Se você quiser descobrir um novo número que entra na contabilidade familiar da disputa pelo inventário de Samuel Klein, imigrante polonês que escapou do holocausto e criou a Casas Bahia, é melhor pegar uma máquina calculadora.
Se quiser fazer a operação na prática, para sentir o tamanho do que seria o rombo provocado por Michael Klein, o primogênito, em detrimento do irmão caçula, Saul Klein, é melhor comprar uma maquininha de contar cédulas.
Se fosse você iria direto à maquinha de contar cédulas. E ter muita paciência. Seriam necessários sete dias sem parar de trabalho, numa maquininha que conte mil cédulas por minuto, para chegar ao resultado final. Só valeriam células de R$ 100,00.
O total de horas exigíveis à contagem do valor de R$ 1 bilhão em notas de R$ 100,00 talvez seja a melhor forma de dar dimensão do que ocorreu durante vários anos com as finanças da Casas Bahia.
BATALHA JUDICIAL
Esse montante foi objeto de empréstimo chamado tecnicamente de mútuo, ou seja, quando alguém recorre aos cofres da própria empresa para uso pessoal; portanto sem vínculo de uso na própria companhia.
Michael Klein, que comanda as ações da Casas Bahia, fez essa operação sem conhecimento e aprovação de outro acionista, no caso Saul Klein. Talvez Eva Klein, também filha de Samuel Klein, tenha sido comunicada.
No caso do espólio de Samuel Klein, o que mais interessa é a contenda entre Michael e Saul Klein. Eles enfrentam uma batalha no Judiciário a partir de acusação recente. Saul Klein descobriu que assinaturas de Samuel Klein utilizadas em documentos que favorecem o irmão Michael Klein não são assinaturas da lavra do pai, morto em 2014.
MUITO ESPECIAL
O total de R$ 1 bilhão do empréstimo de mútuo ainda não foi devolvido e está em estado bruto, ou seja, sem juros nem correção. Não existe melhor negócio no mundo do que pegar dinheiro emprestado sem juro e correção monetária num País em que a inflação sempre dá as caras. Como se a operação não fosse uma grande jogada, ganha um salto triplo no caso da Família Klein: o devedor paga quando lhe der na telha.
Os recursos amealhados por Michael Klein na operação financeira foram investidos em empresas de Michael Klein e de familiares de Michael Klein tanto no Brasil quanto fora do Brasil. É tanto dinheiro que se multiplicou em forma de valorização financeira que uma maquininha de contar cédulas de R$ 100, 00 adicionais precisaria de muito mais que sete dias seguidos para dar conta do montante.
O enredo do empréstimo a preço de banana tem conexão com os recursos financeiros do espólio de Samuel Klein utilizados por Michael Klein e filhos de Michael Klein, sempre em circunstâncias que estão ganhando terreno em conflito familiar.
ASSINATURAS CONFLITIVAS
As assinaturas que provocaram mudanças acionárias e desdobramentos estão sendo contestadas pela banca de especialistas contratados por Saul Klein. As assinaturas de Samuel Klein não são de Samuel Klein, argumentam os defensores de Saul Klein. Quem enxerga razoavelmente bem sabe distinguir o que é a assinatura pirata e o que são os pares de assinaturas legítimas.
Dois peritos respeitadíssimos sustentaram tecnicamente a diferença entre as assinaturas de Samuel Klein produzidas por Samuel Klein e as assinaturas de Samuel Klein que jamais teriam saído do pulso de Samuel Klein. Uma mão farsante, indicam os exames grafotécnicos, meteu-se entre os irmãos.
A diferença não é apenas bizarra como também trágica. Afinal, se era para fazer o que foi feito, que se fizesse com mais capricho. As assinaturas nem precisariam do VAR de instituto especializado.
OLHOS ARREGALADOS
Se as assinaturas de Samuel Klein fossem traduzidas em braile, os olhos dos consulentes provavelmente ganhariam luzes de incredulidade. Basta um olhar comparativo para dispensar aferição de terceiros.
A assinatura real de Samuel Klein é um plantio natural e simétrico perfeito. A assinatura falsa de Samuel Klein é um terreno esburacado camuflado por plantações.
Por isso, não se recomenda que a nova fatia indigesta desse bolo de complicações familiares envolvendo o espólio de Samuel Klein seja separada do cardápio central em forma de processo do inventário.
Faz parte de tudo que se encaminha a uma solução que colocaria os pratos nos devidos lugares. Separar assinaturas disformes e empréstimos viciados seria ignorar uma fina sincronia de complementaridades. Até porque, há coincidência no tempo entre uma coisa e outra coisa.
R$ 130 MILHÕES/ANO
Voltando aos números, numa conta simples, levando-se em conta por conta da operação de Michael Klein, com a taxa Selic a 13% ano, em 12 meses o montante geral renderia R$ 130 milhões em 12 meses. Quem tem tanto dinheiro assim consegue taxas bem maiores. E quem tem tanto dinheiro assim faz outros negócios – imobiliários, por exemplo – extraordinariamente de ocasião.
Os especialistas contratados por Saul Klein avançam no escrutínio do patrimônio da Família Klein. Muito ainda poderá emergir. Há certa estupefação com tudo o que têm registrado. Não há dúvida de que os anos de enfermidade de Saul Klein, impactado por depressão agressiva, custaram muito caro à parte do patrimônio familiar a que tem direito.
Os transtornos familiares que agora ganham materialidade se somaram aos percalços esportivo e pessoal. Tudo num mesmo período, com margem de erro temporal aqui e ali, mas muito próximo.
FUTEBOL E MULHERES
Maior mecenas do futebol brasileiro, Saul Klein injetou perto de R$ 500 milhões no São Caetano. Com a ajuda do então prefeito Luiz Tortorello, e depois praticamente sozinho, sustentou a equipe durante quase duas décadas. Nesse período, o presidente executivo daquela associação empresarial, Nairo Ferreira, ficou milionário. O patrimônio imobiliário de Nairo Ferreira é invejável. Tudo documentado.
Já no campo pessoal, Saul Klein transformou a mansão em Alphaville e uma chácara em Boituva, Interior do Estado, em ancoradouros de prazer. Saul Klein foi um namorador e tanto. Até que, recuperado da enfermidade, decidiu fechar as portas da felicidade de quase uma centena de mulheres que, ao longo dos anos, promoviam festas e ganhavam muito dinheiro. Houve reação. Acusações de violência sexual foram orquestradas. Nenhuma prova material se juntou ao processo, mas a mídia assassinou a reputação de Saul Klein. O Me Too nacionalista não perde oportunidade.
O que se espera para os próximos tempos são novas revelações no campo familiar. As assinaturas falsificadas de Samuel Klein ainda não foram confirmadas pelo Instituto de Criminalística de São Paulo. Por mais que sejam obviamente adulteradas, é necessário esperar o laudo final. Qualquer resultado diferente das profundas evidências provavelmente requereria um teste psicológico dos examinadores.
CONJUNTO DA OBRA
Paralelamente a isso, aumenta a temperatura familiar com as novas descobertas. O dinheiro farto em forma de empréstimo não pode ser separado do conjunto da obra, como se sabe. As assinaturas e os desencaixes financeiros que favorecem Michael Klein deverão impactar a vida da Família Klein – como se o espólio propriamente edito não fosse uma disputa e tanto.
O aparato incrementado pelo escritório de Alberto Thoron é visto como uma mudança gravíssima no percurso judicial que definirá o potencial de irregularidades no espólio de Samuel Klein.
Parece não haver dúvida de que tudo que estava submerso por descuido, inapetência, desinteresse ou qualquer outra coisa envolvendo os antecessores legais de Saul Klein foram diametralmente redefinidos. O espólio de Samuel Klein nunca pareceu tão escancaradamente sujeito a alterações significativas.
MUDANÇA DE RUMO
Parece haver um encaminhamento surpreendente quando se tem o perfil do filho mais velho Michael Klein e o filho mais novo Saul Klein. Aparentemente se vislumbra mudança de imagens. O namorador de Alphaville, bombardeado pela mídia por causa de atropelos das mulheres que frequentavam Alphaville e Boituva, parece dar um cavalo de pau num quadro em constante degradação. Os estragos das denúncias sensacionalistas da mídia no caso das mulheres, em forma de assassinato de reputação, podem se alterar.
Saul Klein tem consciência de que não terá mais a vida de antes, longe dos holofotes, quando mal era conhecido como filho de Samuel Klein, tamanha distância que mantinha nas redes sociais e mesmo nas relações presenciais. Entretanto, sugere-se pelas descobertas recentes, agora também nos empréstimos inusitados, que a biruta poderia virar.
Haveria comprovações materiais não só de que Michael Klein fortaleceu o patrimônio da mulher e dos filhos com dinheiros arbitrariamente retirados da Casas Bahia, porque também pertenciam aos irmãos, como também se utilizou da massa desses recursos para empreendimentos que em última instância poderiam ser compartilhados com os próprios irmãos. A maquininha de contar dinheiro precisaria de muito mais que uma semana sem parar para dar a exata precisão de tudo que foi desviado.
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11/11/2024 GRANDE ABC DOS 17% DE FAVELADOS