Imprensa

Diário: Plano Real que
durou nove meses (33)

DANIEL LIMA - 13/11/2024

Quer uma palavra franca, honesta, irreparavelmente verdadeira? Leia  mais este capítulo desta série especial sobre minha passagem como Diretor de Redação do Diário do Grande ABC, entre 2004 e 2005, depois de 30 dias como ombudsman. Se você quer entender o que se passa no jornalismo diário de hoje, não pode perder uma vírgula do passado que se seguirá. Simples assim. Complexo assim.

 EDIÇÃO NÚMERO 11 

Grande ABC, quarta-feira, 8 de setembro de 2004.

A enorme contribuição

da revista para o Diário

No período de 2 de agosto a 8 de setembro, a equipe de jornalistas da revista LivreMercado produziu 245 mil caracteres de matérias publicadas pelo jornal Diário do Grande ABC. O volume equivale a 61 páginas da revista. Algo como uma nova edição da publicação de mais ou menos 100 páginas, levando-se em conta a proporção média de 40% de espaços publicitários.

O que quero dizer com isso? Que estamos provando como revista que para fazer jornal diário com qualidade basta apenas trabalhar com empenho, dedicação, metodologia, cultura regional, operacionalidade e tantos outros atributos que espero que o Diário tenha um dia no conjunto, não em algumas editorias apenas.

Vale ressaltar que minha produção individual no período para o Diário, de aproximadamente 150 mil caracteres, não está contabilizada.

Convém lembrar, para evitar qualquer tipo de mal-entendido, que a equipe da revista trabalha dentro do horário regulamentar, sem banco de horas ou absurdos semelhantes. Sei que tudo isso pode chocar algumas pessoas do Diário, mas não deveria. O fato é que encontramos um jornal sucateado em sua estrutura redacional mas, com a contribuição de todos, haveremos de virar o jogo.

Entretanto, convém também não perder de vista que o que ora apresentamos é uma rotina produtiva da revista e, como tal, demonstração inconteste de que, seja lá o que o futuro nos reserva, não temos nada a provar a ninguém — nem eu nem minha equipe da revista. Quem tem de provar que está no jogo para ganhar é a equipe que temos no jornal. Essa virada precisa ser feita dentro de campo, só dentro de campo.

O que escrevi no Planejamento Estratégico Editorial do jornal bem antes de tomar posse e com base simplesmente em observador distante do Diário ratifico nestas linhas: a redação é tremendamente burocrática, dispersiva, pouco produtiva e suscetível demais a observações menos adocicadas. Entenda-se redação não como o conjunto, mas algumas editorias mais alarmantemente abaixo da qualidade que os leitores exigem e sobre as quais deitamos nossas preocupações. A responsabilidade pela situação passa majoritariamente longe da equipe de redação, que é apenas reflexo de um quadro histórico.

Mais que qualquer outro objetivo, quando apresentamos os números abaixo, de produção auxiliar da revista em favor da melhoria do jornal, pretendemos principalmente mandar um recado a todos aqueles que acham que fazer revista é mais fácil: a produção que aí está foi feita diariamente, com o compromisso diário, com a alucinante marcação de tempo diário. Exatamente o que fazemos na revista, porque a revista para ser revista de fato — e não uma coleção de releases ou de baboseiras — precisa ser feita diariamente para que chegue no fechamento sem atropelos. Afinal, são apenas oito jornalistas a integrá-la, com custo inferior ao de qualquer editoria do jornal.

Estamos provando sem mistificações que os discursos mesquinhos de alguns de que fazer revista é mais fácil não passa exatamente disso, de discurso mesquinho. Entendo essa mesquinhez, porque quando falta substância, abunda ignorância.

Meu sonho é ver o Diário com a qualidade da revista. Quem sabe um dia cheguemos a isso, principalmente se a maioria de colaboradores completamente engajada nos novos destinos da publicação exigir de uns poucos menos interessados a responsabilidade de transformações. Afinal, redação alguma é obra de messias. É uma ação coletiva. Tenho muito orgulho da equipe de redação da revista. Haverei de ter também do jornal.

Controle de Produção – DGABC de 02/08 a 08/09.

Repórter Toques

André 45.045

Carla 69.429

Fernando Bella 11.436

Fernando Stella 2.709

Malu 20.050

Vanessa 68.882

Vera 15.982

Walter 11.418

Total 244.951 

 EDIÇÃO NÚMERO 12 

Grande ABC, segunda-feira, 13 de setembro de 2004.

Vamos nos preparar para

a cobertura das eleições

Na semana que vem vamos fazer uma reunião específica para detalhar a cobertura das eleições municipais no Grande ABC e no País. Centralizaremos nossa munição nos municípios locais. Precisaremos de uma força-tarefa que não deixe pedra sobre pedra em matéria de informação. Teremos de privilegiar municípios onde as pesquisas anunciam grandes dúvidas sobre o vencedor. Mas isso não significa que vamos esquecer os demais.

O desafio é produzir pautas táticas e estratégicas que saiam do convencional e que despertem a atenção dos leitores. Precisamos nos preparar com o banco de dados para robustecer as matérias. O jornal precisa transformar a cobertura eleitoral num case de sucesso absoluto, para fortalecer sua nova etapa editorial na qual todos estão diretamente envolvidos.

Estamos em cima das eleições desde a criação da Sabatina Diário. Agora temos, a partir desta quinta-feira, matérias especiais sobre a movimentação dos principais concorrentes às Prefeituras. Essa máquina tem de continuar azeitada para nos levar às alturas de audiência. Já melhoramos em muito a pauta política, mas não podemos nos descuidar. É provável que o bando de candidatos a vereador não esteja satisfeito com a elevação do nível das pautas, mas é assim que tem de ser. O jornal vale pelo que publica. Tanto quanto os jornalistas que o representam.

Tenho uma proposta para definir quem serão os sete jornalistas que, agregados pela Editoria Especial, conduzirão a cobertura em cada um dos sete municípios. Eles serão os responsáveis pela adição de valor nas informações, inclusive com a obtenção de dados históricos. Precisamos descentralizar a cobertura. Mas para isso é indispensável a definição conceitual para que o resultado não seja uma colcha de retalhos.

Não podemos perder de vista que teremos ainda a publicação da Sabatina Diário na semana que antecederá as eleições. Além disso, teremos mais duas rodadas da pesquisa do Instituto Brasmarket. Na última das quais, aliás, poderemos realizar operação de marketing interessante e cujo detalhamento exporemos mais tarde. Creio ser desnecessário lembrar que o revezamento de folgas sofrerá evidente mudança no final de semana das eleições. 

 EDIÇÃO NÚMERO 13

Grande ABC, segunda-feira, 13 de setembro de 2004.

Frente Andreense colocou em

xeque mais que a liberdade

A atitude da Frente Andreense colocou em xeque mais que a liberdade de Imprensa que todo veículo de comunicação deve perseguir incansavelmente. O que o grupo incentivado por Duílio Pisaneschi e Newton Brandão fez — e que nem todos têm capacidade ou interesse em avaliar — não foi senão a tentativa de desmoralizar o jornal. São bobalhões, como se sabe, porque não seria com este diretor de Redação à frente do Diário — e jamais o será, podem acreditar — que se consumaria o rastejamento editorial.

Não faltam histórias de autoridades públicas, entre outros dominadores da pauta do Diário do Grande ABC (ou melhor, ex-dominadores da pauta), que deitaram e rolaram nos últimos anos sobre a Redação. Sei de casos escabrosos, de dedo em riste, de tudo que se possa imaginar, sem que a Redação, à deriva, tivesse a mínima capacidade de se indignar. Uma vergonha! É mais fácil, como aconteceu ainda outro dia, uma ou outra jornalista menos preparada emocionalmente sentir-se chocada com a avaliação de que a área da qual faz parte está muito aquém das exigências não do diretor de Redação, mas de qualquer leitor minimamente crítico.

Os usurpadores do Diário do Grande ABC não terão vez. Anotem o que estou escrevendo. Aliás, toda newsletter que redijo vai para meus arquivos, porque amanhã vai se transformar em insumo de novos livros. Repito: quem pretende nos botar uma canga, que perca a esperança. Não fico um minuto na empresa no momento em que uma ordem qualquer, de onde vier, tentar repetir o que se passou aqui durante muitos anos. Somente um grande estúpido trabalharia 18 horas por dia para se submeter a ordens indecentes.

O jornal Diário do Grande ABC que imagino no futuro não muito distante está longe do que temos hoje — essa é uma constatação que não posso jamais me furtar em repetir, porque estaria agredindo o bom senso. Entretanto, o Diário que já temos hoje, com a carta de alforria de desmandos, esse estará inviolável enquanto eu estiver à frente da equipe. Podemos perder tudo, menos a dignidade profissional. Principalmente para políticos de carreira pessimamente assessorados. Enganam-se eles e todos aqueles que eventualmente lhe fizerem coro.

Não confundam esse procedimento com arrogância, porque o desvio seria típico dos insensatos e dos oportunistas. De gente que não entende bulhufas de jornalismo, de responsabilidade social. Vim para esta empresa para ajudar a resgatar a respeitabilidade de uma Redação em pandarecos. Não preciso descer a detalhes sobre o significado disso, porque seria constrangedor.

Tenho tempo preliminarmente demarcado para esgotar meu trabalho nessa função. Posso abreviá-lo diante de circunstâncias eventualmente provocativas. Não esmolo cargo algum, emprego nenhum. Não vivo de status, de aparência. Darei minha vida enquanto estiver aqui, mas não tenham dúvidas de que saltarei de banda assim que o primeiro imbecil tentar nos tripudiar, a mim e a meus companheiros de trabalho.

É por essas e por tantas outras que me sinto com plenos direitos de exigir um produto melhor, mesmo reconhecendo o sucateamento material da Redação, mesmo me irritando com alguns poucos exemplares de profissionais sem comprometimento com o produto, mesmo me descabelando com a carência de metodologias e processos minimamente compatíveis com critérios de qualidade — tudo aquilo que construí na Redação da Editora Livre Mercado com muito menos recursos e um monte de tentativas de abalroamento vindos principalmente da Rua Catequese.

Quem não aceitar estas regras de jogo, que se retire da empresa. Como eu o farei, se tentarem alterá-las. Newton Brandão, Duílio Pisaneschi e assemelhados não nos amedrontarão jamais. Nem quaisquer outros eventualmente interessados em fazer da Redação picadeiro.



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