Sociedade

Cadê o Unifórum e a Agência
na comissão da universidade?

DANIEL LIMA - 01/06/2004

Há outras vítimas institucionais do açodamento com que foi concebido o grupo de 16 membros que supostamente definirá o perfil da Universidade Pública Federal do Grande ABC. Tanto a ausência da Agência de Desenvolvimento Econômico como do Unifórum se soma ao buraco dos setores químico-petroquímico, automobilístico e de autopeças como disparates do Consórcio de Prefeitos e da Câmara Regional, aos quais foi reservada a incumbência de selecionar agentes debatedores.


A comissão dos 16 que só contempla uma vaga ao setor empresarial — entregue à institucionalmente omissa Acisa — reproduz simbolicamente todos os vieses antimercado de parte das lideranças políticas que estiveram no gabinete presidencial em Brasília.


O não chamamento da Agência de Desenvolvimento Econômico comandada pelo executivo da Petroquímica União Jorge Rosa e pelo executivo público Paulo Eugênio Pereira, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Mauá, tem procedência simétrica com o anúncio de um velório sem o corpo do morto.


É preciso ser extremamente descuidado para cometer tamanha sandice. Não fosse pela instituição em si, importantíssimo braço de uma regionalidade mambembe, no mínimo pelos dois representantes. Jorge Rosa e Paulo Eugênio Pereira colecionaram nos últimos anos mais que alguns álbuns de experiência práticas de desenvolvimento industrial.


Já o Unifórum é uma ainda vacilante mas importantíssima tentativa de gestão coletiva das universidades particulares da região ultimamente mais interessadas em integrar-se à dinâmica regional. O escanteamento de uma atividade cuja tradição de alheamento à problemática comunitária, empresarial e governamental sempre se ressaltou como pecado capital é a confirmação tácita da outra face dessa moeda histórica, ou seja, de que a interlocução também é frágil por parte dos demais protagonistas.


Universidade e mercado, universidade e governo, universidade e comunidade são tabelinhas que não se efetivaram ao longo dos tempos porque tanto um como outros preferiram manter distância, provavelmente com medo de algum tipo de contágio conceitual.


Vivo estivesse, o prefeito Celso Daniel teria reagido prontamente ao descaso do Consórcio de Prefeitos. Primeiro porque a Agência de Desenvolvimento Econômico é uma de suas marcas registradas em busca de uma regionalidade praticamente improvável. Segundo porque ele sempre batia na mesma tecla de aproximar o poder público da academia.


Justamente quando se apresenta a bola pingando na área da criação de uma escola superior gratuita, quem tem a responsabilidade de gerenciar um grupo de trabalho de alta qualificação técnica se mostra tão irritantemente despreparado.


Sabe-se por informações de bastidores que o tempo passa tão celeremente que a comissão dos 16 proposta pelo Consórcio e pela Câmara Regional (aliás, a inclusão da Câmara Regional é uma falácia, porque se trata de organismo ficcional) não consegue se acomodar no saco de gatos de interesses distintos e conflitantes.


É muito provável que a prefeita de Ribeirão Pires, Maria Inês Soares, supostamente a apontadora das entidades que indicariam os membros da comissão, entregará os pontos ao Ministério da Educação para que determine o desenho da escola, como ela mesma admitiu na semana passada ao tomar conhecimento do bafafá pela proposição de nomes.


É evidente a cota de culpabilidade da prefeita, também presidente do Consórcio. A receita desandou porque seguiu um ritual permeado de democratismo, filhote de assembleísmo.


Os disparates dos desdobramentos da surpreendente receptividade do presidente Lula da Silva à implementação da Universidade Pública do Grande ABC estão sincronizados com a cronologia que liga ação e reação.


À iniciativa do presidente da República preocupado com sua biografia regional se deu a barafunda de um colegiado de autoridades que jamais poderiam supor que todo o proselitismo sobre a escola superior fosse colocado em xeque pelo pragmatismo presidencial.


Tanto é verdade que, diante de comitiva regional boquiaberta que adentrou o gabinete de Lula da Silva, o ministro da Educação, Tarso Genro, ofereceu aos visitantes o socorro vexatório de um esboço de universidade pública federal prêt-à-porter. O Grande ABC que reivindicou uma escola superior em Brasília excedeu-se na imprevidência de colocar o carro à frente dos bois. Sim, o sensato seria adentrar ao gabinete presidencial com um projeto curricular da instituição e um cronograma de implantação de cursos de acordo com os recursos financeiros disponíveis.


Infelizmente, o grupo dos 16 indicados pelo Consórcio de Prefeitos é apenas o rabo de um bicho-de-sete-cabeças de uma institucionalidade regional que só existe para os demagogos de plantão.


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