O calendário e a hierarquia do futebol paulista oferecem oportunidade especial, que, tomara, não seja única, de os três principais clubes do Grande ABC contribuírem à costura de algo que seja entendido, disseminado e aplicado como integração regional. Santo André, São Bernardo e São Caetano vão disputar, pela primeira vez na história, o principal campeonato regional do País, ano que vem. Já imaginaram se seus dirigentes reservarem apenas para o campo de jogo a rivalidade da qual concorrentes não devem mesmo abrir mão? Já imaginaram se sentarem à mesma mesa e, com gente que entende de marketing, resolverem traçar planos de enredo particular do Grande ABC no enredo maior daquele campeonato?
Certo mesmo é que o futebol do Grande ABC daria uma lição, para não dizer uma sova, nos dirigentes políticos, partidários, econômicos e sociais que, ao longo de décadas, não tiveram competência, interesse, desprendimento ou seja lá o que for para separarem municipalismo de regionalismo, atribuindo-se a cada conceito o devido valor sem que os valores se anulassem ou se minimizassem. A soma das partes do Grande ABC sempre se traduziu no todo menor. Uma contabilidade esquizofrênica, mas verdadeira, que o futebol mimetizou ao longo dos tempos mas que agora, situação mais que apropriada à cooperação, poderá ser revertida.
Tenho um monte de ideias sobre o que poderia fazer o Ramalhão, o Tigre e o Azulão nessa empreitada de valorização da marca do futebol do Grande ABC na passarela mais disputada do futebol regional brasileiro, no caso o Campeonato Paulista. Não são bobagens como alguns poderiam supor, desconhecendo que por trás de cada pensamento há um passado de realizações.
Ou alguém no Grande ABC tem no currículo 15 edições do Prêmio Desempenho Empresarial, Prêmio Desempenho Social e Prêmio Desempenho Cultural, com a entrega meritocrática (sem contrapartidas financeiras de premiações fajutas cujos ganhadores são artificialmente guindados a láureas que se esvanecem) de 1.718 troféus a mais diferentes matizes de representações sociais? Foram um acumulado de 50 mil convidados que compareceram aos eventos desfilando emoção, muita emoção.
Embora não pretenda expor propostas à transformação do Campeonato Paulista do ano que vem numa arena regional que poderia sensibilizar a sociedade local a descobrir que não somos apenas montadoras de veículos, não resisto à comichão. Que tal, dentro da disputa do Campeonato Paulista, criar-se um troféu regional, envolvendo apenas as três equipes locais, cujos resultados dos jogos determinariam o vencedor final?
Ou seja, teríamos uma Copa Grande ABC ou algo equivalente dentro do Campeonato Paulista. A iniciativa simbolizaria o pertencimento regional numa competição estadual, daria um toque de exclusividade regional num ambiente frequentado por outros 17 convidados.
Vou em frente: que tal se esse mesmo troféu fosse patrocinado por uma empresa de peso, que tenha interesse de veicular imaginem ao Grande ABC? Afinal, estamos falando de futebol profissional.
São Caetano, Santo André e São Bernardo vão-se enfrentar numa espécie de triangular no Campeonato Paulista, em turno único. O Santo André jogará em casa com o São Bernardo, o São Bernardo em casa com o São Caetano e o São Caetano em casa com o Santo André. Não necessariamente nessa ordem cronológica, mas obrigatoriamente nessa ordem de mando de jogo. Serão três jogos especiais, convenhamos, desde que os dirigentes também avaliem assim e não deixem para a última hora a mobilização de medidas de marketing para potencializar individualmente cada jogo.
Entretanto, muito mais que os três jogos que os envolverão diretamente, o calendário da competição com 19 compromissos para cada equipe, deve estar alinhado num plano de marketing regional acima de idiossincrasias esportivas, sociais e políticas.
Tenho minhas dúvidas, profundas dúvidas, sobre o alcance prático dessa proposta, porque é sempre mais fácil e cômodo desclassificar uma sugestão quando não se tem vocação ao empreendedorismo. Talvez o São Bernardo e o São Caetano sejam mais sensíveis a estudos que particularizem regionalmente uma disputa que aparentemente está circunscrita ao âmbito estadual. O Santo André sofre os efeitos mandonísticos de um presidente que é dono de jornal que se sente o primeiro poder da praça, sem se dar conta de que o tempo passou, que a revolução nas comunicações alterou as regras do jogo e que há disponíveis no mercado muitas alternativas (e também melhores) do que aquelas páginas impressas. Tomara que eu esteja enganado e que o senhor Ronan Maria Pinto não se exceda nas eventuais aproximações.
Vou mais longe na proposta de transformar o próximo Campeonato Paulista numa ação sinérgica do futebol em prol da regionalidade mambembe que vivemos. A configuração e a execução de um plano estratégico de potencialização esportiva e social dos nossos clubes seriam mesmo deflagrados tendo em vista o primeiro semestre do ano que vem, mas permitiria ou mesmo obrigaria saltos maiores e mais longevos. O futuro não se limitaria àquela temporada de jogos paulistas. Só estaria faltando a uma prolongada ação conjugada a participação do São Bernardo na Série B do Campeonato Brasileiro, instância frequentada por Santo André e São Caetano. O calendário estadual somado ao nacional daria cobertura extraordinária aos planos de integração regional pelo futebol.
Por isso mesmo, a ação aqui proposta teria de ser permanente, com aperfeiçoamento, senso crítico, empenho dos clubes envolvidos e, quem sabe, mais adiante, a formatação de uma ação integrada também de marketing de resultados. Quem sabe um grande patrocinador cobriria a camisa dos três clubes, numa iniciativa da qual todos usufruiriam.
Viram que vou invadindo a grande área de soluções mais que viáveis? Mas, por enquanto, paro por aqui. Acho que o recado está dado e que os dirigentes têm muito a contribuir para a sociedade regional tão sofridamente sem norte caso deixem as rivalidades nos gramados e plantem as primeiras sementes de uma coalização esportivo-empresarial.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André