Tenho afirmado e reafirmado nas redes sociais que o livro DETROIT À BRASILEIRA vai ser a maior obra da história do Grande ABC. Podem achar que sou arrogante, presunçoso, digam o que quiserem. Sei bem o que estou escrevendo e sei muito bem também o que já escreveram.
DETROIT A BRASILEIRA não é uma ilha de análises no interior do Arquipélago Cinza em que se transformou a região desde a febre emancipacionista. É o compromisso de uma integração de conceitos que não resistiram ao municipalismo autofágico e ao regionalismo ficcional, entre outras porções de estragos individuais e coletivos.
Sei por conta de longo aprendizado jornalístico o quanto não sabemos o que somos como aglomerado humano que não se dá conta do óbvio – somos órfãos de organização coletiva e de planejamento público, seguindo rigorosamente o padrão nacional, com pitadas de agravamento.
DETROIT À BRASILEIRA é uma terra desconhecida da maioria local e também externamente. Talvez o seja pela quase totalidade que pensa entender os traçados de regionalidade.
DOMINÓ DE HUMANIDADES
Quando se avançam algumas casas e se chega a um território mais nobre, o território da macrorregionalidade, não se encontram portadores da carteirinha na lapela de identificação. É mais fácil, muito mais fácil, encontrarem fugidios covardes instalados nos porões da sabotagem, da omissão e do oportunismo contumaz.
Conhecem-se apenas algumas peças desgarradas de regionalidade do mosaico social e econômico, e também cultural. O que vamos fazer é juntar peça por peça num desenho esquadrinhado para dar tons e consistência de harmonia histórica, até se chegar à macrorregionalidade.
Tudo, portanto, para construir formatação intrinsicamente complementar. Um dominó de humanidades. Um enxadrismo mais nobre de habilidades cognitivas coletivista além-fronteiras municipais.
Ironicamente, e justificadamente, tudo que falta à essência compulsória mas renegada à regionalidade do Grande ABC, sobre a qual poderia vicejar a macrorregionalidade. Uma regionalidade farsesca, cultivada em nome de fraudulenta adesão aos valores institucionais.
CLUBE DE AMIGOS
O Clube dos Prefeitos, originalmente Consórcio Intermunicipal, é exemplo-base dessa tragédia. Se já era inútil sem a aptidão político-administrativa de concepção convencional, tornou-se trágico como ferramenta político-partidária instrumentalizada por grupos gulosos pelo poder ambicioso de grupos de mandachuvas e mandachuvinhas.
Temos obras literárias fabulosas na região e que, de alguma forma, exatamente por tratarem da região, me inspiraram. Os autores precisam ser reverenciados no mínimo como desbravadores e incentivadores da ocupação intelectual destas terras tão subordinadas a preconceitos mútuos da vizinha Capital, nossa Cinderela do Complexo de Gata Borralheira.
A diferença entre DETROIT À BRASILEIRA e todo o conjunto disponível de livros que tratam de alguma forma de temáticas específicas da região é que teremos, de fato, a primeira obra com abordagem macrorregional. Com o adicional de que resulta de mais de meio século de jornalismo multitemático na região. Uma linha do tempo que jamais foi interrompida. Mais que isso: evoluiu com causas e efeitos dimensionáveis.
Vou explicar o que significa macrorregional, derivativo dos conceitos de regionalismo que prego nesse deserto de comprometimentos e que explica por que chegamos aonde chegamos.
FASE DE EXECUÇÃO
Com as explicações que vou dar em seguida, leitores mais apressados e eventualmente deletérios jogarão na lata do lixo a intempestiva chuva de adjetivos com que me contemplaram após os primeiros parágrafos deste texto.
DETROIT À BRASILEIRA será sim o maior livro da história da região. Até prova, cá entre nós, já existe de forma espalhada, pronto para garimpo mais detalhadíssimo, nas páginas desta revista digital. São mais de oito mil textos editados. Textos significam em larga escala estudos, análises. Notícias não frequentam essa freguesia.
Por mais incrível que possa parecer, embora já tenha tomado medidas estratégico-editoriais essenciais, ainda estou mexendo os pauzinhos da flexibilidade para promover o aperfeiçoando e as engrenagens conceituais de DETROIT A BRASILEIRA.
Vários capítulos já saíram do forno cérebr0-sensorial. É isso mesmo: tudo o que tenho a oferecer aos leitores está nessa peça de bom tamanho acima do pescoço. Essa é minha propriedade intelectual transferível a quem entender que sirva a alguma coisa.
PROGRAMAÇÃO EDITORIAL
Iniciar um livro discricionariamente por capítulos não necessariamente modulados pela cronologia das páginas físicas que virão não é uma aventura. A programação editorial já está praticamente esquadrinhada. Algo como planta de uma casa térrea.
Pode-se começar a obra considerando-se várias possibilidades. Uma piscina aqui, um espaço aos cachorros ali, uma jabuticabeira num canto, uma edícula lá nos fundos. Tudo isso não é obstáculo à empreitada geral.
O teto de aço pretensamente impermeável a lacunas de DETROIT À BRASILEIRA será o texto de abertura da obra. Ou seja: deixaremos para a etapa final o que simplificadamente terá a explicitude de um painel de controle e direcionamento à compreensão do que se seguirá nas demais páginas.
Pode parecer incongruente tomar o comando desse comboio versátil de temas caros à macrorregionalidade do Grande ABC enquanto vou ajeitando as peças para acomodá-las nos espaços mais apropriados possíveis. Posso garantir que a operação de modo algum vai atrapalhar a edição impressa. O roteiro jornalístico está sendo azeitado para satisfazer a saciedade de quem busca conhecimento sobre esse território de três milhões de habitantes.
Avalio criticamente como cheguei ao título mais que pretendido ao optar por DETROIT À BRASILEIRA como reprodução fiel do que imagino nessa obra, a quinta em termos físicos de minha vida.
Poderiam ser pelo menos 20 livros diferentes, embora sob a mesma temática, a regionalidade e a macrorregionalidade, se operasse transfusão bastante seletiva do que existe em mais de oito mil textos incorporados ao acervo desta revista digital.
Tenho cá comigo que DETROIT À BRASILEIRA resolverá todas as frustrações de não ter levado a cabo os muitos outros livros que poderia ter escrito ao transferir tematicamente, em cada obra, a diversidade de análises que faço de forma mais resiliente desde março de 1990, quando criei a revista de papel Livre Mercado, antecessora de CapitalSocial.
UM TÍTULO-EXPRESSÃO
Mas nada é por acaso e muito menos, por isso, devo levar a sério o sentimento de frustração que sempre aparece em momentos de reflexão menos otimista, que são poucos.
DETROIT A BRASILEIRA é um tiro certeiro à execução do projeto a que me lancei há algumas semanas. Mais que título, se transforma em expressão. Um título-expressão
Ou alguém tem dúvidas de que DETROIT A BRASILEIRA concentra elevada octanagem ética e moral de humanismo, racionalidade, paixão, determinação, comprometimento e tudo que possa ser catalogado etimologicamente como uma concentração de insumos desafiadores à interpretação? Não faltará combustível a esse movimento em direção específica às novas gerações.
DETROIT À BRASILEIRA é muito mais que um livro físico que pretendo levar aos leitores já maduros, ou em fase de amadurecimento pessoal e social. No fundo, viso mesmo meninos e meninas de hoje que vão virar cidadãos em no máximo 15 anos.
PARA NOVA GERAÇÃO
Nem a perspectiva fundada na regressividade institucional e social da região nos últimos 30 anos me torna pessimista ante o futuro que chegará aos meninos e meninas. Tivemos nesse período algumas lideranças interessantes, capazes de mudar durante um curto período a roda da história regional.
Não vou entrar em detalhes sobre especificidades temáticas e de ordem editorial propriamente dita de DETROIT À BRASILEIRA. Primeiro porque nem tudo está completamente fechado. Segundo porque, mesmo se estivesse, não cometeria o pecado de exibir as linhas específicas de uma arquitetura editorial que poderia ser objeto de idiossincrasias.
Revelo apenas, e mesmo assim estrategicamente, alguns pontos sobre os quais serei mais profundamente cavoucador de intervenções. Despertar a curiosidade sem perder o fio condutor, organizador e centralizador de uma imensidão de pautas que se entrecruzarão no mesmo sentido explícito que mais que justificaria, sintetizaria o título-expressão escolhido.
Não fossem os 35 anos corridos de LivreMercado-CapitalSocial, a maior, melhor e mais continua experiência prática de jornalismo regional no País, seria impossível escrever DETROIT A BRASILEIRA.
Mas é preciso lembrar e reconhecer também que os tempos anteriores, em diversos endereços midiáticos, especialmente no Diário do Grande ABC durante 16 anos e também na Agência Estado, do Grupo Estado, durante quase três anos (sem contar uma década de freelance na área esportiva) começaram a preparar o terreno de fertilidade à empreitada.
SEM MANIQUEÍSMOS
Num exercício de franqueza sem contenção em forma de politicamente correto, diria que tenho mais potenciais de vantagem sobre qualquer outro jornalista local ou nacional que pretenda escrever sobre DETROIT À BRASILEIRA. Afinal, além da longevidade profissional no próprio campo de batalha de ativos e passivos do Grande ABC, jamais fui capturado pelo extremismo desclassificatório ou santificador de enxergar com vieses ideológicos liberais e socialistas.
Sempre enxerguei a região e o jornalismo como porções de uma mesma missão – a missão de traduzir observações nos vários campos de atuação que a atividade me proporcionou.
Por isso direitistas me condenam sobre o caso Celso Daniel e esquerdistas por conta da desindustrialização da região – entre os pontos antagônico no espectro ideológico aos quais jamais permiti autocontaminação.
DETROIT A BRASILEIRA é a obra que haverei de terminar e – agora vou para uma das muitas finalidades a que servirá – recomendarei a meus filhos que entreguem um exemplar a eventuais vagabundos sociais que ousarem cometer o pecado de não enxergar as obviedades que milhares de caracteres cristalizarão em forma de indignação e esperança de reformismos que teimam em resistir e a comprometer um futuro regional cada vez mais sombrio.
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11/11/2024 GRANDE ABC DOS 17% DE FAVELADOS