Vou-me embora pra Passárgada
Quero ser amigo do Rei Aidan
Lá não tenho mulher nem filhos
Mas vou me esbaldar no Paço
Porque senão marco passo
Vou-me embora pra Passárgada
Vou-me embora pra Passárgada
Porque São Bernardo não dá pé
Quero ser amigo do Rei Aidan
Protegido por gente de muita fé
Vou-me embora pra Passárgada
Vou-me embora pra Passárgada
Porque o Rei Aidan é o Rei Midas
Onde ele coloca as mãos
Tudo se resolve sem intrigas
Vou-me embora pra Passárgada
Vou deixar o Jardim do Mar,
Vizinho da Cidade da Criança,
Lugar bem melhor que a Vila Vitória
Onde construí minha esperança
Quero estar ao lado do Rei Aidan
Abençoado em tudo pelo Diário
Vou-me embora pra Passárgada
Porque ali sim é que é legal
Não existe problema público
Para o Rei Aidan resolver
Tudo está em seu lugar
Pelo menos nas colunas do jornal
Vou-me embora pra Passárgada
Não vou sentir saudade de Bernô
Apesar de ser muito grato a Deus
Por estar entre os incluídos
Numa região coalhada de deserdados
Como resistir à corte do Rei
Proclamada nas páginas do Diário?
Vou-me embora pra Passárgada
Terra de soluções a toque de obstetra
Como recusar à ideia de melhorar
O padrão de vida garantido nas manchetes
Enquanto outras três cidadelas
Dirigidas por vermelhinhos adversários
Se tornaram territórios de otários?
Em Passárgada encontramos de tudo
É mesmo outra e invejável civilização
Mesmo os problemas que não
Podem ser escondidos acabam
Magistralmente dissimulados
Em rodapés de páginas que
Para os Vermelhinhos
Coitados dos Vermelhinhos
Se transformam em aberração
Vou-embora pra Passárgada
Não sei por que demorei tanto para
Chegar a essa ideia tão feliz
Sou mesmo um imbecil que não
Enxerga um palmo à frente do nariz
Vou-me embora pra Pássargada
Quero ser íntimo do Rei Aidan
O problema todo é que desconfio
De que não haja mais abrigo
Porque quem chegou primeiro
Fechou o cerco e definiu bem definido
Quem é aliado e quem é inimigo
Passárgada tem tudo o que sonhei
Trânsito fluente e transporte rápido
Time de Primeira Divisão que é
Sucesso em campo mesmo que
Um deserto nas bilheterias
Mas isso pouco importa
O dinheiro jorra a um estalar de
Dedos de conveniências mútuas
Vou-me embora pra Passárgada
Que vai ter Poupatempo da Saúde
Que promete Pólo Tecnológico
E também Metrô sobre trilhos
Vou-me embora pra Passárgada
Vou-me embora pra Passárgada
Que deu o golpe da Cidade Pirelli
Sem que ninguém se manifeste
Em assunto que virou peste
Vou-embora pra Passárgada
Onde prevaricar faz parte da rotina
Denunciar pode porque nada acontece
Senão a possibilidade clara de
Desclassificar quem se aventura
Vou-me embora pra Passárgada
Vou-me embora pra Passárgada
Porque além de Rei Aidan artista
Tem um Vice-Rei de fonética semelhante
Que faz o Paço tremer a cada visita
Vou-embora para Passárgada
Muito melhor que a Terra Prometida
Vou-embora pra Passárgada
Porque tudo que é ruim está banido
De veiculação aos crédulos súditos
Mesmo quando não tem jeito de segurar
Basta minimizar graficamente
Para ficar muito bem escondido
Vou-embora pra Passargada
Minha querida e amada Bernô
Que me desculpe porque também
Sou filho de Deus e preciso fugir
Dessa arapuca de marquetologia
Vou-embora pra Passárgada
Quero abraçar o Rei Aidan
Não adianta me dizerem que
O Rei Aidan não tem mais
Braços para me enlaçar porque
Não acredito nisso como veredito
Rei Aidan é generoso e carismático
Ele sabe como ninguém conviver
Com as circunstâncias alvissareiras
Que o retiraram do borralheirismo das
Mulheres grávidas de Vila Luzita
Vou-me embora pra Passárgada
Porque tudo lá é lindo e maravilhoso
E mesmo quando existem fatos
Consumados de que não passa de
Um endereço igualzinho aos demais
Sempre uma manchete estratégica
Tratará de manter puro o reinado de
Aidan e de seu Vice-Rei ou seria
De fato Aidan Vice-Rei
E o Vice-Rei o Rei de fato?
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11/11/2024 GRANDE ABC DOS 17% DE FAVELADOS