Sociedade

Universidade é prova
de Consórcio enclausurado

DANIEL LIMA - 15/06/2004

O segredo de Polichinelo que caracterizou a fase de composição do chamado grupo dos 16 que estará reunido nesta terça-feira para debater a formatação curricular da Universidade Federal do Grande ABC consolida o nocivo enclausuramento institucional do Consórcio de Prefeitos. É evidente que esse escopo não combina com o regime democrático.


A prefeita de Ribeirão Pires, Maria Inês Soares, pouco habilitada a articulações intergovernamentais da própria administração pública para a qual foi eleita há quase oito anos, trata a questão como associação partidária e aceitação tácita de lobismos acadêmicos.


Não é surpresa que a integração regional orquestrada por Celso Daniel principalmente no segundo mandato seja neste ano eleitoral não mais que estilhaços de personalismos envaidecidos. O problema maior é que justamente quando se apresenta a oportunidade de conferir a uma obra desnecessária, no caso a Universidade Pública, um mínimo de organicidade e utilidade, os meios se mostram tão frágeis.


O que sairá desse primeiro encontro de amigos mais chegados do Consórcio de Prefeitos só Deus sabe. Será que representantes do grupo dos 16 vão conseguir o milagre reverso de transformar limonada em limão? Sim, porque é tão escancaradamente evidente o futuro da produção sobre o qual teríamos vantagens inegáveis — como é o caso do setor de transformação de plástico — que qualquer opção diferente conferiria à decisão o inverso da metáfora de tornar limão limonada.


Não pensem os leitores que ao expor a proposta da indústria do plástico como prioridade das prioridades dos primeiros cursos da Universidade do Grande ABC estamos advogando em causa própria para ser coerentes. Somente imbecis juramentados seriam capazes de tamanha desfaçatez interpretativa. Basta dizer que aquela Reportagem de Capa decorre de pesquisa de campo realizada por consultoria especializada e contratada pelo Consórcio de Prefeitos e Câmara Regional. O contrato foi firmado há quatros anos exatamente para encaminhar um futuro industrial compatível com os desafios de exclusão social e empresarial desta região.


O que fizemos de fato em duas ocasiões e sempre como Reportagem de Capa foi impedir que os gastos com aqueles estudos se transformassem em prejuízo mais que monetário.


O esquecimento daquela iniciativa já estava praticamente decretado pela insolvência administrativo-estratégica do colegiado de prefeitos a bordo do Consórcio. O primeiro ressuscitamento daqueles dados estatísticos e das avaliações da Maxiquin, a consultoria contratada para levantar a realidade do setor de plástico do Grande ABC, se deu com a Reportagem de Capa de maio de 2003.


Naquela oportunidade, fomos a fundo na sensibilização típica do jornalismo que rompe com a informação convencional do tipo Pilatos. A oportunidade de ressuscitamento, a bordo da Universidade Pública do Grande ABC com que o presidente Lula da Silva resolveu nos presentear, ganha sim configuração de cobrança. Não podemos mais aceitar que condutores dos cordéis gerenciais públicos, privados e sociais da região repitam a apatia do desinteresse e do despreparo explicitada em tantas outras questões.


A sociedade regional tem-se mantido afastada quase que de forma covarde de questionamentos substantivos dos problemas que atravancam o desenvolvimento sustentável. Essa anomia sacraliza os desmandos e as arbitrariedades de agentes políticos, econômicos e sociais que se acham donos do pedaço, mas que de fato não praticam outra modalidade senão a de levar vantagem de tudo — mesmo que isso custe muito caro, como tem custado para um Grande ABC de PIB industrial solapado em dois quintos de sua potencialidade durante o governo Fernando Henrique Cardoso.


O modelo do Consórcio de Prefeitos é um baú que precisa ser atirado ao lixo porque permite, entre outras barbaridades, a manipulação descarada de composição de um agrupamento de supostos iluminados que determinariam para onde caminhará um empreendimento educacional cujo custo orçamentário para os cofres da União, e que portanto é dinheiro da população, poderia nos permitir a programação de um Plano Marshall sobre o qual escrevemos já há muito tempo.


Como a grandeza de Celso Daniel faz falta no setor público do Grande ABC. Como nos apequenamos nas tratativas colegiadas. Como há usurpadores de plantão imaginando-se dignos herdeiros do único gerenciador público local que colocava o Grande ABC na verdadeira dimensão de suas realidades, sem fronteiras atávicas criadas por um emancipacionismo desvirtuado e comprometedor de ganhos sistêmicos.


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