Economia

Beleza de Diadema vai retomar
a agenda desenvolvimentista?

DANIEL LIMA - 26/10/2011

Leio na versão digital do jornal ABCD Maior a notícia de que Diadema vai revitalizar o Polo de Cosméticos. Isso me remete a uma das inúmeras grandes matérias que a equipe da revista LivreMercado sob meu comando produziu ao longo de quase duas décadas. Foi a sempre detalhista jornalista Vera Guazzelli quem cuidou daquela Reportagem de Capa que levou a beleza de Diadema a um patamar jamais antes alcançado.


Mais precisamente, e sem qualquer autobajulação, porque é história, publicamos a primeira reportagem/análise sobre o Polo de Cosméticos de Diadema. Até então, prevaleciam informações esparsas sobre o que seria o indício de uma atividade econômica que reunia alguma densidade geográfica.


Quanto me refiro a reportagem/análise não exagero. Quem acompanhou a então melhor revista regional do País sabe o quanto de profundidade havia em cada parágrafo. Jamais aceitamos fazer uma revista como todos faziam e ainda fazem por estas e tantas outras bandas: um simulacro de jornalismo diário com embalagem mal-ajambrada de jornalismo não-diário. Mas isso não importa agora.


O que interessa mesmo é que, embora possa parecer um abuso, a sugestão que vou dar aos novos responsáveis pelo Polo de Cosméticos, e também aos antigos que sobraram dos tropeços, é a seguinte: leiam atentamente o link que colocamos abaixo, da Reportagem de Capa de julho de 2002 de LivreMercado, material que faz parte do acervo da revista CapitalSocial.


É bom saber que Diadema retoma um rumo organizacional e estratégico que jamais deveria ter perdido. São anos de desperdícios de experiências que precisam ser resgatadas para que se recupere uma parte do ritmo atirado às favas.


Aquele material jornalístico é rico em perspectivas, muitas das quais se consumaram para, em seguida, desaparecerem.


Produzimos ao longo dos anos, sempre nas páginas de LivreMercado, quilos e quilos de textos sobre o Polo de Cosméticos.


Afinal, integrava o sistema de controladoria de produção editorial, a cargo deste jornalista, a manutenção do foco de prioridade em atividades e temáticas que tivessem profunda importância municipal e regional. Não nos descuidamos jamais do Pólo de Cosméticos de Diadema, assim como do Pólo Petroquímico de Capuava, das montadoras de veículos, da infraestrutura social, da infraestrutura material, do mercado de trabalho, do meio ambiente, da relação capital-trabalho e de tantos outros assuntos.


Eram nossos gêneros editoriais de primeira necessidade. particularidades que os leitores não conheciam nem desconfiavam, mas às quais respondiam com fidelidade de leitura porque os alcançávamos em suas percepções.


Fosse uma exceção de refluxo à regra geral de avanço institucional do setor econômico da Província do Grande ABC, a situação do Polo de Cosméticos de Diadema poderia ser lamentada como barco à deriva circunstancial num mar de desenvolvimento de conceitos de potencialização do mercado regional.


Infelizmente a situação é diversa, porque é mais uma pedra do desmonte do dominó de interatividades imprescindíveis para que a competitividade regional não continue a caminhar progressivamente em direção ao desalento.


A relevância de chamar à leitura do texto de Vera Guazzelli daquele julho de 2002 vai, portanto, muito além De simplificar a recuperação memorial de um produto jornalístico, como a maioria ainda entende equivocadamente a transposição digital do acerto de LivreMercado para CapitalSocial.


O que temos nesse caso do Polo de Cosméticos e em tantas outras situações mais ou menos destacáveis é que geralmente não existe nada de novo ou de tentativa de novo no noticiário regional cuja origem não remonte ao passado.


Nada surpreendente, porque ficamos, como sociedade, especializados em enxugar gelo, em retomar indefinidamente, quando retomamos, ações que se espatifaram na parede da discórdia, do desencanto, de imprevidências e de outras enfermidades típicas de uma região que ainda não aprendeu a produzir produtividades. Isso mesmo, produzir produtividades.


Marinheiros de primeira viagem ou marinheiros que ficaram mais tempo em terra firme não sabem o quanto a embarcação da regionalidade da Província do Grande ABC foi desviada inadvertidamente da rota previamente definida e, mais que isso, ficou à deriva, à espera de salvamento.


Também resgatamos aos leitores deste CapitalSocial um texto que publiquei na coluna “Contexto”, do Diário do Grande ABC de 5 de junho de 2004, quando ali, mesmo na condição de Diretor de Redação, atarefadíssimo com a tentativa de colocar ordem numa bagunça editorial que se repetia havia anos, consegui produzir 150 colunas em pouco mais de nove meses de atividades.


Naquele texto, faço uma homenagem a Joel Fonseca, então vice-prefeito de Diadema, descobridor dos sete mares das indústrias de cosméticos locais. Uma acidentalidade, como ele mesmo confessou, a mostrar o quanto, infelizmente, a Província do Grande ABC é movida pelo voluntarismos.


Tomara que a retomada do Polo de Cosméticos de Diadema não seja mais um exemplo de animação subitamente interrompida por idiossincrasias e interesses nem sempre éticos. Os percalços devem, sim, estimular saltos importantes para encurtar o tempo que separa o indispensável do inútil.


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