Preparem os cintos, as escadas e as calçadas, quando não as fraldas geriátricas: a Santo André que vamos encontrar em 2053, quando serão festejados 500 anos de fundação, será muito diferente, demograficamente, entre outros pontos, da Santo André do início deste século.
Os velhos que também são chamados de idosos, quando não de Terceira Idade, ou mesmo de estorvos, porque os jovens têm pressa e esquecem que um dia também serão idosos, velhos, Terceira Idade e estorvos, serão mesmo maioria em Santo André.
Um dos maiores desafios de Santo André é encontrar o caminho das pedras ao longo do período que separa este 2023 de 2053 para um rearranjo econômico e social que terá como agravante uma projeção preocupante: mais de 50% da população será composta de idosos, com 60 anos ou mais.
Os números que o leitor vai encontrar nesta análise foram preparados por encomenda deste jornalista ao pesquisador Marcos Pazzini, executivo da Consultoria IPC, a mais longeva e competente organização na área de potencial de consumo, e que produz a cada temporada o que chamo de PIB de Consumo.
MARCA EMBLEMÁTICA
Não imaginava, sinceramente, tendo como ponto de chegada o ano de 2053, dos 500 Anos de Santo André, que, justamente naquela data, Santo André se converteria em cidade de maioria de idosos, de 60 anos em diante. Mas esse é o resultado projetado.
Recebi planilhas que dão conta da evolução anual não só da demografia de Santo André mas também dos demais municípios da região e do Brasil como um todo. E não é que, repito, justamente em 2053, a maioria de cabelo branco, de cabelo raspado ou de sem-cabelo é que prevalecerá na geografia de Santo André? Já imaginaram o tamanho dessa encrenca?
Esta é a primeira de algumas edições cronologicamente aleatórias que reservarei para destrinchar os números da Consultoria IPC no campo demográfico. Outros indicadores também serão escrutinados.
MARKETING, MARKETING
Vou centrar fogo hoje no que será a ocupação populacional de Santo André dos 500 Anos. Santo André 500 ANOS é um mote criado pelo atual prefeito, Paulinho Serra. Ele projetou esse marco temporal durante o segundo mandato. O propósito é levar à sociedade a ideia de que tudo o que faz está vinculado ao futuro que vai chegar.
Paulinho Serra copiou o programa -- mais modesto temporalmente, porque de 20 anos apenas -- lançado no segundo mandato da Administração de Celso Daniel (Santo André Cidade Futuro).
Além do tempo, separam as duas ações o apetrechamento original de inserção social muito mais profunda e tecnicamente vigorosa. Santo André do ano 2000 estava modestamente entre os 100 principais PIBs per capita do Estado de São Paulo. Hoje está próximo da posição 200.
A cópia estendida de Santo André 500 Anos de Paulinho Serra não contempla tecnicamente os números inéditos e exclusivos que vamos apresentar. Santo André já foi a Capital Econômica da região e desde o começo dos anos 1980 entrou em parafuso com desindustrialização acentuada ainda mais nos anos 1990. O sindicalismo e o Plano Real mudaram a face de Santo André e da região no período.
NAU SEM RUMO
Santo André é uma nau econômica sem rumo e sem prumo desde a orfandade da indústria. A sustentação orçamentária de Santo André se dá principalmente com o Polo Petroquímico de Capuava. As demais cadeias de produção foram destruídas. O encalacramento logístico de Santo André é uma enfermidade praticamente incurável. Um viaduto aqui ou ali na Avenida dos Estados não altera o fluxo de competitividade necessária. Mas não é isso que se vende aos incautos contribuintes cada vez mais esfolados pela Administração Municipal.
Se não encontrar o eixo desenvolvimentista perdido, Santo André vai enfrentar uma segunda metade deste século em situação ainda mais dramática do que as duas décadas antes da chegada deste século. E as cinco décadas que se passarão neste século até que chegue aos 500 anos serão ainda mais devastadoras.
O consolo de Santo André é que não está num mato sem cachorro sozinha na região. Mas isso não é pauta de agora. Santo André 500 Anos é o que interessa com objeto de estudos.
GRANDES TRANSFORMAÇÕES
Os 53 anos deste século serão mesmo de grandes mudanças demográficas no Brasil. No caso de Santo André, os números são implacáveis em forma de reflexões que estimulem políticas públicas ousadas por conta do contexto econômico.
Entre o ano 2000 e 2053, segundo projeções da Consultoria IPC, Santo André refluirá fortemente na população jovem, de 0-14 anos. De participação relativa de 23,38%, passará para 4,94%. Por outro lado, a população de idosos, de 60 anos ou mais, crescerá no mesmo período e também relativamente à população geral, de 10,32% para 50,88%. É um impacto extraordinário. A população de 15 a 59 anos passará de 65,55% para 44,18%. Esse também é um resultado preocupante. Essa larga faixa etária pode ser traduzida como população economicamente ativa.
A população geral de Santo André no ano 2000 registrou 649.331 moradores. No ano passado chegou a 748.919. Um crescimento de 15,34%. Nesse intervalo de tempo, a população jovem caiu em termos numéricos de 151.850 para 121.049. No ano 2053, Santo André contará com população jovem de 67.692, que corresponderá a apenas 4,94% do total de moradores.
IDOSOS CRESCEM
Já a população de idosos registrava em 2000 o total de 67.060 moradores em Santo André. Em 2022 chegou a 143.807. Em 2053, o total alcançará 697.404 moradores. Se em 2000 Santo André reunia 30,73 de idosos para cada grupo de 100 jovens (de 0-14 anos), em 2053, inversamente, para cada 10 idosos haverá praticamente apenas um jovem.
A expectativa de quem tem mesmo responsabilidade social e considera que cada nova temporada gregoriana é um desafio à gestão pública de entender e por isso mesmo enfrentar o futuro que sempre chega em forma de presente pode ser resumida na seguinte reflexão: não há tempo a perder.
Santo André (e a região como um todo, sobre a qual dirigiremos outra análise) não pode se dar ao luxo de continuar com políticas de marketing que apenas lustram temporariamente o currículo do prefeito de plantão. O tempo é implacável.
ESPETACULARIZAÇÃO DEMAIS
No caso específico de Santo André, até porque quem surrupiou o espírito de planejamento de Celso Daniel é o atual prefeito, torna-se necessário jogar na lata do lixo tanto a fantasiosa Secretaria de Prêmios Espetaculares (ou semelhante) e o Departamento de Efeitos Especiais (ou qualquer outra nomenclatura) e se debruçar para valer e com seriedade nas estatísticas.
A contratação que já cansei de sugerir (inclusive aos demais prefeitos) de uma consultoria especializada em Planejamento Econômico Estratégico já está muito aquém do calendário de demandas. E se tornará mais premente ainda diante do desafio dos próximos 30 anos, período no qual a População Economicamente Ativa vai emagrecer enormemente, enquanto faixas populacionais de jovens e idosos se contraporão à renovação fértil da sociedade.
Não tenho a menor ideia de quem seria o prefeito de Santo André no ano de 2041. O que isso importa? Importa que se voltar a ser Paulinho Serra, um então setentão, ou alguém com o mesmo espírito marqueteiro, é provável que Santo André antecipe a festa dos 500 anos programada para 2053. Em 2041, Santo André terá chegado finalmente a um milhão de habitantes. Precisamente 1.000.649, dos quais 8,49% de jovens e 37,57% de idosos com 60 anos ou mais.
Comemorar o um milhão de moradores em 2041 seria um ensaio geral para a Santo André 500 Anos sonhada por Paulinho Serra.
UM MILHÃO EM 2041
Resta saber como estará Santo André tanto em 2041 como em 2053 no campo econômico. É disso que também vou tratar nessa empreitada que se desdobrará em novas edições sem compromisso com data.
A participação relativa da população de Santo André na região será levemente superior à registrada em 2000, quando os 649.331 moradores representavam 27,58% do total regional. Em 2053, segundo a projeção da Consultoria IPC, o total de 1.370.678 moradores de Santo André terão participação regional de 29,15%.
O ABC Paulista de 2053 contará com 4.701.357 habitantes. São Bernardo seguirá em primeiro lugar, com 1.415.287 moradores. Um total de 44.609 acima de Santo André. Neste 2023, a diferença projetada pela Consultoria IPC é de 60.430 moradores.
É preciso levar em conta ao observar esses dados que o princípio lógico que rege o escrutínio da empresa de consultoria de Marcos Pazzini está sustentado nos últimos 22 anos. A Consultoria IPC foi a fundo tanto na garimpagem dos dados pretéritos quando no lançamento desses mesmos dados rumo ao futuro. Levou-se em conta, fundamentalmente, a evolução média anual de todos os indicadores.
Portanto, quem imagina que haverá precisão matemática desses dados e por isso mesmo estaria com o estilingue pronto para desclassificar os estudos corre risco de descredenciamento. A margem de erro está condicionada a fatores principalmente intangíveis.
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11/11/2024 GRANDE ABC DOS 17% DE FAVELADOS