Imprensa

REVOLUÇÃO TAMBÉM NO
MÉTODO DE PRODUÇÃO (4)

DANIEL LIMA - 22/04/2025

E vamos seguindo com essa minissérie que aprofunda informações sobre as inovações que realizamos à frente da revista de papel LivreMercado, antecessora de CapitalSocial, e também, durante 11 meses, como Diretor de Redação do Diário do Grande ABC.

Mais uma vez alertamos sobre a importância de os leitores não perderem o fio da meada. Não é uma verdade absoluta que desprezar os capítulos anteriores tornará impossível compreender o que implantamos de inovação na arte de produção e qualificação numa redação, mas também seria descuido deixar de lado a sugestão de que procurem as bases do que se lerá em seguida contando com uma leitura esclarecedora nas edições anteriores.

Essa minissérie terá sete capítulos no total e o que posso garantir como idealizador e praticante de toda essa operação é que muitas cidadelas conservadoras cristalizadas em redações deveriam se impor o desafio de procurarem os caminhos trilhados pelas equipes que comandei com essa inovação a tiracolo.

Aos donos de veículos de comunicação que não são do ramo de comunicação no sentido filosófico e prático, qualquer sugestão no sentido de inovação metodológica é perda de tempo. Eles só pensam naquilo e com base naquilo que pensam imaginam que estão trilhando o bom caminho da comunicação com responsabilidade social. 

 

Barato custa muito caro

na produção jornalística

 DANIEL LIMA - 16/08/2005 

A Teoria da Produtividade Editorial que desenvolvi para a Editora Livre Mercado e que cheguei a aplicar preliminarmente no Diário do Grande ABC não é assunto cujo interesse restrinja-se à indústria de comunicação impressa. É possível desenhar formatos análogos para medir competências em outras áreas da economia, nas quais impere a necessidade de ajustar diretrizes administrativas sem ferir especificidades nem sempre identificadas pelos formuladores de mudanças. Mais que isso: é facilmente comprovável que nem tudo que reluz é ouro nos meios de produção.

Tratando diretamente da questão jornalística: empresas que olham atavicamente para custos individuais dos colaboradores para medir o grau de eficiência econômica e financeira e, portanto, de descartes e de eventuais contratações, dão um tiro no próprio pé. Com isso, encurtam o caminho rumo ao desfiladeiro da quebra da imagem corporativa que se reflete no produto final que vai aos leitores.

O barato de salários baixos custa caro em forma de informações alquebradas, reticentes, contraditórias, inconfiáveis. O livro "Meias Verdades", que repasso agora de forma virtual em quase três dezenas de capítulos, é prova irrefutável disso. 

CONCEITOS RAMIFICADOS

Falemos da experiência prática de 10 meses da Teoria da Produtividade Editorial na revista LivreMercado. Sem medo de errar -- muito pelo contrário -- afirmo com toda a segurança que os jornalistas da publicação estão enquadrados em conceitos que determinam não só o estágio em que se encontram como, também, o futuro que a atividade lhes reserva. 

A combinação de quantidade e qualidade do material produzido, que deságua em avaliação sintetizada em padrões de notas de zero a 10, dinamita antigos e superados conceitos de quem não entende nada do assunto e que costuma avaliar colaboradores, no caso no jornalismo impresso, apenas pela quantidade de material publicado e a correlação com a individualização da folha de pagamentos.

Novamente sem medo de estar expressando conclusão precipitada, desenvolvi de tal forma a capacidade de gerenciamento de qualificação de profissionais de comunicação impressa que não preciso de mais de 30 dias de avaliações, estudos, análises, considerações e de minuciosas planilhas decorrentes disso para estabelecer juízo de valor sobre o grau de competência de cada uma das editorias dos jornais. 

Mais que isso: num trabalho minuciosamente técnico mas também indiscutivelmente subjetivo, elaboro perfil individual de todos os colaboradores de cada editoria, como são chamados os departamentos de veículos de comunicação.

Quem achar que estou exagerando da missa não sabe um terço. E não vai aqui nenhuma exuberância egocêntrica como alguns desavisados poderão arguir em tentativas manjadas de desclassificar quem se dedica diariamente de corpo e alma à profissão que abraçou aos 15 anos de idade. 

Tenho como abre-alas dessas argumentações os 10 meses de exumação das edições da revista LivreMercado, publicação com 15 anos de circulação. Mesmo quando paralelamente no Diário do Grande ABC, me dediquei a esse projeto na melhor revista regional do País.

Cheguei ao ponto de análises que provavelmente deixariam incompetentes atônitos. Querem alguns exemplos? 

a) Como a contagem de produção é por caractere e não por espaço ocupado no veículo, há absoluta fidelidade quanto ao material produzido por cada jornalista. Explico: são enganadoras as medições centimétricas nos jornais, como a velharia conceitual procede num verdadeiro apagão de inteligência acrítica e descompromissada com o conteúdo. Um texto de cinco mil caracteres pode ocupar apenas metade de uma página, espremido entre anúncios, enquanto outro, pela metade, mas recheado de fotos, de quadros estatísticos, transmitirá a sensação de que é maior só porque ocupa espaço mais amplo. Isso é mais comum do que se imagina. Quem não é do ramo jamais conseguirá compreender.

b) O tempo despendido para copidescagem, algo que numa linguagem mais acessível pode ser traduzido como correção ou revisão, é um dos elementos essenciais à aferição da qualidade do texto. Um texto de quatro mil caracteres (padrão da revista LivreMercado) por página e cuja copidescagem exigiu 15 minutos do responsável final pela edição (no caso este jornalista) não terá jamais nota ao menos próxima da de um texto semelhante e cujo tempo de revisão não passou de oito minutos. É nesse ponto, também, que a visão exclusivamente quantitativa, perde-se nas sombras da ignorância. Afinal, quanto mais tempo se joga fora na revisão de uma matéria, mais se acentuam sinais de que o autor está aquém da expectativa do produto. E, acreditem, mais riscos de complicações com fontes de informações, aparecem. Sei exatamente qual é o tempo médio de copidescagem de matéria qualificada na revista LivreMercado. Quando sai do padrão, a nota cai e a desconfiança aumenta. É nesse ponto que ponderações sobre o custo diferenciado dos profissionais contratados entra em cena. Quem ganha nominalmente menos mas produz menos e de forma pouco qualificada custa muito mais caro para a empresa. 

c) Uma combinação de quantidade e qualidade (que tem no tempo de copidescagem uma das âncoras) determinará a nota que será atribuída a cada matéria, como venho fazendo há quase um ano. A nota deriva de fatores tangíveis, como quantidade e tempo de copidescagem, e também de aspectos intangíveis, no caso o agregado de conhecimento sobre o assunto abordado. É nesse ponto -- e me perdoem a franqueza que pode parecer egocêntrica, mas precisa de um mínimo de sinceridade -- o responsável pela copidescagem precisa ter o produto desejado na cabeça, tanto técnica como historicamente. Um modelo de produto a ser alcançado tem de estar no horizonte não muito distante e em função disso deve balizar as notas depois do remelexo entre quantidade e qualidade formais. 

ACHADO JORNALÍSTICO

A Teoria de Produtividade Editorial que estou aplicando na revista LivreMercado e que, repito, não passou de momentos iniciais no Diário do Grande ABC, é um achado do jornalismo. Muitos donos de veículos de comunicação aos quais poderia ser apresentada essa inovação organizacional provavelmente darão de ombros porque, em larga escala, não passam de negociantes de comunicação.

O que vem a ser negociantes de comunicação? Gente que não é do ramo, que não entende a diferença entre um texto brilhante e um texto sofrível, exceto quando eventuais e legítimos interesses comerciais e econômicos venham a ser atingidos pela incúria jornalística que, convenhamos, também não falta nas praças exatamente porque as redações, de maneira geral mas não irrestrita, foram entregues aos devaneios de salvadores da pátria, em forma de investimentos em Tecnologia da Informação. 

Muitos donos de jornal, entretanto, esqueceram não só as redações propriamente ditas como também ferramentas indispensáveis disponibilizadas pela Tecnologia da Informação. 

O retrato da revista LivreMercado após a implementação da Teoria da Produtividade Editorial é o mais instigante possível. Detenho informações sistematizadas que mais me dão razões de ter me irritado nos tempos de Diário do Grande ABC ao descobrir que o que havia proibido anteriormente estivesse sendo aplicado em comando paralelo de redação: uma operação estúpida de centimetragem de matérias produzidas por cada colaborador da empresa e que, entre outras barbaridades, não levava em conta diferenças funcionais, além do emaranhado específico da atividade.

E olhem que me exacerbei contra aquela idiotice mesmo com a estatística amplamente a meu favor. Embora diretor do jornal, diretor executivo da revista LivreMercado e com uma infinidade de ocupações, aparecia este jornalista na liderança absoluta da centimetragem, mais de o dobro de espaço à frente do segundo colocado. 

Embora contrariado com aquela demonstração de falta de ética e de respeito funcional, não pude esconder uma ponta de satisfação contra aqueles que, por desconhecerem mecanismos de produção jornalística, consideravam que fazer revista é mais fácil que fazer jornal. Nada mais dicotômico, porque é o produto final, bom ou ruim, que determina a qualificação de seus autores. Periodicidade é de menos.

Uma companhia aérea regional e uma companhia aérea nacional podem ser igualmente respeitáveis, embora atuem de forma diferente, com frequências de voos distintas, atendendo a públicos nada semelhantes. 

Ainda voltarei à Teoria da Produtividade Editorial com base, repito, na ação prática na revista LivreMercado. Ficaria feliz em poder aplicar o sistema nos jornais que não sabem por que estão tão mal das pernas e mesmo àqueles que podem conseguir resultados ainda melhores. 

Uma das conclusões mais importantes a que cheguei deveria servir de alerta a quem rebaixa a média salarial: o barato sai caro. E também à classe dos jornalistas, que passaria a dispor de instrumental contra qualquer insinuação de protecionismo ou perseguição corporativa.



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