vice-presidente do Conselho Municipal de Gestão Ambiental.
A declaração de José Batista Gusmão tem a relevância de quem entende a necessidade de alimentar investidores internos e externos com estudos corretos sobre a atratividade da região. O Grande ABC perdeu 36% de Valor Agregado de ICMS -- principal indicador de atividade produtiva -- na última década e as autoridades locais nada fizeram para brecar o quadro de evasão e exclusão. Pelo contrário, refestelaram-se com estatísticas triunfalistas patrocinadas por profissionais sem qualquer envolvimento regional e correm atrás do prejuízo da omissão.
Dentro desse contexto, o IEME também agrega o valor de ter se aproximado das universidades, numa tentativa de abrir mais espaço para a conexão do mundo acadêmico com a realidade regional. "A academia tem muita contribuição a oferecer. As universidades detêm conhecimento que pode ajudar a desmistificar o canto da sereia" -- entende o professor de marketing da Fundação Santo André e da Universidade Metodista, Sergio Munhoz. "O importante é aglutinar, transformar dados em ferramentas de construção de políticas públicas benéficas à comunidade" -- emenda o reitor do Centro Universitário Fundação Santo André, Odair Bermelho.
Todas as ações do IEME estarão disponíveis em portal que será construído a partir do lançamento. A página na Internet é a primeira ação de marketing para valorizar o Instituto e está sendo construída por Artur Mainardi Júnior, da Somai, mais um parceiro na empreitada. O portal exibirá os trabalhos do IEME, bem como estudos específicos produzidos pelos conselheiros, os cases premiados do PDE (Prêmio Desempenho de LivreMercado) e os 21 artigos do livro Nosso Século XXI. A publicação foi editada também por LivreMercado no final de 2001 e reúne preciosa coletânea de textos sobre o Grande ABC. Entre os mais elucidativos, está um dos últimos artigos escritos pelo maior pensador regional, o prefeito Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002.
Embora a iniciativa seja do jornalista Daniel Lima, a Editora Livre Mercado será tratada de forma isonômica em relação aos demais veículos de comunicação. "Os dados de que já disponho poderiam ser assumidos pela nossa revista, como tantos outros que elaboramos ao longo dos últimos anos. Entretanto, entendemos que compartilhar os estudos e a divulgação de forma igualitária é muito mais importante como elemento de mobilização em torno das causas metropolitanas do que ter a exclusividade das informações. Os números básicos e as informações serão distribuídos para toda a mídia, sem privilégio. A partir daí, entretanto, caberá a cada veículo de comunicação dar o desdobramento que for mais compatível com seus interesses editoriais" -- afirma Daniel Lima.
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