Se não fugir mais uma vez do contraditório, Milton Bigucci, presidente da Acigabc (Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC) e da MBigucci, alardeada maior construtora da Província do Grande ABC, estará encaminhando até quinta-feira a este jornalista respostas previstas para a Entrevista Especial enviada nesta semana. Uma das questões que mais despertam interesse dos leitores desta revista digital (são mais de 75 mil cadastrados) refere-se à aquisição de área pública pela MBigucci, em licitação.
Trata-se de um terreno espetacularmente nobre e extenso, de 17 mil metros quadrados, na esquina da Avenida Vergueiro com a Avenida Kennedy, em São Bernardo. Na cara do gol do Carrefour, em frente ao Ginásio de Esportes, lado a lado com o sucesso. Um negócio mais que de ocasião. Para erguer ali anunciadas unidades de apartamentos (fala-se também em escritórios), foram necessários alguns procedimentos que atingiram em cheio a reserva verde. Arvores foram derrubadas.
Longe de mim qualquer insinuação de que a MBigucci, de Milton Bigucci, tenha vencido a licitação ao arrepio da lei. Não acredito que a empresa de um dirigente classista, por mais que esse dirigente classista seja comprovadamente improdutivo, tenha se exposto a eventuais embaraços legais.
Entretanto, como faltou transparência no negócio e também no projeto imobiliário, algo que é estranho porque Milton Bigucci é desses personagens da vida regional que adoram holofotes inclusive à margem de sua especialidade, como é o caso de se considerar escritor, valeria a pena contar com esclarecimentos.
Tenho quase que certeza absoluta que não houve transgressão do presidente da MBigucci e líder classista no empreendimento, mas não custa nada, nadinha, até mesmo no sentido de preservá-lo da maledicência que domina o mercado imobiliário, contar com esses esclarecimentos. Sim, porque não faltam restrições de concorrentes que viram naquela licitação coisas estranhas. Alguém melhor que Milton Bigucci para eliminar essa fofocagem?
Sugeriria inclusive (e para tanto estou encaminhando cópias deste artigo ao Ministério Público de São Bernardo) que autoridades legais sejam solicitadas como reforço da legalidade das operações que culminaram na compra da área e na introdução de um projeto que eliminou algumas dezenas de árvores. Não custa nada também um detalhado esclarecimento sobre as compensações ambientais.
Seja lá o que resultar dessa empreitada — e acredito piamente que Milton Bigucci não somaria à malemolência de dirigente classista prevaricações empresariais, porque há uma história de sucesso do negócio familiar a fortalecer essa convicção — nada poderá ficar sob escombros de desconfiança.
Afinal, um presidente de uma entidade que deveria cuidar da ética no mercado imobiliário (disso, infelizmente, ele não cuida, como todos sabemos e a falta de respostas ao primeiro questionário que lhe enviamos, em setembro do ano passado, comprova) não pode atuar de forma tão discreta, para não dizer omissa, quando se trata de uma relação comercial com a administração pública, como se deu na compra do terreno durante o governo de William Dib.
Fazer o quê se Milton Bigucci não teve a iniciativa de dar transparência a uma negociação que a ética e a moralidade do cargo que ocupa numa entidade que representa o mercado imobiliário exigiriam.
Ou alguém tem dúvidas quanto à concorrência desleal que poderia ser instrumentalizada por conta das relações, digamos, diplomáticas de Milton Bigucci com instâncias públicas na Província do Grande ABC?
Basta recorrer ao mecanismo de busca do Google para verificar a frequência com que Milton Bigucci anda de braços dados com autoridades públicas. Sem contar encontros não documentados.
Sei que agora que anda cheio de não-me-toques, lançando mão de um corpo extenso de juristas para tentar calar este jornalista, Milton Bigucci procurará convencer a Justiça que estou a lhe esfaquear a honra. Bobagem. Qualquer magistrado saberá distinguir o que é preocupação social (e jornalismo não é outra coisa senão comprometimento com a sociedade) de suposta tentativa de desmoralização pessoal.
Milton Bigucci, presidente da Associação dos Construtores, deixa de ser Milton Bigucci pessoa física.
Milton Bigucci, presidente da Associação dos Construtores e da MBigucci, arrematadora de uma área pública, deixa de ser Milton Bigucci empresário.
Uma coisa leva à outra e as duas levam à algo que pode ser traduzido como imperiosidade de transparência total.
E é isso que a sociedade cobraria dele se tivesse acesso às informações que este jornalista detém.
É isso que os empreendedores do mercado imobiliário que passam longe da entidade de Milton Bigucci, sabedores de que ali as cartas são marcadas em favor de alguns poucos dirigentes, também gostariam de ver esclarecido.
Repetimos: a MBigucci de Milton Bigucci da Associação dos Construtores tem compromisso ético e moral de dar publicidade total aos meandros legais do arremate da área pública nobre que será transformada em empreendimento comercial. Nada mais apropriado para que se leve ao público a certeza de que tudo se deu dentro das regras do jogo da moralidade e do respeito à concorrência, pontos basilares da economia de mercado.
Iria um pouco além nessa empreitada: a MBigucci deveria vir a público também para expor possíveis outros negócios que tenha realizado com o Poder Público.
CapitalSocial se coloca sempre à disposição de Milton Bigucci, nas dimensões que sua identidade evoca, para todos os esclarecimentos. Sempre com um ressalta importante: o caráter autocrático com que dirige a Acigabc não se estenderá a este endereço de comunicação social. Aqui o nome do jogo é outro. Fazemos jornalismo com comprometimento social. O que não é fácil nesta Província de lubrificadores de egos exacerbados.
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