O anúncio do encontro festivo de amanhã na sede do Clube dos Prefeitos do Grande ABC é um escárnio. Há R$ 315 bilhões de razões para que essa constatação não seja lançada na cova rasa de fake news, como pretendem os bandidos sociais conhecidos ou na moita dissimulatória.
Desde que o Clube dos Prefeitos foi criado, em dezembro de 1990, a qualidade de vida da região desabou incontrolavelmente. Já dera sinais e provas antes, mas o fosso se aprofundou. Por isso, não bastasse a alienação, quando não a insensibilidade do colegiado regional, foi convidado para o baile de máscara de abuso institucional o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes.
A Gata Borralheira de sete territórios da região vai recepcionar a Cinderela de uma Prefeitura e 32 subprefeituras. No vácuo de 35 anos entre a criação do Clube dos Prefeitos e a atualidade, há um déficit de R$ 315 bilhões em forma de geração de riqueza. Isso seria suficiente para dar o tom de inquietação ao encontro abusivamente, desrespeitosamente e cruelmente festivo.
FALSOS SALVADORES
A sociedade servil e desorganizada acredita nos falsos salvadores da pátria. Mas há sinalizações em contrário. Nada menos que 62% dos eleitores com direito a voto nas últimas eleições rejeitaram os vencedores municipais. A média de votos não passou de 38%. Esses números são omitidos pela mídia chapa-branca.
Quem tratar a reunião de amanhã no Clube dos Prefeitos sem respeito às vítimas do cotidiano da metrópole mais ensandecida do País é cumplice de um fracasso coletivo anunciado.
São inúmeras as análises e as entrevistas que esta revista digital, sucessora da revista de papel Livre Mercado, coleciona ao longo dos últimos 35 anos. Questões metropolitanas sempre pautaram a ordem editorial. E praticamente nada se fez nem no Grande ABC nem na cidade de São Paulo para dar alguma organicidade na bagunça de governança político- administrativa-institucional.
PERÍODO ESCLARECEDOR
Não custa repetir que há mesmo uma diferença de R$ 315 bilhões de geração de riqueza entre 1990 e 2023 envolvendo os oito municípios. O processo de desindustrialização é implacável. E a falta de reposição em forma de alternativas para superar o esvaziamento da manufatura de produtos deve ser contabilizada como imprevidência, inapetência e irresponsabilidade dos mandachuvas e mandachuvinhas que controlam as administrações dos oito municípios desde muito tempo. São Paulo, nesse caso, escapa da armadilha do duplo pecado. O setor de serviços da Capital é múltiplo e transformador para evitar caos ainda maior que a deserção industrial promoveu.
Os sete prefeitos que estão no Clube dos Prefeitos do Grande ABC transformaram o prefeito de São Paulo em gaiato no navio de engabelações. Mas também têm poções de vítimas. Eles estão pegando o bonde de inapetências dos antecessores. Por isso, deveriam fugir de proselitismos e demagogia. A ambição vale mais que a precaução. O carreirismo sufoca a cidadania.
A cada novo dia de jornada à frente das prefeituras os prefeitos que tomaram posse em janeiro se superam em exibicionismos marqueteiros. Estão em todas as paradas da Internet e nas mídia chapa-branca. Como não há futuro que não confirme o passado de descuidos, todos mesclam entusiasmo quase juvenil com reclamações execradoras dos antecessores imediatos. Há dualidade persistente. Atacam para se promoverem, mas, paradoxalmente, mostram os fundilhos do esfacelamento histórico.
CONTROLE TOTAL
A disputa eleitoral ainda não acabou. Mais que isso: o Clube dos Prefeitos que propagandeia nova regionalidade em parceira com a quase totalidade da mídia, não passa de um grupamento vinculado a uma dinastia em fase de construção.
A ordem geral dos mandachuvas é dominar o Grande ABC nos próximos 20 anos, independentemente de agremiações partidárias que cada prefeito representa. Trata-se de suruba político-partidária. Todos terão direitos a privilégios. Quem está escalada para apanhar o sabonete na hora do banho coletivo é a sociedade servil e desorganizada.
O encontro que deveria marcar, entre outras possibilidades, o anúncio da composição de um conselho de especialistas em regionalidade, sobretudo no campo do Desenvolvimento Econômico, será um rega-bofe de discursos repetitivos e inócuos. E também o requentamento de pautas antigas que jamais foram levadas a cabo. Ou o foram sem que alterassem o rumo das águas da região.
ECONOMIA NOTA ZERO
A nova turma de prefeitos da região é um exército de Brancaleone em Economia. Não existe um exemplar sequer que sustente conhecimento. O prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos, Marcelo Lima, de São Bernardo, sintetiza a constatação que confirma e agrava o padrão dos 35 anos da entidade. Marcelo Lima escalou para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo um iletrado em competitividade econômica. Rafael Demarchi simboliza o desconhecimento generalizado de representantes públicos à frente de pastas econômicas.
Vamos nos limitar ao que chamaria de subordinação da cidadania do Grande ABC às injunções politiqueiras dos dois primeiros meses da nova turma do Clube dos Prefeitos. Vamos comparar a produção de riqueza nas últimas três décadas. Mais precisamente aos 34 anos que separam 1990 de criação do Clube dos Prefeitos e 2023, de dados mais atualizados da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo.
Os dados de 1990 são um achado de CapitalSocial. Não estão disponíveis em lugar algum. É um dos muitos documentos que constam do acervo deste jornalista.
LARGADA DOS NÚMEROS
Em 1990, quando a presidência da República era ocupada por Collor de Mello e o Grande ABC assistia ao crescimento do Partido dos Trabalhadores, inclusive com a vitória de um jovem e inexperiente Celso Daniel em Santo André, a participação relativa dos sete municípios no Valor Adicionado do Estado de São Paulo registrava 11,59%. Num passado não muito distante desse, chegou a 15%. Mas, deixemos isso de lado.
Valor Adicionado é, resumidamente, espécie de PIB sem impostos e agrega tudo que, por exemplo, transforma granulados petroquímicos em peças e acessórios automotivos. É uma cadeia de transformação de matéria-prima em produto e serviço final. Inclusive com a participação dos valores salariais dos trabalhadores.
Os valores monetários da comparação nesse período têm na origem o Cruzeiro como moeda nacional. Por isso partimos do princípio de participação relativa de cada Município investigado, sem recorrer à atualização mais complexa da moeda.
NÚMEROS TENEBROSOS
Em 2023 a moeda nacional era como hoje o Real, mas um Real que até chegar a ser Real passou por várias metamorfoses e denominações. Só virou Real com o Plano Real, em 1994. Entre o Cruzeiro de 1990 e o Real de 2023 a inflação comeu solta. E metamorfoseada. Por conta disso, os cálculos que se seguem são desdobramentos da participação relativa.
No caso do Grande ABC, o total do Valor Adicionado de 1990 alcançou CR$ 1.076.922.667, enquanto o total estadual registrou CR$ 9.293.583.215. Exatamente 11,59%. Já em 2023, passados, portanto, 34 anos, o Grande ABC contabilizou R$ 136.546.724.811 bilhões, ante Valor Adicionado de R$ 1.898.083.246487 trilhões no Estado de São Paulo. Resultado? Participação relativa de 7,19%. Feitas as contas, registra-se no período queda de 37,96%, ou nada menos que 1,12 pontos percentuais em média por ano. Um Valor Adicionado decrescente, portanto.
A cidade de São Paulo que se encontrará amanhã com as sete cidades da região tem trajetória semelhantemente dramática. De participação relativa de 28,08% do bolo estadual de Valor Adicionado em 1990 (CR$ 2.609.379.366, caiu em 2023 para 15,90% (R$ 301.846.384.988) – ou 43,37%.
DE 39,66 A 23,10
A soma de Valor Adicionado do Grande ABC e da Capital representava 39,66% de tudo que se criava de riqueza no Estado de São Paulo quando o Clube dos Prefeitos foi criado em dezembro de 1990. Já em dezembro de 2023, ou seja, 34 anos depois, não passava de 23,10%. Uma queda de 41,76%.
Tao importante quanto a revelação desses dados é a descaracterização dos resultados como suscetíveis a contestações. A relatividade de perdas não significa apenas que na média o Estado de São Paulo cresceu mais que o Grande ABC e a cidade de São Paulo juntos. Significa também, por conta de outros indicadores analisados ao longo do tempo por este jornalista, que a queda também se caracteriza em valores absoltos em proporções semelhantes. Ou seja: o Grande ABC e a cidade de São Paulo perderam de fato tanto internamente, intraterritórios, como relativamente, extra-território.
Em valores atualizados a dezembro de 2023, a perda de geração de riquezas em forma de Valor Adicionado do Grande ABC alcançou R$ 83.561.277 bilhões apenas na ponta dessa cronologia de esfacelamento regional. É uma comparação ponta a ponta, não acumulada.
JUNTOS E INSEPARÁVEIS
É praticamente impossível uma contagem ano-a-ano, levando-se em conta a participação relativa e os valores absolutos.
Só o volume de recursos financeiros que escapuliu principalmente em forma de desindustrialização é suficiente para um diagnostico que justificaria o descalabro de encontro comemorativo numa região em que as manchetes de jornais contam no dia a dia até que ponto se desceu às profundezas de insanidades sociais.
Nada de que a cidade de São Paulo possa se descolar. Muito diferente disso. Bem aconselhado, o prefeito Ricardo Nunes possivelmente não participaria desse encontro com os borralheiros que raramente, desde 1990, e muito mais antes disso, se lançaram para valer em busca de atendimento à sociedade. E atender à sociedade é cuidar da Economia para que a sociedade não sofra tanto.
Na edição de amanhã vamos tratar de mostrar dados municipais do Grande ABC. Os detalhes são estarrecedores. Como se necessários fossem.
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10/03/2025 POBRE COMPLEXO DE GATA BORRALHEIRA!