Quando as eleições forem embora, quaisquer que sejam os resultados, de primeiro ou possivelmente de segundo turno, vou lançar um projeto fadado ao fracasso porque fracasso é sinônimo de Grande ABC tanto quanto desindustrialização, mandachuvas, mandachuvinhas, Complexo de Gata Borralheira e tudo o mais.
Perguntaria o leitor mais atrevido ou mais curioso, para não dizer também mais desafiador, a razão de um jornalista lançar alguma coisa em forma de sugestão (é disso que se trata) se, de antemão, afirma que a proposta está condenada ao fracasso.
Minha resposta é simples: só quero confirmar o que já sei, mas sempre guardando a esperança de que, quem sabe, um acidente de percursos social manifestar-se de tal forma a ponto de gerar algum resultado positivo?
POLARIZAÇÃO INVIABILIZA
Não vou revelar agora o que tenho em mente porque o que tenho em mente não pode ser desperdiçado em forma de atenção quando radares cognitivos da sociedade estão direcionados à disputa do próximo domingo.
Tudo se converge especialmente à disputa presidencial. Os demais cargos, e as pesquisas indicam isso, são apenas ou quase apenas variáveis obrigatórias. Inclusive para governador do Estado. A polarização federal virou um inferno. Ciro Gomes está conhecendo em cores e ao vivo o tamanho da Velha Imprensa em matéria de safadezas e discricionaridade.
Tanto é verdade que as demais eleições não são lá essas coisas que a última pesquisa do Datafolha indicava que mais da metade do eleitorado não respondeu em quem votaria antes da apresentação da cartela de sugestões, o chamado voto estimulado.
DERROTA GARANTIDA
O que posso adiantar aos leitores é que a proposta que já tenho engatilhada e sobre a qual nutro a maior desconfiança possível de que não dará em absolutamente nada é uma revolução em forma de comunicação em rede com desenlace em medidas presenciais.
Ainda não tenho o formato definitivo do conjunto da obra, até porque acho que isso deve ser ação coletiva.
Entretanto, algumas pinceladas aqui e ali já providenciei no sentido de dar algum norte aos objetivos programados. A estrutura conceitual está prontíssima, isso é o que interessa.
FÓRUM DA CIDADANIA
Se der certo (e não dará, podem acreditar) o que teríamos seria algo que superaria o maior fenômeno socioinstitucional já vivido pelo Grande ABC.
Estou me referindo ao Fórum da Cidadania, lançado em 1994 e que, num primeiro impacto, proporcionou a maior bancada (bancada é força de expressão, claro) de deputados estaduais e federais da região. Elegemos 14 candidatos. Um feito jamais repetido.
Para se tornar muito maior que o Fórum da Cidadania da metade dos anos 1990, movimento que morreu de morte morrida antes que o novo século aparecesse no horizonte regional, o que pretendo lançar como curiosidade mobilizadora conta exatamente com as redes sociais, ou usuários mais prospectivos de redes sociais.
OUTROS TEMPOS
Nos tempos do Fórum da Cidadania os avanços tecnológicos eram tantos que a maior novidade da praça mundial era a incipiente Internet.
Os aparelhos de fax predominavam nas comunicações corporativas. Telefonia celular mal se sustentava entre alguns poucos da elite econômica ou de conchavos com os poderosos de plantão.
Potencialmente, portanto, levando-se em conta a proximidade e a intimidade que os aparelhos de celular proporcionam, entre outras inovações tecnológicas colocadas à mão de todos ou quase todos, o que pretendo sugerir à praça regional é uma barbada.
REALIDADE SEGMENTADORA
Mas, paradoxalmente, é aí que reside o maior problema. Que problema? Estamos vivendo tempos de excesso de informações, de excesso de fontes de informações, de excesso de deformações de fontes de informações, de excessos de antagonismos políticos e ideológicos, de excessos de estrelismos de gente inútil que ganhou a marca de influenciadores. E também de excessos de gulodices diversas.
Ou seja, e trocando em miúdos: somos uma sociedade atomizada e com baixa capacidade resolutiva porque a dispersão passou a constar do figurino antissocial, quando a expectativa era exatamente o contrário. No caso regional, a baixíssima mobilidade social incremente fratricida disputa por espaço.
PROCESSO DEFINIDO
Mas, mesmo contra tudo o que está aí em forma de divisionismos, não bastasse o gataborralheirismo do Grande ABC, mesmo com tudo isso e sabendo como sei que não temos futuro pelo menos numa escala de tempo de uma década, vou fazer a proposta assim que o calendário eleitoral for esgotado.
Vou mais longe: além de fazer a proposta publicamente vou proceder à deflagração do processo, porque nada me impediria nesse sentido.
Devo confessar aos leitores que estúpido não sou ao me apresentar como derrotado numa ação que se pretende reformista mesmo.
Já foi o tempo em que era apenas e unicamente o bobo da corte regional, acreditando como sempre acreditei que jornalismo sério e independente fosse a porta de entrada à adesão de gente séria e competente.
CHEGA DE ROMANTISMO
Meu grande erro foi imaginar que haveria na praça regional mais gente disposta a arregaçar as mangas da responsabilidade social publicamente, sem medo de retaliações.
Já que o Grande ABC é o suprassumo da inviabilidade de capital social, expressão que define associação e cooperação entre Poder Público, Mercado e Sociedade, vamos tratar de mostrar isso na prática.
Ou então, numa reação que não consta de qualquer léxico de compromisso regional, surpreendentemente apareceria consumado em forma de mobilização.
No fundo o que pretendo mesmo e para tanto vou lançar o projeto é provar e comprovar que somos uma constelação improdutiva de quase três milhões de habitantes.
DIVIDIR O FARDO
Constelação improdutiva no sentido institucional, de defesa de medidas que poderiam mudar o futuro que sempre chega e que chegou para quem há 32 anos, somente neste endereço editorial, cansou de cantar as bolas do fracasso estabelecido.
A razão da proposta que farei é dividir o fardo da derrocada que vivemos, porque nada é pior do que se sentir fracassado sozinho quando se trata de olhar para os sete municípios e ver o que vejo em forma de desalento, despreparo e de repetições de falácias institucionais, além de bajulações em torno de supostas lideranças políticas e sociais que não passam de sanguessugas.
O projeto que vou lançar e do qual não tenho dúvida alguma do fracasso (guardem isso para não dizerem que sou romântico) contará inicialmente com um determinado grupo de parceiros que, provavelmente, compartilharão do mesmo sentimento de inutilidade coletiva do Grande ABC.
SELETIVIDADE ELEITORAL
Seremos uns otários juramentados com a missão de acabar com a farsa de um regionalismo patético.
Um regionalismo que só se mostra regional de verdade, com perdão da redundância, e mesmo assim com escaramuças inconciliáveis, quando candidatos locais fazem acordos com representantes de outros municípios igualmente locais.
Não passamos de uma regionalidade eleitoral seletiva, centralizada nos mesmos de sempre.
Já selecionei 10 nomes de gente que respeito, mesmo com eventuais divergências, para deflagrar conjuntamente a nova derrocada de um pequeno batalhão de brancaleones em busca da regionalidade indispensável. Aguardem.
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20/09/2024 O QUE VAI SER DE SANTO ANDRÉ?