A Universidade do Empreendedor prevista para os próximos 18 meses por algumas entidades e pelo projeto Autovisão Brasil, do Grupo Volkswagen, é mais uma prova provada de que o Grande ABC não tem estratégia e sinergia institucional e, como barata tonta em galinheiro, procura safar-se de qualquer maneira do encalacramento a que foi submetido por inércia interna e descaso extraterritorial.
A escola anunciada pelo Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo), Instituto JK e Autovisão Brasil conta com apoio da Agência de Desenvolvimento do Grande ABC e de algumas escolas superiores, casos da Umesp (Universidade Metodista do Estado de São Paulo), Uniban (Universidade Bandeirante) e Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana).
A ideia é interessante e embora não passe ainda exatamente disso — de ideia — poderia ser melhor aproveitada se fosse retirada do individualismo com que se pretende concebê-la e se juntasse ao organograma da anunciada Universidade Pública Federal do Grande ABC.
Insistimos em afirmar que só existe uma alternativa para a escola superior prometida pelo presidente Lula da Silva sair intempestivamente do meio da fila de prioridades da região para ocupar quase que como pirata um dos primeiros postos na luta pela recomposição socioeconômica do outrora efervescente Grande ABC: se houver discernimento dos planejadores do perfil da escola em entender que diplomas convencionais não nos interessam e que, portanto, temos de correr atrás de cursos técnicos compatíveis com nossa potencialidade industrial.
A Universidade do Plástico, formato que defendemos, é a chave da ignição de uma arrancada há muito esperada. Por isso, cursos de empreendedorismo numa grade mesmo que informal seriam bem-vindos.
Longe de mim supor que o deputado federal Vicentinho Paulo da Silva, ao que parece patrono da Universidade do Empreendedor, esteja atuando em sentido contrário ao da lógica de integração dos dois projetos. Entretanto, como participou do encontro com o presidente Lula da Silva, que culminou com a promessa da Universidade Federal na região já a partir do ano que vem, suponho que poderia ter tido a iniciativa de sugerir esse ganho de escala.
Afinal, a pretendida Universidade do Empreendedor teria custo de implantação de R$ 26 milhões e abrigaria até 1,8 mil alunos em turmas de três meses a um ano e meio. Já a Universidade do Grande ABC, no auge da ocupação educacional de mais de 20 mil alunos, teria orçamento anual de R$ 150 milhões.
Sem medo de errar, diria que a Universidade do Empreendedor terá sustentabilidade de formação e, principalmente, de ocupação prática dos formandos, desde que o horizonte que se desenha para o Grande ABC, de elevação da produção da cadeia plástica a partir da Petroquímica União, não se converta em frustração.
É indispensável, portanto, que a PQU tenha mesmo o cronograma de investimentos assegurado pela Presidência da República e reafirmado pela Petrobras. Apesar do entusiasmo do presidente Lula da Silva, sabe-se que seus poderes são limitados. A Petrobras, cuja estatocracia é sólida, é osso duro de roer na formulação de preços de matérias-primas das quais a PQU depende para iniciar a arrancada desenvolvimentista sobremodo com o incremento da terceira geração da cadeia industrial, formada por pequenas e médias empresas de transformação de plástico.
Outras matrizes industriais poderão ser rigorosamente avaliadas e incentivadas para recompor as perdas do Grande ABC e, com isso, acrescentar camadas de esperança ao empreendedorismo privado; entretanto, como não temos tempo a perder, a sensatez sugere que devemos plantar os pés com firmeza na indústria do plástico até mesmo como estratégia para impulsionar outros setores. Precisamos reativar a autoestima regional sob bases legítimas, sem pamplonices. Por isso mesmo, a Universidade do Empreendedor depende de um plano estratégico regional que passa obrigatoriamente pelo tiro certeiro da escolha conceitual da Universidade Pública Federal.
Até porque não há mágica no mundo dos negócios — diferentemente, como se sabe, do universo governamental, onde historicamente, à falta de engenho operacional e de juízo gerencial, recorre-se perdulariamente ao agigantamento da carga tributária.
Se não houver um território econômico propício à aplicação prática de conhecimentos teóricos e técnicos que supostamente seriam adestrados na Universidade do Empreendedor, provavelmente nem os mais gabaritados gurus internacionais conseguirão encontrar fórmulas que assegurem o incremento de riqueza.
Os proponentes da Universidade do Trabalhador precisam entender, portanto que, da mesma forma que não são os canudos universitários tradicionais ou mesmo mais integrados à produção que garantem desenvolvimentismo, não será a habilitação formal que conferirá o selo de empreendedorismo vitorioso aos formandos. Sem crescimento econômico não existe o resto.
Por isso, qualquer modelo que saia da prancheta do Grupo dos 16 escalados para esquadrinhar a Universidade Pública Federal não pode chocar-se com a lucidez. Voluntarismos, demagogismos, estrelismos, individualismos, corporativismos, academicismos e politiquismos custariam muito caro.
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11/11/2024 GRANDE ABC DOS 17% DE FAVELADOS