Sociedade

Radar neles!

DANIEL LIMA - 26/09/2004

Os demagogos de plantão que contrapuseram metralhadoras partidárias à política de humanização do trânsito devem estar com o rabo entre as pernas. Como não, se os números de acidentes e vítimas nas ruas dos municípios do Grande ABC desabaram em relação aos tempos sem regras e de carnificina liberada?


Não faltaram os oportunistas de sempre que até campanha eleitoral fizeram e ainda fazem sobre escombros de supostas vítimas da propalada fúria arrecadatória. Eles representam minoria sempre barulhenta que, ao sequestrar a mídia desatenta, transforma o que é vantagem de poucos em flagelo de suposta maioria.


Não faltarão os idiotas de sempre que vão tentar tergiversar e lançarão a questão no lodaçal em que são especialistas, ou seja, no campo eleitoral, e, assim, tentarão distorcer a essência deste texto. Escrevo como motorista exemplar que também já foi colhido por uma ou outra infração detectada por radares nem sempre à vista dos olhos e sobre os quais, aliás, os opositores das medidas de erradicação dos maus condutores de veículos deitam falação. Que os radares sejam explícitos ou implícitos, escondidos ou às claras. O que interessa mesmo é que, independentemente do modelo de autuação, os motoristas sejam rigorosos consigos mesmos.


Desde o princípio, mesmo com inegáveis imperfeições que redundaram em excesso de arrecadação, perfilei favoravelmente aos radares, às lombadas eletrônicas, a tudo que significa paz no trânsito. Cedi inclusive minha imagem para campanha pública, sem cobrar contrapartida e sem qualquer interesse exceto de exercer o direito de cidadão que dirige com respeito ao próximo e que, mesmo se reconhecendo muito melhor que a média, precisa ser constantemente lembrado também sobre os riscos financeiros de eventuais desatenções sobrerrodas. Já imaginaram, então, o que se passa entre os motoristas arrivistas?


Se tivesse que dar um conselho aos eleitores neste 3 de outubro, entre tantos que já fiz imprimir neste espaço, seria no sentido de que joguem no lixo os panfletos e os candidatos que propagandeiam mensagens contrárias aos radares. Mesmo contra eventuais radares abusados. Antes o excesso de arrecadação temporal, sujeito portanto a correções, do que a abundância constante e destruidora dos acidentes.


Quanto custa uma vida? Muito, muito mais que qualquer pecaminosa vocação arrecadatória a ser reparada. A OMS (Organização Mundial de Saúde) anunciou recentemente que o mundo registra por ano 1,2 milhão de mortes no trânsito, o dobro do número das vítimas de homicídios, que ocupa o segundo lugar no ranking. O trânsito é a primeira causa de morte violenta, a segunda entre pessoas de 5 a 29 anos e a terceira na faixa de 30 a 44 anos.


Além desses números escabrosos, 50 milhões de pessoas são feridas por ano, muitas das quais com graves sequelas. Os prejuízos estimados chegam a US$ 518 bilhões, o que equivale ao PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, ou seja, de tudo o que se produz no País ao longo de um ano.


Trânsito é problema de saúde pública mundial. Os estudos da Organização Mundial de Saúde escancaram a estupidez típica de países em desenvolvimento, como o Brasil, ao constatar que a maior concentração de vítima está exatamente nesses endereços convidativos ao vale-tudo incentivado por péssimos políticos.


Pior que os números atuais são as projeções para os próximos cinco anos: as mortes podem aumentar 80%, superando a previsão de avanço da AIDS e da tuberculose. O mundo em desenvolvimento conta com 20% dos veículos, mas representam 90% das mortes no trânsito.


A coragem do ex-prefeito Celso Daniel contribuiu decisivamente para que o Grande ABC hoje com um todo (ou quase um todo, já que São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não adotam medidas semelhantes) contasse com políticas públicas que reduzem fortemente a inquietação de quem dirige ou tem parentes próximos e amigos em trânsito.


Somente o arcaísmo de falsas lideranças que assumiram a repercussão seletivista de confronto à iniciativa ajuda a explicar certo grau de estigma que ainda envolve os desdobramentos daquela decisão.


Mas, acreditem, é uma minoria muito mais insignificante agora do que antes, quando se instrumentalizou a ressonância maquiadora dos fatos. Sim, naquele início de ações coercitivas logo premiadas internacionalmente, o então prefeito Celso Daniel e seus principais assessores tomaram duas medidas conjuntas: reduzir os pontos negros que exigiam reparos e aferir permanentemente a satisfação do público por meio de pesquisas. E os números sempre avalizaram o amadurecimento da sociedade.


Os barulhentos de sempre, contra todos e a favor de seus mesquinhos objetivos, acabaram desmoralizados, embora alguns, mais estúpidos que outros, insistam em estender essa bobagem às eleições.


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