Esportes

Estatística já derrubou Ramalhão;
agora só está faltando a matemática

DANIEL LIMA - 15/11/2010

Cantei faz tempo a bola da queda do Santo André à Série C do Campeonato Brasileiro, da mesma forma que fui um dos primeiros a apontar a equipe como sensação e vice-campeã do Campeonato Paulista da Série A. Bastam os leitores pesquisarem neste site, cujos textos, mesmo de uma atividade movida a paixão como o futebol, não são suprimidos nem alterados por qualquer tipo de conveniência. Por isso, não causa surpresa alguma a situação do Ramalhão ao restarem agora apenas duas rodadas do total de 38. A estatística já derrubou o Santo André — e vou explicar na sequência — enquanto a matemática segura a barra no fio da navalha, que não resistirá à próxima rodada.


Por que, afinal, há uma oposição entre estatística e matemática na definição classificatória do Ramalhão na Série B? Porque desde que começou a ser disputada por 20 equipes em turno e returno, nenhuma das equipes rebaixadas somou menos de 44 pontos. O Santo André está com 37 pontos e chegará ao máximo de 43 se vencer o Bahia sábado em Salvador e o Náutico na semana seguinte no Estádio Bruno Daniel. Está aí explicado o ônus estatístico.


Quanto à matemática, ainda é possível com 43 pontos o Ramalhão escapar da queda, mas, para isso, precisará tanto de múltipla combinação de resultados das equipes que estão à frente — e, infelizmente, todas estão à frente — que provavelmente nem o presidente do Saged, empresa privada que administra o Ramalhão, acredita.


Aliás, Ronan Maria Pinto não acredita mesmo, porque há muito tempo jogou a toalha e nem comparece aos jogos fora de casa. Ronan Pinto é desses casos que se dá muito bem com vitórias dentro e fora de campo, mas tem dificuldades para entender que a vida não é só comemoração. Quem esperar de Ronan Pinto comportamento de liderança em momentos de transtornos, perca a esperança. Ele prefere é pedir colo, quando não ameaça jogar a toalha como forma de pressão àqueles que em muitas situações fez ouvidos de mercador.


Mas tudo não passa de encenação. Inclusive agora quando se imagina que recuaria do Saged. Ele está mesmo é preparando um preposto para poupar-se de contratempos. Pretende transformar Marcelinho Carioca no gerentão do Ramalhão. Justamente Marcelinho Carioca, craque dos gramados, perna-de-pau nos relacionamentos marcados por explosiva octanagem de idiossincrasias.


Não tenho dúvida de que a queda do Santo André é obra diretiva. E a prova viva dos desequilíbrios diretivos do presidente Ronan Maria Pinto é o desempenho da equipe sob o comando de Jair Picerni, chamado às pressas quando restavam apenas 10 rodadas, depois do tiro nágua que significou um técnico (Fahel Júnior) trazido pelo passado lotérico de resultados que salvaram o Santo André do rebaixamento em 2007.


Jair Picerni mal teve tempo para treinamentos, mas descobriu jogadores no elenco muito mal aproveitados. Bastou a acuidade de observador para montar um grupo que, com mais tempo, teria escapado do vexame. E o jogo contra o Sport Recife na noite de sexta-feira prova isso: o Santo André dominou completamente um adversário que disputa vaga no G-4 e só não saiu com os três pontos porque os nervos estão à flor da pele. O Ramalhão é um turbilhão de insegurança.


Queria saber como pode o Ramalhão deixar no banco de reservas um segundo volante como Allan, um lateral como Dênis, um atacante como Borebi, um meia mal-escalado até então como Richely e um armador como Aloísio. Não estou dizendo que eles sejam craques, que deveriam ser intocáveis, mas, convenhamos, atuaram muito acima dos titulares que os precederam no festival de contratações e substituições que se seguiu ao desmanche do time vice-campeão paulista.


Jair Picerni teve o mérito de blindar o grupo de intromissões diretivas e de agentes bisbilhoteiros que infernizam qualquer ambiente. Chamou para si a responsabilidade de escalar a equipe. Talvez até por isso não fique no Ramalhão.


Leio no Diário do Grande ABC que a manutenção de Jair Picerni ainda não foi tratada com vistas ao Campeonato Paulista. Se de fato for verdade, comete-se mais um equívoco. Jair Picerni credenciou-se nesse final de temporada a conduzir a gestão reestruturadora do Ramalhão. Entreguem-lhe o planejamento e pelo menos teremos uma certeza, se fatores externos não voltarem a contaminar o ambiente como ocorreu com Sérgio Soares, técnico de sucesso que o Santo André entregou de bandeja ao Atlético Paranaense. Que surpresa? O Santo André provavelmente não jogará tanto dinheiro fora com enxurrada de contratações.


Há jogadores no elenco atual de mais de 40 profissionais que podem ser muito bem aproveitados no Campeonato Paulista. E que o Campeonato Paulista não seja mais um desdobramento da megalomania diretiva de imaginar-se entre os primeiros colocados, como se anunciou antes das rodadas iniciais da Série B mesmo com o time esfacelado. Na situação em que se encontra o Santo André, com rombo financeiro estratosférico em 42 meses de atividades do Saged (os dados serão revelados nos próximos dias neste espaço, e são assustadores, porque vão muito além da contabilidade tradicional), o melhor que se tem a fazer é recolher as armas e disputar a competição com parcimônia.


Fugir de novo rebaixamento, combinando-se a projeção com o estancamento da derrama deficitária, é o caminho indicado.


A queda para a Série C sinaliza um futuro muito amargo para o Ramalhão. Isso já é suficiente para a humildade chutar a soberba para bem longe.


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