Se fosse o que o prefeito Paulinho Serra queria que fosse, o discurso de Paulinho Serra em Barcelona não teria sido o que foi. Paulinho Serra participou de um evento ligado a cidades inteligentes.
Paulinho Serra em Barcelona, eu em São Bernardo, onde moro. Acordei hoje pensando nisso. Me senti culpado por não ter aceitado o convite do prefeito para ser seu conselheiro especial.
Até dedilhar estas linhas mantive o sentimento de certa frustração. Já passou. Escrever é um santo remédio cognitivo e emocional. Por isso, acho que fiz o certo. O certo foi não ter aceitado o convite. Barcelona é prova disso.
Modéstia às favas, quem perdeu mesmo foi Paulinho Serra. O discurso para uma plateia poliglota e centrada em tecnologia e inovação é prova provada de que faço falta à Administração de Santo André, por mais que seja estranho dizer isso sendo eu um exemplar de estranheza à modernidade do mundo digital.
IDIOMA CONFUSO
Sei que você vai ler estas linhas e me chamará de pernóstico, até mesmo de arrogante, para não dizer metido a besta. Fique à vontade. Mas acompanhe nessas linhas. Você vai entender as razões de Paulinho Serra precisar mesmo deste jornalista e deste jornalista, no fundo, lamentar não ter podido auxiliar o prefeito na prática, embora o faça diariamente nestas páginas virtuais.
Vamos então aos finalmentes para, escalonadamente, retroceder no tempo e revelar o convite feito pelo prefeito Paulinho Serra. Sim, o convite para ser seu conselheiro especial, formulado há um ano e meio atrás.
Tratemos de Barcelona. Deixem para lá o discurso num portunhol sofrível do prefeito Paulinho Serra. Acho que ele deveria ter-se dirigido ao público em português, língua de berço e de gestão. Existem tradutores para isso. Ou o encontro não se tratava de modernidade tecnológica? A autenticidade da língua não teria sido violentada e, para completar, os tradutores automáticos seriam postos à prova. Uma maravilha, não é verdade?
SEM RESPOSTA
Só se justificaria o discurso de Paulinho Serra num portunhol canhestro se a tecnologia entrasse em campo também para corrigir, ao vivo e em cores, instantaneamente, os defeitos da verbalização de um idioma hostil.
Mas isso é de menos. O que vale mais mesmo foi o conteúdo do discurso. Não o tenho na integralidade pressuposta. Recebi da assessoria do prefeito e passei a toda a rede do zap sob meu controle e controle de terceiros pouco menos de dois minutos das declarações de Paulinho Serra. Teriam sido os quase dois minutos os quase dois minutos totais?
Quer saber o que achei do que disse o prefeito Paulinho Serra que um dia me convidou em seu gabinete para ser seu conselheiro especial? Sim, conselheiro especial, essa foi a expressão que o prefeito Paulinho Serra utilizou naquela tarde em seu gabinete. Se não estivesse sentado à frente dele, teria caído de surpresa.
Fui surpreendido a ponto de pedir tempo para responder. Ele insistiu no convite outras duas vezes durante o encontro. E outras duas vezes silenciei para ganhar fôlego e raciocínio. Antes de sair da sala do prefeito, disse que pensaria no assunto. E jamais lhe respondi. Cometi uma indelicadeza. E quem sabe joguei na lata do lixo uma oportunidade de contribuir mais com Santo André e, claro, acrescentar nova experiência de vida profissional.
TRECHO BANIDO
De volta a Barcelona, ou à Espanha, terra de meu avô, egresso de Granada, eis uma exegese do discurso de Paulinho Serra que, como seu conselheiro especial, teria desaconselhado.
Que trecho do discurso de Paulinho Serra seria banido do discurso de Paulinho Serra? Insisto antes de responder: não conto com a íntegra do que foi preparado para os convidados daquele evento. Se o tudo foi o que disse o prefeito Paulinho Serra no audiovisual distribuído pela assessoria de imprensa, o resultado foi péssimo.
Objetivamente, Paulinho Serra foi a um evento internacional, convidado a falar utilizou um espaço nobre e, contrapondo-se à realidade histórica de Santo André, executou uma fina sinfonia de contradição mutiladora.
Afinal, o que disse o prefeito Paulinho Serra que este jornalista, como seu suposto conselheiro especial, teria não só desaconselhado, mas banido do discurso?
MELHOR DISTÂCIA
Ora, bolas: num evento em que a tecnologia digital levada à Administração Pública é uma ferramenta de extraordinário poder de indução e execução de políticas de Desenvolvimento Econômico e Social, o prefeito Paulinho Serra fez referências enfáticas ao fato de Santo André estar na Região Metropolitana de São Paulo e, mais que isso, supostamente próxima do Porto de Santos, do Aeroporto de Congonhas e do Aeroporto de Guarulhos.
O mundo analógico comprometedor de Santo André foi glorificado num encontro, vamos dizer assim, de revolução nas comunicações.
A realidade prática que todos conhecemos é que estar na Região Metropolitana de São Paulo é uma faca de dois legumes para Santo André e os demais municípios da região.
Já explorei esse tema à exaustão. Temos uma infinidade de inconformidades à produtividade social e econômica por estar onde estamos. O que foi vantagem gigantesca no passado virou risco comprometedor desde muito tempo.
NOVOS CONCEITOS
Mais que isso: a distância física do porto e dos aeroportos é uma referência esquartejada pela tecnologia que tanto os espanhóis e outros povos festejaram em Barcelona.
Já foi o tempo em que logística significa a menor distância entre dois pontos, como pressupõe o conceito de Paulinho Serra exposto na Espanha. Logística é a melhor distância entre dois pontos, isto sim. Uma coisa é ser a menor distância, outra coisa é ser a melhor distância. E nisso pesa tremendamente a tecnologia da Informação e áreas afins.
Não vou me estender sobre as diferenças entre uma coisa e outra porque seria chover no molhado.
Certo mesmo é que o discurso em portunhol ou em português, senão em calabrês ou javanês de Paulinho Serra deveria ser em torno do oposto ao que apresentou à plateia num evento, não custa relembrar, ligado à tecnologia e à inovação.
DESAFIO METROPOLITANO
Ao invés de supostos mas de fato contraditórios benefícios geográficos de Santo André no mapa da maior metrópole da América do Sul, Paulinho Serra deveria dizer justamente o oposto. Ou seja: os desafios que Santo André enfrenta para, com o uso de Tecnologia e de Inovações, dar um drible da vaca nos obstáculos que se antepõem à Administração Pública.
É disso que deveria tratar o prefeito Paulinho Serra, não de um triunfalismo que, vejam só, o coloca na condição obrigatória de obter resultados positivos quando, de fato e para valer, o que encontrou ao assumir a Prefeitura de Santo André foi um gigantesco pepino frente aos anseios da sociedade. A Santo André Viveiro Industrial virou Santo André Viveiro Assistencial que elegeu Carolina Serra deputada estadual.
FORMA DE GOVERNAR
No fundo, como a atuação internacional de Paulinho Serra é uma repetição do jeito de governar Santo André desde primeiro de janeiro de 2017, essa é a principal razão que me fez postergar e não responder ao convite para ser conselheiro especial de Paulinho Serra.
Acho que o prefeito Paulinho Serra não me ouviria com a devida atenção e compromisso diante do abismo que nos separa no entendimento do que é Santo André e a região como um todo.
Observo a cena municipal e regional sem o viés de torcida organizada que cerca o prefeito de Santo André. Sou um analista, obrigado a esquecer a paixão pela região e a encarar para valer tudo o que está aí em forma de empobrecimento social, derivado de desindustrialização que está longe de se encerrar. Principalmente agora que se descortinam veículos eletrificados e híbridos e seus efeitos economicamente constrangedores à região.
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29/11/2024 TRÊS MULHERES CONTRA PAULINHO