Lançar as bases e obter os primeiros resultados consistentes de uma autêntica revolução econômica antes de possivelmente disputar o governo do Estado em 2014 já seriam feitos consideráveis da Administração Luiz Marinho. Qual seria a grande marca do preferido do ex-presidente Lula da Silva para tentar desbancar os tucanos no governo paulista? Reduzir o peso relativo da Doença Holandesa de São Bernardo. Doença Holandesa é uma referência ao poder excessivo do setor automotivo da Capital Econômica da Província do Grande ABC.
Não é tarefa fácil baixar a febre de uma São Bernardo excessivamente dependente do setor automotivo. A participação relativa do Município no bolo nacional de produção de veículos caiu seguidamente ao longo dos anos. E seguirá despencando. O crescimento do mercado automotivo movido a crédito farto tem contribuído muito para amenizar o impacto social da perda líquida de postos de trabalho nos últimos 15 anos, mas os asiáticos estão aí, ameaçadores, e a redefinição do mapa de produção no território nacional também é fator de muita preocupação.
Afinal, o que está fazendo o prefeito Luiz Marinho para restringir os efeitos da Doença Holandesa em São Bernardo?
Luiz Marinho está se envolvendo numa cruzada que o jornal ABCD Maior documentou na semana passada. Secretário de Desenvolvimento Econômico Jefferson da Conceição à tiracolo, o prefeito de São Bernardo iniciou na noite de segunda-feira passada uma turnê de apresentação e debate dos planos para aumentar as opções de matrizes produtivas da cidade.
Marinho falou para 300 alunos da Faculdade Anchieta. Repetirá a exposição em outras 10 instituições, entre as quais Senai, Senac, fundações, faculdades e universidade. Marinho virou pregador da instalação de uma cadeia de petróleo, gás, defesa e tecnologia em São Bernardo.
Se na agenda do prefeito petista de maior influência regional falta regionalidade institucional, o que, portanto, o coloca por enquanto em canto oposto ao da trajetória de Celso Daniel, a vertente desenvolvimentista poderá alcançar salto extraordinário, e aí a comparação com o prefeito que mais se distinguiu nas duas últimas décadas na região lhe será totalmente favorável.
Luiz Marinho seria um Celso Daniel muito melhor na área econômica se conseguir levar adiante o plano de multiplicar as fontes de produção e emprego em São Bernardo. Terá aproveitado uma janela extraordinariamente favorável, ao assumir um dos municípios mais poderosos do País num período de lua-de-mel absoluta com o governo federal.
Celso Daniel teve de se virar um bocado principalmente entre 1997 e 2001, durante o segundo mandato inteiro e o terceiro interrompido, quando o governo federal era tucano e o presidente Fernando Henrique Cardoso caprichou no receituário de colocar o sindicalismo de joelhos e, por consequência, a Província do Grande ABC de quatro.
Estou confiante na Administração Luiz Marinho, mas não abro mão, também, de colocar as barbas de ponderações críticas de molho. Já assisti a tantos filmes de suposta grandiosidade da Província do Grande ABC, com promessas mirabolantes de avanços nas mais diversas áreas (até uma sucursal do Museu de Guggenheim em meados da última década do século passado disseram que aportaria na região) que não abro mão de cautela e caldo de galinha.
Mesmo se reconhecendo que a quadra é amplamente favorável a novos contornos econômicos em São Bernardo, com possibilidades de expansão a outros municípios locais, o melhor é conter o ímpeto comemorativo. As exposições e as intenções do prefeito de São Bernardo são sinais de vitalidade, de viscosidade gerencial, mas ainda é pouco quando analisada com mais cuidado.
De qualquer modo, é ótimo que a perspectiva seja favorável. Reproduzo alguns trechos do jornal ABCD Maior:
Sob o tema Desafios e Expectativas na área do petróleo e tecnologia, Marinho chamou a atenção dos estudantes para a importância do engajamento na formação de recursos humanos qualificados e no desenvolvimento de pesquisas. (…). “Os setores de petróleo e gás e indústria da defesa são áreas estratégicas para a Administração dentro do projeto de construção do Parque Tecnológico na cidade, mas também abriremos para outros setores, como ferramentaria e automobilística. A Petrobrás conta com 50 temas em parceria com universidades do País e nenhuma delas é do ABC, portanto, precisamos ajudar nossas instituições a fazer parte desse processo” — sublinha o prefeito.
De acordo com o titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, caberá à própria Prefeitura articular a implementação do Parque Tecnológico através de parcerias e convênios com instituições de ensino e pesquisa, empresas privadas e órgãos públicos regionais, estaduais e federais: “Já demos a partida no contato das nossas instituições de Ensino Superior e Técnico com a Universidade Petrobrás, e neste segundo semestre apresentaremos um portfólio de projetos para avaliação da estatal. Além da formação de recursos humanos, mantivemos contato com a companhia para equipar ou aperfeiçoar os laboratórios de nossas instituições de ensino” — comenta o secretário.
Quero crer que a proposta que já está indo às instituições de ensino de São Bernardo seja mesmo para valer, dessas coisas que poderão estabelecer a diferença entre uma São Bernardo que se orgulha apenas da indústria automotiva de uma São Bernardo que se orgulha da indústria automotiva mas sabe que os tempos exigem versatilidade, complementaridade, multiplicidade a partir do conhecimento técnico e da grandeza cultural de produção de veículos.
Sei lá se uma força-tarefa já foi designada e se já está em campo para agilizar o processo, porque a missão é árdua e merece ações especiais. Não quero passar por novo transtorno. Acreditei em tantas coisas nesta Província, quebrei a cara tantas vezes, até chegar ao ponto de desconfiar de tudo e de todos. Mas estou botando fé em Luiz Marinho. Talvez a gestão em São Bernardo seja apenas ruim de marketing e de comunicação. Querem um exemplo de carência informativa? O que tem ocorrido com o Grupo Automotivo do Clube dos Prefeitos, sob os cuidados de Luiz Marinho?
A pergunta é mais que revelante. A Doença Holandesa de São Bernardo não deve ser eliminada pelo corte da riqueza produtiva das montadoras e autopeças sediadas no Município. Pelo contrário: o setor demanda mais e mais cuidados para suportar o peso de uma concorrência interna e externa cruel. Só assim seguiria oferecendo oportunidades a outras atividades de valor agregado que, aí sim, poderiam reduzir o peso relativo da principal fonte de desenvolvimento.
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