Sociedade

Marmitas obscuras

DANIEL LIMA - 31/07/2007

Uma nota publicada na concorrida seção “Radar”, da revista Veja desta semana, trafega entre o intrigante e o desafiador.


Explico, não sem antes reproduzir o texto sob o título “Fora da cadeia”. Leiam:


Amigo de Mário Covas e Geraldo Alckmin, o empresário Sérgio De Nadai já dominou o fornecimento de refeições para os presídios paulistas. Nos últimos tempos, vem perdendo concorrências nesse setor. Na gestão de José Serra, passou a tentar diversificar sua clientela na iniciativa privada.


A notícia, lida com criticidade razoavelmente atenta, conduz a dois tipos de raciocínio:


a) De fato, Sérgio De Nadai, uma das maiores fortunas e também um dos maiores egos do Grande ABC, desses de olhar para o interlocutor como quem se sentisse um deus do Olimpo, estaria em maus lençóis com o governo do Estado. Nada mais complicado porque, como se sabe, Sérgio De Nadai construiu a fortaleza empresarial na copa e na cozinha dos tucanos, depois de ingressar timidamente nas contas públicas no último ano do mandato do governador Fleury Filho.


b) A nota não passaria de algo deliberadamente plantado com o objetivo de colocar Sérgio De Nadai em situação de estudadíssimo enfraquecimento público e, com isso, evitar que haja pressões que visariam atingir a estrutura de negócios público-privados do governo tucano e seus aliados tradicionais.


Por via das dúvidas, nada melhor do que esclarecer a situação. Como? Simples: liguei para Donisete Braga, um dos nove representantes do Clube dos Deputados do Grande ABC na Assembléia Legislativa, e lhe fiz a seguinte sugestão: por que não preparar um requerimento ao governo do Estado e solicitar detalhadamente como se dá, desde o último ano de mandato do governo Fleury Filho, a conta-presídio das empresas de refeições coletivas, as marmitas, ou as quentinhas, como é popularmente conhecida a alimentação do setor que mais cresceu durante os 12 anos de administração do PSDB no Estado de São Paulo, já que de 60 mil passou para 180 mil o número de presidiários paulistas?


Que tal, sugeri a Donisete Braga, um deputado trabalhador de fato, incluir nesse requerimento o máximo de questionamentos sobre a realidade dos números das marmitas dos presídios?


Por exemplo: entre o último ano de governo de Fleury Filho e os subsequentes de Mário Covas, Geraldo Alckmin e agora de José Serra, quem entrou e quem saiu desse mercado pra lá de rentável?


Qual era a participação de cada empresa em diversos períodos?


Qual foi a evolução do preço das marmitas e de outros alimentos servidos aos presos?


Há tantas perguntas a serem feitas e tantas dúvidas a serem retiradas que provavelmente o deputado do Grande ABC possa até contar com a assessoria de um especialista na área, que não esteja comprometido com nenhuma das empresas que servem o governo do Estado. Qualquer representante comercial de uma das empresas do segmento poderá abastecer o deputado com providenciais sugestões que seriam encaminhadas ao governo do Estado.


Enfim, o que preciso saber diz respeito a preocupação dupla: de um lado com a saúde financeira de uma empresa com fábrica de alimentos em Santo André (a sede foi transferida gataborralheirescamente para a Capital); de outro com a saúde financeira dos cofres públicos, nutridos, como se sabe, de uma montanha de impostos dos setores produtivos.


O deputado estadual Donisete Braga prometeu que vai preparar ainda nesta semana o requerimento às autoridades competentes. Acho que há alguns indicadores que precisam ser devidamente esclarecidos para que não se compre sanduíche por refeição.


O empresário Sérgio De Nadai não pode ser escanteado pelo governo do Estado, se de fato estiver sendo, caso os preços que apresente sejam os melhores da praça. E se for escanteado porque os preços não são os melhores da praça, é preciso investigar desde quando.


Longe de mim qualquer tipo de perseguição contra quem quer que seja, mas fiquei condoído com Sérgio De Nadai. A notinha da Veja, se não for uma nota fria, dessas que se repassam para enganar os leitores, utilizando o jornalista como boi de piranha, é uma nota que vale a pena ser esclarecida. E, em ambos os caos, também merece ser investigada.


Conto com o deputado Donisete Braga. Aguardem os próximos capítulos porque se há uma atividade de relacionamento entre o setor público e o setor privado que merece atenção redobrada é essa das marmitas.


O empresário Sérgio De Nadai, que, ao que consta, felizmente abandonou a idéia de candidatar-se à Prefeitura de Santo André, já que teria dificuldades para vencer a eleição de síndico do prédio em que mora, até porque por lá descansa Raimundo Salles, também poderia prestar esclarecimentos aos leitores sobre a verdade dos números dos negócios que o ligam ao Poder Público.


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