A Província do Grande ABC viveu durante os oito anos do governo Lula da Silva um saudável contraste em relação aos tormentosos oito anos de Fernando Henrique Cardoso. Depois de ir ao inferno com a perda de 36,22% do Valor Adicionado durante os dois mandatos daquele que liderou a implantação do Plano Real durante o governo Itamar Franco, a Província dos sete municípios da região embalou recuperação movida à indústria automotiva. O resultado é que a Província do Grande ABC terminou os 16 anos com perda acumulada de apenas 4,04%.
Pena que a comparação com outros municípios e regiões do Estado de São Paulo seja assunto desagradável para quem espera um futuro menos complicado para mais de 2,6 milhões de habitantes.
Para se ter ideia do quanto a Província do Grande ABC marcou passo durante mais de uma década e meia, metade desse tempo sob a presidência de um ex-metalúrgico que fez carreira na região, basta comparar a perda acumulada de 4,04% com o G3, formado pelas capitais das regiões metropolitanas de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos.
Esses três dos mais importantes municípios paulistas registraram crescimento conjunto de 26,28% no mesmo período, ou média anual de 1,64%. Individualmente, Campinas cresceu 22,29%, São José dos Campos 9,70% e Sorocaba 85,38%.
Perceberam para onde se direcionou boa parte da produção de riqueza em forma de Valor Adicionado, espécie de PIB (Produto Interno Bruto) sem incorporar impostos?
O desenvolvimento econômico de Sorocaba é emblemático do avanço da chamada Grande São Paulo Expandida e da estagnação, quando não do retrocesso, de alguns municípios da Província do Grande ABC.
Em 1994, quando da implementação do Plano Real, Sorocaba registrava Valor Adicionado inferior ao de Santo André: R$ 1.452. 355 bilhões ante 2.309.978. Dezesseis anos depois, Sorocaba estava folgadamente na frente de Santo André, com R$ 11.279.234 bilhões ante R$ 8.791.527 bilhões.
Enquanto a cidade da Província perdia 38,34% de Valor Adicionado em termos reais no período (os números foram deflacionados pelo IGPM, da Fundação Getúlio Vargas), Sorocaba cresceu 357,69%. Entre os 13 municípios listados por CapitalSocial (sete da Província do Grande ABC, São Paulo, Osasco, Guarulhos, São José dos Campos, Sorocaba e Campinas), que estão entre os endereços industriais mais importantes do Estado, apenas quatro acusaram resultado negativo, quando se deflacionam os números pelo índice da FGV. Santo André teve desempenho insatisfatório, mas não foi o pior: Mauá perdeu 123,09% nos 16 anos, Ribeirão Pires 130,98% e São Bernardo apenas 2,27%.
A recuperação de São Bernardo nos últimos anos, por conta dos sucessivos recordes da indústria automotiva, praticamente salvou a honra da Província do Grande ABC. O Município é a Capital Econômica regional. O Valor Adicionado contabilizado no ano passado, de R$ 30,524 bilhões, alcança a 47,35% de participação relativa. Ou seja: a criação de riqueza na Província depende em números quase extravagantes do que se registra em São Bernardo.
Essa dependência praticamente não se alterou ao longo dos quatro mandatos presidenciais desde a implementação do Plano Real, já que em 1994, base dos estudos de CapitalSocial, São Bernardo contava com 45,69% do Valor Adicionado regional. A contraface da moeda é que o setor automotivo, carro-chefe da economia da região, não consegue trafegar na mesma velocidade do restante dos principais municípios paulistas, menos dependentes do mercado sobrerrodas.
Veja a lista dos 13 municípios analisados por CapitalSocial:
a) Santo André cresceu em termos nominais (sem considerar a inflação do período) 280,59%. Levando-se em conta a inflação do período, de 318,93%, perdeu 38,34%.
b) São Bernardo cresceu nominalmente 316,66%, com perda de 2,27%.
c) São Caetano cresceu nominalmente 321,08%, com ganho de 2,15%.
d) Diadema cresceu nominalmente 398,79%, com ganho de 79,86%.
e) Mauá cresceu nominalmente 195,84%, com perda de 123,09%.
f) Ribeirão Pires cresceu nominalmente 187,95%, com perda de 130,98%.
g) Rio Grande da Serra cresceu nominalmente 576,46%, com ganho de 257,50%.
h) São Paulo cresceu nominalmente 448,63, com ganho de 129,70%.
i) Osasco cresceu nominalmente 588%, com ganho de 269,07%.
j) Guarulhos cresceu nominalmente 394,39%, com ganho de 75,46%.
k) Campinas cresceu nominalmente 412,32%, com ganho de 93,339%.
l) São José dos Campos cresceu nominalmente 359,59%, com ganho de 40,66%.
m) Sorocaba cresceu nominalmente 676,62, com ganho de 367,69%.
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