Deixei os números do Censo Demográfico do IBGE decantarem e fui em busca de uma grande novidade. E a grande novidade apareceu: a região sofreu tamanha transformação neste século que os idosos (com 60 anos ou mais) já superam os jovens (de 0 a 14 anos) na demografia dos sete municípios.
Tecnicamente o jogo etário está empatado, com apenas 2.422 idosos a mais que os jovens, mas o balanço de 22 anos é inquietante: para cada grupo de 10 jovens no ano 2000 havia três idosos. Ou seja: desde então, a proporção de idosos subiu pelo elevador, enquanto os jovens desceram as escadas. A média nacional é de 80 idosos para cada grupo de 100 jovens.
Trocando em miúdos, quando se junta demografia e economia no balanço da região temos a obrigação moral de alertar que estamos envelhecendo e empobrecendo. Os próximos 20 anos da região serão decisivos. E não há indicativo algum de que vamos superar esse duplo estrago em termos econômicos e sociais.
TENDÊNCIA DE PIORA
Os tormentosos cenários, duramente infligidos pela macroeconomia, não nos dão outra certeza senão a desconfiança de que estamos em maus lençóis. Quem disser o contrário é vendedor de ilusão.
Nossa toada de quebra de mobilidade social vem do passado e nada assegura que será diferente no futuro. Até porque não temos massa crítica a grandes transformações. Muito pelo contrário: os mandachuvas e mandachuvinhas atuais da região, em larga escala, são extrativistas, exclusivistas e autoritários, mancomunados com marqueteiros vendedores de ilusões.
Disponho da possibilidade de construir essa análise demográfica porque conto sempre com o suporte estatístico e logístico do pesquisador Marcos Pazzini, um parceiro de 30 anos, à frente da Consultoria IPC, especializada em PIB de Consumo, ou Potencial de Consumo.
SOBE E DESCE
Mesmo se sabendo desde muito tempo que a população da região envelhece em proporção ainda maior que a média nacional, é surpreendente o resultado no embate com os jovens. Afinal, o placar no ano 2000 era francamente favorável ao pessoal de 0 a 14 anos classificado como jovem pelo IBGE.
Em números absolutos, em 2000 eram 606.321 jovens nos sete municípios da região ante 185.349 idosos (60 anos ou mais). Ou seja, e repetindo: eram 30,73 idosos par cada grupo de 100 jovens. Agora em 2022, segundo o Censo do mesmo IBGE, os idosos são 465.587 pessoas ante 463.165 jovens. Uma diferença ínfima em favor dos idosos (2.4422 pessoas) que torna o jogo tecnicamente empatado, mas numericamente com vantagem de quem tem 60 anos ou mais.
A proporção de jovens e de idosos na população geral da região também sofreu fortes transformações. Em 2000, os jovens correspondiam a 25,75% de cada grupo de 100 habitantes da região, enquanto os idosos não passavam de 7,91%. Já na ponta do Censo, em 2022, os jovens reduziram participação relativa a 17,17%, enquanto os idosos subiram para 17,27%.
Entre um recorte e outro está a população de 15 a 59 anos, que flutuou levemente nos dois períodos, de 66,34% para 65,55% -- eram 1.562.052 e passaram para 1.767.778 no intervalo de 22 anos.
DIADEMA SUPLEMENTAR
Ou seja: enquanto a população jovem da região perdeu participação relativa de 23,61% no conjunto dos moradores, os idosos aumentaram em 40,02% e a faixa intermediária (15-59 anos) avançou 11,64%. O envelhecimento na região é explícito.
No conjunto da obra, a população da região cresceu 12,68% nos 22 anos deste século, a partir do ano 2000. Houve um acréscimo de 341.808 habitantes, que representam quase uma população inteira de Diadema, de 393.237 pessoas.
Como era esperado, São Caetano não surpreendeu no balanço desses 22 anos. Conta com a maior proporção de idosos e a menor proporção de jovens entre os 166.655 moradores. A população de 60 anos ou mais de São Caetano representa 24,29% do total enquanto os jovens não passam de 15,30%. Em 2000, eram 16,00% e 17,87%.
Os números relativos de idosos e jovens de São Caetano no início do século são semelhantes aos números de Diadema 22 anos depois. Diadema conta com 18,22% de jovens no total de 393.237 moradores e 13,94 de idosos. Em 2000, eram 28,45% de jovens e 5,14% de idosos. O envelhecimento da população em Diadema é intenso, mas ainda está distante da média atual de São Caetano.
GRANDES SEMELHANTES
Santo André e São Bernardo têm semelhanças de jovens e idosos na população. Em Santo André, os dados de 2022 mostram que há 16,16% da população na classificação de jovens enquanto 19,20% de idosos. Em São Bernardo são 17,16% de jovens e 17,17% de idosos. No início do século Santo André contava com 23,38% de jovens e 10,32% de idosos no conjunto da população, enquanto São Bernardo registava 25,92% e 6,89%. Santo André conta com 748.919 habitantes e São Bernardo com 810.729.
Além de Santo André, São Bernardo e São Caetano, também Ribeirão Pires conta com proporção maior de idosos ante os jovens: são 18,31% dos moradores classificados como idosos, ante 16,99% de jovens. Em 2000, marco inicial da disputa, os jovens eram predominantes, com participação relativa de 26,16% ante 7,24 de idosos.
Como em Diadema, Mauá e Rio Grande da Serra contam com mais jovens do que idosos na população geral. Em Mauá, são 18,56% de jovens e 14,40% de idosos, enquanto em Rio Grande da Serra a diferença é maior: 19,84% a 13,86%. No começo do século, tiro de largada desse estudo, eram 29,41 de jovens para cada grupo de 5,64 de idoso em Mauá, enquanto em Rio Grande da Serra a diferença era de 30,71% a 5,37.
IMPACTOS DEMOGRÁFICOS
Numa espécie de ranking dos impactos demográficos de cada Município da região nos últimos 22 anos, São Caetano e Ribeirão Pires estão nas duas pontas de intensidade. São Caetano acumula menos problemas relativos de enfrentamento ao choque entre gerações, de jovens e idosos. No sobe e desce de idosos e jovens, São Caetano sofreu impacto de apenas 10,86 pontos percentuais em participações relativas: os jovens perderam participação de 2,57 pontos na população geral, enquanto os idosos avançaram 8,29 pontos percentuais. A explicação é simples: São Caetano é desde muito tempo mais envelhecida que os demais municípios da região, entre outras razões porque tem baixo crescimento demográfico.
Já o caso de Ribeirão Pires nesse balanço etário é exatamente o inverso de São Caetano, com altos índices nos dois sentidos. Os jovens perderam 9,17 pontos percentuais de participação relativa em 22 anos enquanto os idosos subiram 11,07.
Os resultados desse embate nos demais municípios: Santo André 16,10 pontos, São Bernardo 19,03, Diadema 19,04, Mauá 19,61 e Rio Grande da Serra 19,33 pontos.
ESTRAGOS ECONÔMICOS
Quando se cruzam os dados demográficos com os números econômicos, a região precisa se preocupar duplamente. Mostrei em janeiro deste ano, entre outras análises, que a região sofreu queda livre no Ranking Estadual de PIB per capita neste século. Diadema, de administração com viés socialista desde 1982, lidera a derrocada. E Mauá, do Polo Petroquímico, é o único endereço que se salva.
Descer a ladeira do Ranking Estadual não é surpresa. Como escrevi, decidi investigar o comportamento econômico da região em conexão com os demais municípios paulistas (são 645 no total). Deixei de lado apenas Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, menores porções da região e que não passam de 2% do PIB regional.
Mauá é o endereço fora da curva de perdição do Grande ABC no período que começa em 2000 e termina em 2020.
PIB per capita é o total de riquezas geradas dividido pelo total de habitantes. PIB Geral não leva em conta essa divisão. PIB Geral é o PIB em estado completo, quantificado sem relativização de qualquer espécie.
Mauá ganhou nove pontos na classificação geral do PIB per capita no Estado de São Paulo nos 21 anos deste século. Ocupava a posição 233 em 1999 e subiu para a 224 em 2020. A produção de riqueza do Polo Petroquímico faz toda a diferença.
MAIS DESABAMENTO
No outro polo de destaque (agora negativo) do Grande ABC está Diadema, atingida em cheio no setor industrial a reboque da indústria automotiva da vizinha São Bernardo. Diadema ocupava a posição 80 no ano de 1999 e caiu para a posição 224 em 2020. Nada menos que 156 degraus abaixo entre os 645 municípios. Uma catástrofe.
Os outros três municípios da região escrutinados também sofreram duras baixas. Especialmente Santo André e São Bernardo. A queda de Santo André foi de 34 degraus ante 39 de São Bernardo. São Caetano perdeu 12 posições. Entre uma soma e várias perdas, chega-se a 232 degraus abaixo.
Santo André era a 134ª colocada em 1999. A decadência municipal e regional, combinada com o crescimento relativo dos concorrentes, rebaixou Santo André para a o 168º lugar em 2020. São Bernardo caiu relativamente um pouco mais. Exatamente 39 postos no ranking: era 34ª colocada em 1999 e passou para a 73ª posição em 2020. São Caetano contava com a 15ª posição em 1999 e caiu para a 27ª posição no mesmo período.
O Estado de São Paulo como um todo cresceu em termos reais à média de 1,87% ao ano no período. O PIB per capita paulista em 1999 registrava em valores nominais R$ 9.250,35 mil e passou para R$ 53.263,00 em 2020. Avanço real, descontada a inflação, de 39,21%. Quase 50% acima de Santo André, quase o triplo de São Bernardo e quase quatro vezes mais que a média anual de São Caetano. E acima do 1,34% de média anual de crescimento de Mauá, único ponto positivo da região.
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11/11/2024 GRANDE ABC DOS 17% DE FAVELADOS