Uma boa notícia para a Província do Grande ABC. Uma notícia exclusiva, aliás: no ano passado, quando o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 7,5%, movido principalmente pelo consumo, que encontrou na recordista indústria automotiva campo mais que fértil, a região cresceu 50% acima da média do Estado de São Paulo. A métrica é o Valor Adicionado, que acompanhamos atentamente ao longo dos tempos. Valor Adicionado é espécie de PIB sem impostos. É a produção de riqueza gerada em cada Município.
O avanço econômico da Província do Grande ABC no último ano do governo Lula da Silva representou o corolário da reação do Valor Adicionado seriamente comprometido durante os anos 1990. A abertura econômica combinada com tropeços de políticas econômicas internas colocou a Província na marca do pênalti.
Perdemos um terço do Valor Adicionado durante a gestão de FHC. Não é pouca coisa. A recuperação é lenta, estatisticamente geradora de certo otimismo, mas está longe das necessidades regionais. Mas isso é outro assunto.
No ano passado, o Valor Adicionado da Província do Grande ABC cresceu 18,69% em termos nominais, ou seja, sem considerar a inflação de 11,32%. A média do Valor Adicionado no Estado de São Paulo foi de 12,07%. O G3, formado por Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, avançou 8,09%.
Com os resultados, a Província aumentou participação no bolo estadual: passou de 8,61% para 9,12%. Parece pouco, mas não é. Qualquer que seja o movimento ascendente, deve-se comemorar. Principalmente porque vive-se corrida contra o tempo perdido.
Se tudo isso sobre a temporada do ano passado são boas notícias, e as boas notícias merecem ser destacadas, há contrapontos igualmente importantes. No curto prazo, entre 2009 e 2010, mostramos poder de reação. Aliás, isso vem desde um pouco antes da saída de FHC da presidência.
O problema foi o que houve antes. Mais precisamente a partir de janeiro de 1995, tendo como base de comparação os números de 1994, quando da implantação do Plano Real. A manutenção da moeda nacional sem remelexos heterodoxos torna os estudos menos complexos. No período de inflação incontrolável as estatísticas viravam pó, porque se perdiam referências. Quando a moeda é a mesma, tudo fica mais fácil para orquestrar números e explicações.
Deixemos de lado o desgaste da moeda verde e amarela. Fiquemos apenas com números nominais. A roda pega para a Província quando os números passam pelo torniquete de uma temporalidade mais elástica. Exatamente entre janeiro de 1995 e dezembro de 2010. Avançamos nominalmente apenas 302%. Perdemos feio para o G3, de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, que acumulou crescimento de 429,02%. Se acrescentarmos a esses municípios, sedes de regiões metropolitanas interioranas, Guarulhos e Osasco, também fortes endereços econômicos paulistas, a desvantagem aumenta um pouco: o G5 avançou 431,83% naquele mesmo período.
Para saber o quanto o conjunto formado por Campinas, Sorocaba, São José dos Campos, Guarulhos e Osasco cresceu proporcionalmente mais que os sete municípios da Província do Grande ABC basta uma simples equação: pegue o crescimento nominal do G5 no período, de 431,83%, confronte-a com o crescimento nominal do G7, de 302,00% e, então, chega-se à diferença de 43%.
Traduzindo ainda mais a situação: quando da implantação do Plano Real, o Valor Adicionado da Província do Grande ABC (R$ 16,032 bilhões nominais) e do G5 (R$ 16,556 bilhões) apresentava empate técnico. Situação que, 16 anos depois, ainda em números não inflacionados, alterou-se completamente: o G7 (Província) contabiliza R$ 64,449 bilhões, enquanto o G5 chega a R$ 88,050 bilhões). Enquanto marcamos passo, eles rompem as dificuldades impostas pela macroeconomia.
Deixamos a Capital do Estado propositalmente fora de comparações. É covardia qualquer tipo de embate tendo aqueles mais de 11 milhões de habitantes como referência. O poder de fogo da cidade de São Paulo é imenso, mesmo com as dores da desindustrialização. Nos 16 anos pesquisados, São Paulo avançou nominalmente 448,63% em Valor Adicionado. Bem mais que a média da maioria das grandes cidades paulistas. É a força do dinamismo econômico versátil que vai de um centro financeiro imbatível em território nacional até megacorporações de marketing, de publicidade, de consultoria, enfim, de atividades de serviços de Valor Agregado que a Província do Grande ABC está longe de atrair.
A Província do Grande ABC também registra passivo enorme no indicador de participação estadual no Valor Adicionado. Em 1994, quando da implantação do Plano Real, contava com 13,89% no Estado de São Paulo. Regredimos no período 34,34%, já que em 2010, apesar da melhoria em relação ao ano anterior, chegamos a 9,12%.
Volto ao assunto na edição de amanhã para novos destrinchamentos.
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