Imprensa

Diário comemora 65 anos.
Festejamos com 65 desafios

DANIEL LIMA - 11/05/2023

Os leitores vão ver em seguida uma batelada de 65 desafios que acabei de preparar e vou endereçar ao Diário do Grande ABC. Essa é a melhor resposta, uma resposta de responsabilidade social, ao jornal que está completando 65 anos de circulação.  

Trata-se de contraponto ao Editorial de primeira página assinado pelo diretor-presidente Ronan Maria Pinto. 

Sobre o Editorial propriamente dito não vou escrever nada hoje porque provavelmente seria uma camada sobreposta ao que tenho escrito a respeito da trajetória do Diário do Grande ABC.  

Acho que a manchetíssima do Diário do Grande ABC de hoje (manchetíssima é a manchete principal da primeira página) diz tudo sobre o estágio em que se encontra o jornal mais tradicional da região. E do que trata o Diário na manchetíssima? 

PASSANDO O PANO 

De uma passada de pano (não é assim que se fala?) no processo de desindustrialização do Grande ABC, agora no caso de Santo André, por conta da demissão de 600 trabalhadores da Bridgestone.  

O jornal omitiu a notícia aos leitores durante três dias, como se o mundo da tecnologia fosse ficção. Agora vem com uma meia-verdade que só cabe mesmo no figurino de proteção ao prefeito Paulinho Serra. Como se o prefeito Paulinho Serra tivesse alguma culpa no cartório pelo anúncio de retirada da produção de pneus de passeio do portfólio da multinacional. 

Vou tratar especificamente da manchetíssima do Diário do Grande ABC (principalmente da entrevista da edição com o secretário de Desenvolvimento Econômico de Santo André) na edição de amanhã. 

NADA DE INTERNET 

Só fiz menção à manchetíssima para evidenciar o que chamaria de ausência de sensibilidade e de detecção dos fatores que levaram o Diário do Grande ABC e tantos outros jornais regionais no mundo inteiro a sofrerem duros reveses. E o ponto principal, longe de ser único, foi desprezado no Editorial: a Internet arrasadora. A pandemia foi circunstancial nesse trajeto de duas décadas de remelexos de redes sociais.  

Mas vamos ao que interessa. Seguem os 65 desafios em comemoração aos 65 anos do Diário do Grande ABC. Peço aos leitores eventuais desculpas ante a possibilidade de alguns enunciados se sobreporem. Apresento um breve ensaio, não mais que isso. Uma vitrine convocatória a incursões específicas.   

A relação abaixo poderia se estender a novas configurações, mas para tanto seria preciso que o limite não ultrapassasse o tempo de atuação do Diário do Grande ABC. 

Convém lembrar uma informação relevante: quase tudo que está aí, senão tudo, já foi objeto de ação ou de inspiração deste jornalista ao longo de uma carreira que contabiliza 16 anos de Diário do Grande ABC. Além claro, entre outros endereços, de 33 anos da revista LivreMercado e de CapitalSocial.  Não se tratam esses desafios, portanto, de abstrações.   

OS 65 DESAFIOS   

1. Abolir como conceito editorial de suposta representação da sociedade o mote  “porta-voz”, que soa gelatinoso demais diante de um Grande ABC que não conta com sociedade civil organizada. Mais que isso: é uma sociedade servil desorganizada. 

2. Estimular a construção do Museu Automotivo, por razões mais que conhecidas. Esse vácuo é uma das grandes aberrações de marketing sustentável da região. Texas, por exemplo, fez do assassinato de John Kennedy ponto de atração turística internacional. Temos de comemorar nossa história sobrerrodas.   

3. Criar um Conselho Editorial independente, integrado por moradores das sete cidades de acordo com a proporcionalidade demográfica e atuação com base na proposta editorial.  

4. Cobrar resultados permanentes do Clube dos Prefeitos sem qualquer viés protecionista ao prefeito dos prefeitos de plantão. 

5. Questionar a atuação dos ouvidores chapas-brancas das prefeituras; ou seja, de servidores indicados para cumprir apenas tarefas burocráticas. 

6. Devassar a infraestrutura pessoal e administrativa das secretarias de Desenvolvendo Econômico do Grande ABC e estimulá-las ao cruzamento de atividades complementares. 

7. Incentivar parcerias que retirem a Avenida dos Estados da clandestinidade econômica, aproximando os municípios envolvidos diretamente num plano de ocupação produtiva do traçado, bem como do entorno igualmente sucateado. 

8. Priorizar a cobertura dos pontos de gargalo logístico interno da região, principais obstáculos à competitividade. 

9. Acompanhar desdobramentos da construção do Rodoanel Mario Covas, comprovadamente nocivos à região. 

10. Cobrar de instâncias judiciais rígida investigação da gestão da Fundação do ABC, milionário clube de saúde da região. 

11. Estimular a definição de um Conselho Regional de Cultura que, entre várias possibilidades, defina calendário e projetos que potencializem ganhos compartilhados.  

12. Explicitar e cobrir sem trégua as obras anunciadas ou paralisadas no Grande ABC, escarafunchando perdas e danos.  

13. Cobrar políticas de fortalecimento do comércio e serviços ao longo do trajeto do sistema de transporte BRT. 

14. Dar mais voz às representações empresariais, colocando-as no centro dos debates. 

15. Acompanhar atentamente a movimentação sindical especificamente quanto ao comprometimento com o futuro do Grande ABC. 

16. Cobrar de representações empresariais da região políticas de aproximação e fortalecimento da cadeia institucional em busca de regionalidade renovadora. 

17. Manter foco nas políticas de relacionamentos extramuros da Universidade Federal do Grande ABC, reconhecidamente de baixa aderência na sociedade produtiva. 

18. Convocar e estimular a formação de organismo que comporte as principais representações universitárias da região tendo como foco o emprego do futuro conectado com a situação atual das empresas. 

19. Criar premiação que contemple os mais agudos projetos de lei dos Legislativos locais, retirando os vereadores da pasmaceira de muito volume e baixíssima utilidade.   

20. Exigir mais transparência nas contas públicas das prefeituras, inclusive com mobilização de leitores em busca de um modelo de acompanhamento sistemático dos resultados. 

21. Defesa de um Conselho Especial de Contribuintes no organograma do Clube dos Prefeitos. 

22. Definir política editorial que convirja à uniformidade de alíquotas do Imposto Sobre Serviços, eliminando-se a guerra fiscal interna.  

23. Definir política editorial que retire o Grande ABC da mesmice de dados exclusivamente regionais, transformando-os em porções comparativas com os principais municípios do Estado. 

24. Contar com um grupo de colaboradores editoriais, especialistas em várias áreas, num encaixe com a política editorial prevalecentemente regional. 

25. Intensificação de dimensionamento e atenção ao crescimento da exclusão social como resultado da desindustrialização continuada. 

26. Incentivar a criação de uma liga carnavalesca regional que tenha como ponto de chegada a realização de desfile de escolas de samba inquietas com a identidade municipal e regional.  

27. Exorcizar o fantasma da desindustrialização com o uso intenso do verbete de forma a manter a sociedade alerta sobre o que ocorre na economia regional. Está mais que provado que negar o inegável é a pior política editorial. 

28. Deixar de esconder dos leitores informações relevantes como a demissão de 600 trabalhadores da Bridgestone. 

29. Instituir premiação que contemple diferentes segmentos econômicos e sociais da região, contando para tanto, entre outros pontos, com quadro de analistas que impeça manipulações de resultados.  

30. Tratamento editorial equânime a endereços municipais diferentes, evitando-se dois pesos e duas medidas, principalmente na cobertura político-administrativa. 

31. Preparação de breve manual de compromisso com a sociedade do Grande ABC, estabelecendo valores a serem rigorosamente cumpridos. 

32. Privilegiar os clubes do Grande ABC, indo muito além das quatro linhas do gramado. 

33. Criar espaço específico para divulgar jornalisticamente pequenas empresas locais e suas histórias de sucessos. 

34.  Aferir com atenção máxima vantagens e desvantagens da chegada de novos e poderosos empreendimentos comerciais e de serviços, de modo que o equilíbrio do ecossistema empresarial não seja desprezado. 

35. Requerer de instâncias legislativas e executivas a aprovação de projeto que possibilite premiação em dinheiro a reportagens da mídia regional que desvendem escândalos da administração pública. 

36. Exigir de instâncias políticas legislação rigorosa para a ocupação e uso do solo, mitigando com isso a atuação deletéria de agentes imobiliários inescrupulosos com ramificações no Poder Público. 

37. Defender a criação de um plano econômico para explorar mais acentuadamente o Polo Petroquímico do Grande ABC em forma de fortalecimento de cadeias de valor.  

38. Sugerir às instituições de ensino da região, em todas as escalas, a criação de cursos específicos sobre regionalidade, tendo o Grande ABC como foco pedagógico.  

39. Estimular a criação de um instituto de pesquisa independente que tenha como principal missão articular dados e estudos sobre o Grande ABC. 

40. Cobrar dos prefeitos do Grande ABC tanto planejamento estratégico municipal como, principalmente, regional.  

41. Acompanhar a evolução do Custo ABC no campo tributário, dando ênfase aos valores históricos do IPTU em consonância com a queda vertiginosa do valor do metro quadrado na última década. 

42. Defesa de um organismo regional para dar encaminhamento de sugestões, propostas e denúncias contra a Administração Pública. 

43. Defender um novo escopo funcional e diretivo do Clube dos Prefeitos, com representantes dos Legislativos locais e deputados com domicilio eleitoral na região. 

44. Defender nova configuração sucessória no Clube dos Prefeitos, em forma de rodízio, com predefinição dos municípios a ocuparem o posto principal. Tudo para diminuir o risco de partidarização.  

45. Criação de banco de dados que sirva como matéria-prima à formação de um ranking medidor de promessas e lorotas de administrações públicas. 

46. Estabelecer pauta de prioridades da região sob o potencial de interferência de deputados estaduais e federais e, a partir daí, tornar esses representantes da sociedade objeto de informações e cobranças. 

47. Esmiuçar os municípios do Grande ABC quanto à higidez de infraestrutura física e desempenho econômico em termos de competitividade na metrópole, utilizando-se de ferramentais técnicos.  

48. Combate sem trégua à verticalização abusiva do setor imobiliário, raiz principal do cada vez mais complexo e improdutivo sistema viário da região.   

49. Cobrar representatividade das entidades de classe da região, rebaixando gradualmente o poder de poucos que atuam como puxadinhos de administrações públicas.   

50. Mergulhar nos indicadores criminais em busca de melhora sistemática da qualidade de vida na região.  

51. Exigir das entidades de classe congêneres nos municípios atenção especial a políticas de regionalidade, ultrapassando-se limites concorrenciais e agregando ganhos compartilhados.  

52. Acompanhamento permanente e crítico do balanço de empregos formais no Grande ABC com a adoção de política editorial que reflita dados de outros endereços, sobretudo de municípios do Estado de São Paulo que contam com melhor desempenho econômico neste século.  

53. Definição de política editorial que estimule gestores públicos municipais a adotarem com eventuais adaptações exemplos de competividade econômica transformadora.   

54. Incrementar política editorial que mantenha em alerta permanente os indicadores sociais do Grande ABC em relação aos principais endereços do Estado. Competir é a palavra-chave a transformações.   

55. Evitar que supostos porta-vozes setoriais frequentem as páginas do jornal com o propósito mais que evidente de seguirem ritual de promoção pessoal ou profissional que em nada engrossa o caldo de cultura de um regionalidade prospectiva. São cartas marcadas que se perpetuam e agravam a situação regional.  

56. Manter a política editorial implantada em 2004, quando estava Diretor de Redação, de sustentar manchetíssima regional a cada nova edição. Jamais permitir que aventureiros ou ignorantes editoriais façam da manchetíssima réplica do Jornal Nacional, cultura de provincianismo informativo até então.   

57. Que a Palavra do Leitor, espaço da página do Editorial, não se reproduza praticamente todos os dias como propriedade do mesmo grupo de participantes. Incrementar medidas que ampliem o comprometimento de uma massa adicional de leitores permitiria a redução de previsibilidade temática e de conteúdo dos comentários.   

58. Observar atentamente o que produzem as demais mídias do Grande ABC. Há diversidade a recomendar atenção.   

59. Transferir aos leitores os conceitos que movem a publicação no campo ideológico mais prático, ou seja, de definição de uma linha editorial comprometida com a eficiência do Estado e com os pressupostos da livre-iniciativa.   

60. Independência total em relação à classe política. A medida tornará a publicação mais respeitada pelos mesmos atores políticos, porque se estenderá o tapete de democracia informativa mais próxima da credibilidade exigida pelos leitores.  

61. Ampliar extraordinariamente o espaço editorial às questões econômicas da região, principalmente, tornando noticiário e análises concorrenciais à importância da editoria de Política.  

62. Baixar o quanto for possível o grau de dependência informativa da inserção de publicidade.  

63. Cobrar das instâncias representativas locais ações mais objetivas e tecnicamente materializáveis do governo do Estado e do governo federal. É preciso mensurar e cobrar reciprocidade de investimentos e ações. Tributos da base produtiva regional devem servir como indexadores. Um encontro permanente de contas seria o caminho mais apropriado à sensibilização.  

64. Exigir de autoridades públicas estudos minuciosos sobre os efeitos que se espalhariam na região por conta do traçado do metrô previsto para a próxima década. É essencial a medição de consequências econômicas da obra para evitar a repetição do esvaziamento regional provocado pelo Rodoanel.   

65. Contribuir incisivamente para a definição de planejamento estratégico regional que coloque o futuro econômico como carro-chefe de inquietações.  



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