O Grande ABC é uma extensa área demográfica de talentos individuais desperdiçados e igualmente mas em proporções práticas muito mais graves de coletivismo improdutivo.
Como resolver essa equação de modo que na metade deste século, um pouco mais, um pouco menos, um sentimento generalizado de autoconfiança sustentável prevaleça?
A resposta não é simples, nem fácil, e muito longe também de ser automática, mas a resposta existe na perspectiva de quem ainda acredita na capacidade humana.
A constatação de que temos talentos individuais é de quem há muito tempo acompanha os rumos da sociedade regional no coletivo inercial de improdutividades e lamenta muito porque detecta individualidades potenciais que poderiam mudar o jogo de perdas acumuladas de qualidade de vida a reboque dos destroços econômicos.
FRAÇÃO PODEROSA
Andei fazendo umas contas contidas e cheguei à conclusão preliminar de que não precisamos de mais do que de 0,1% dos quase três milhões de habitantes para iniciar-se nova jornada regional.
Uma jornada que dê um drible da vaca no ambiente de polarização nacional e de inapetência regional.
Uma jornada que se debruce sobre um projeto de liberalismo social, que consiste na valorização da livre-iniciativa e no fortalecimento de laços sociais direcionados aos excluídos.
Não custa lembrar que temos o equivalente à população inteira de São Caetano e de Diadema de gente que está no último estrato social, vivendo muito aquém do mínimo necessário.
NORDESTÃO MESMO
Temos um Nordestão aqui e não nos damos conta disso. Mesmo quando nosso Nordestão aparece nas urnas eleitorais presidenciais.
Não custa lembrar também que somos uma fábrica de empobrecidos porque de alguma forma e de muitas formas o Estado no formato de União, Estados e Municípios prevalece nas políticas públicas sem o acompanhamento crítico e saudável da sociedade que só é organizada em editorias da mídia que não enxerga a face claríssima e preponderante de servilismo.
Imagino o que chamaria de Clube dos 300 (a fração de 0,1% da população geral) cujo escopo de atuação estaria centralizado numa agenda econômica diretamente relacionada à região e, igualmente, uma agenda voltada aos pobres e miseráveis.
Nada, absolutamente nada, que contivesse populismo doutrinário de assistencialismo demagógico.
NOS ARQUIVOS
Tenho nos arquivos de aplicativos de smartfone gente suficiente para (somada ao conhecimento pretérito à introdução da tecnologia nas relações humanos) multiplicar-se em ações.
Essa geração mais conservadora em termos de comunicação seria indispensável à associação de forças porque carrega um passado de experiências e frustrações que moldariam medidas contenciosas a novas-velhas recaídas.
Observo atentamente o movimento nas redes sociais que dizem diretamente à presença de individualidades do Grande ABC e lamento entre outros pontos que a pauta se deslocou gravemente ao ambiente nacional e, suplementarmente, ao ambiente estadual.
BAIXA PARTICIPAÇÃO
Há baixa participação dos problemas municipais e regionais do Grande ABC no cotidiano das redes sociais prevalecentemente de integrantes da região.
Mas o que parece o caos em forma de desintegração regional ainda mais acentuada pode se tornar possibilidade de virar uma fonte de inspiração e participação.
É possível que trabalho bem engendrado converta dispersão em integração.
Basta para tanto que se definam os principais focos de atuação de uma organização coletiva voltado ao empreendedorismo e ao socialismo assistencial.
GUIZO NO GATO
Empreendedorismo privado, claro, mas nada que exclua poderes públicos locais de agirem semelhantemente, em convergência com uma grande reviravolta no placar. O liberalismo-social é isso, e, portanto, precisaria ser ativado.
A grande e irresistível pergunta que se faz é quem vai colocar o guizo da integração econômica e social no pescoço de uma regionalidade pífia, maltratada e politizada?
O Clube dos 300 precisaria ser ativado como meta inicial de transformações profundas de que o Grande ABC tanto necessita.
COOPERAÇÃO E TRABALHO
Mas o Clube dos 300 só seria Clube dos 300 se partisse de uma base menor, sólida, cooperativa e obreira que visse as próximas gerações do Grande ABC como dogma de responsabilidade social.
Sem que algo de muito extraordinário ocorra a levar o caudal de demandas mais que evidentes às águas de uma regionalidade precificada em forma de liberalismo contemporâneo e socialismo pragmático na área assistencial, tudo se perderá num desenho lógico de anseios e frustrações.
Temo que vamos continuar a navegar nas águas pouco profundas de interesses coletivos. Temo que seguirão a prevalecer o individualismo e articulações de grupos descolados do conjunto da obra maior que se chama sociedade.
Temo que seguiremos tendo fragmentos de poderes que insistirão em se perpetuarem até que as próprias forças sejam apeadas do poder por novos grupos igualmente de baixo grau de solidariedade e atenção.
Um projeto bem articulado que prime pelo coletivismos de organização, pela discrição individual dos participantes, pela esterilização possível do ambiente nacional excessivamente polarizado e muito mais algumas coisas, eis o Clube dos 300 numa argamassa de probabilidade.
HERÓIS E VILÕES
O Grande ABC não precisa de heróis e tampouco de vilões. Até porque nem sempre os heróis são heróis de fato e os vilões o são igualmente.
Quem é mais útil à sociedade do Grande ABC, pergunto eu: um jornalista que combate a inoperância generalizada das instituições, sempre fundamentado em dados históricos e ações igualmente sedimentadas, ou um agente público que insiste num discurso triunfalista, contraditório, politizado, ideologizado, embora com a finesse de declarações brandas, como é o caso do atual presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, o sindicalista Aroaldo de Oliveira?
Insisto na pergunta. Sugiro aos leitores que repouse os olhos e a mente no trecho anterior, programadamente longo, de fôlego único. Quem é muito mais útil à sociedade, repito a pergunta?
LATA DO LIXO
No ambiente atual em que se encontra a parte mais influente de decisões públicas, provavelmente o titular da Agência de Desenvolvimento Econômico seja aplaudido, porque seria politicamente correto aplaudi-lo.
Uma sociedade com que sonho, e que teria como extrato o Clube dos 300, aquelas declarações ao jornal Repórter Diário não teriam vez, porque inconsistentes e de baixíssima responsabilidade social.
Diria mais: numa nova sociedade regional, em que os valores individuais estariam conectados aos interesses coletivos, aquelas declarações de Aroaldo Oliveira seriam lançadas à lata do lixo da historiografia econômica e social, mas ele, necessariamente, não seria descartado.
OUTRA SITUAÇÃO
Possivelmente o chefe da ficcional Agência de Desenvolvimento Econômico seria uma peça utilíssima num contexto em que agradar aos olhos e ouvidos seria estupidez à saúde mental, à alma e ao bolso.
Alguma coisa precisa ser feita no Grande ABC para que as próximas gerações tenham perspectivas de vida diferentes das últimas décadas, impiedosamente castigadas pela contínua perda de mobilidade de classes.
Chegamos provavelmente ao limite do suportável de engessamento social. Ricos e classe média são cada vez porções menores no conjunto da sociedade regional. Pobres e miseráveis, mesmo que reduzidos em participação relativa, têm filões de recursos financeiros inferiores aos registrados antes da virada do século.
A mobilidade social do Grande ABC é uma roda que gira de forma realista como gira de forma ilusória a roda de uma carruagem nos filmes de caubói – sempre para trás.
O Grande ABC se transformou em rodas de carruagens de desilusão e de divisionismos que afetam o conjunto da sociedade.
Precisamos organizar esse time e para tanto não é nada impossível contar com um a cada mil moradores para compor o Clube dos 300. O problema, repito, é saber quem estaria disposto a fazer a roda da realidade começara a rodar em sentido contrário à roda da carruagem de fragmentação empobrecedora.
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20/09/2024 O QUE VAI SER DE SANTO ANDRÉ?