A irresponsável farra imobiliária no entorno do Paço Municipal de São Bernardo, que culminará com paralisia sem precedentes do sistema viário, é o padrão do sonho megalomaníaco e quase irrefreável do empresário Milton Bigucci, presidente da mais que seletiva e manjada Acigabc, a associação dos construtores, imobiliárias e administradoras do Grande ABC. Bigucci quer que a Administração de Luiz Marinho ceda a seu objeto único de desejo: faturar muito sobre o solo de São Bernardo. E morar no Ipiranga, em São Paulo, porque ninguém é de ferro.
A Acigabc reúne poucos associados e, mais que isso, na operacionalidade e na institucionalidade de mais que viciadas engrenagens, conta com apenas alguns amigos mais próximos de Bigucci.
O dirigente está há duas décadas no controle de um lobby corporativo com amplo apoio da mídia servil. E se sente todo-poderoso. Ameaça como contragolpe à responsabilidade social de um Plano Diretor preparado pela Prefeitura de São Bernardo uma espécie de boicote de investimentos imobiliários. Tudo encenação. Bigucci não larga as tetas fartas das terras valiosas de São Bernardo e da Província do Grande ABC. Quer é tê-las sempre à manipulação de preços.
A ameaça de boicote a investimentos imobiliários em São Bernardo foi verbalizada em tom enfático por um representante da Acigabc numa das reuniões da Prefeitura de São Bernardo que trata da formulação do Plano Diretor, espécie de constituição de uso e ocupação da terra em São Bernardo. O enviado especial é apenas uma extensão do pensamento e das ações de Milton Bigucci. Essa é a metodologia de quem se sente arrogantemente mais importante que tudo.
O casamento espúrio entre interesses privados e públicos, padrão do mercado imobiliário, fazedor de milagres de enriquecimento dos dois lados da laranja podre do capitalismo verde-amarelo, parece ter chegado ao fim da linha em São Bernardo. Pelo menos no que se trata de Plano Diretor. Milton Bigucci é visto como espécie de assombração pela Administração de Luiz Marinho. Os corredores do Paço Municipal fecharam-se às investidas do dirigente.
Em resumo, o que Milton Bigucci quer como dirigente eterno da Acigabc é reproduzir em São Bernardo e na Província do Grande ABC como um todo, o padrão de exageros e capitulação da qualidade de vida da Capital vizinha.
Ignorante em urbanismo, professoral em especulação imobiliária, Milton Bigucci ouviu o galo de especialistas cantar sobre verticalização dos grandes centros urbanos e imediatamente transplantou a ideia para São Bernardo e a Província do Grande ABC.
Milton Bigucci é desses empresários do setor que não tem intimidade alguma com responsabilidade social quando se trata de conciliar desenvolvimento econômico, que é um bem geral, e mobilidade social, que é sobretudo uma ação pessoal. Ele só pensa no próprio umbigo. No máximo, compartilha preocupação com familiares e alguns parceiros de jornada imobiliária. O restante da sociedade que se dane.
Querem um exemplo prático, respondendo inclusive à indagação do jornalista Oswaldo Lavrado, que há muito não vejo, hoje na coluna de Ademir Médici, no Diário do Grande ABC? As árvores arrancadas há duas semanas do terreno do antigo campo de futebol da Villares, no entroncamento da Avenida Kennedy e a Avenida Senador Vergueiro, em São Bernardo, são resultado de um novo empreendimento da MBigucci, vitoriosa empresa do titular da associação dos construtores. Quem, como Lavrado e tantos outros, se dirige à unidade do Carrefour, vai sentir falta daqueles eucaliptos. A derrubada provavelmente terá contrapartida social, porque, do contrário, seria um escândalo. O problema é que a medida não repõe o prejuízo causado aos moradores mais próximos, expostos a novas torres de apartamentos e à perda de uma pequena mas valiosa ilha verde.
Voltando ao Plano Diretor, o que se sente da maioria dos participantes das reuniões é um certo desgaste em relação à participação excessivamente individualista da entidade de Milton Bigucci. Até mesmo os parceiros arranjados para formar uma massa crítica de suporte à tentativa de evitar que se discipline o uso e a ocupação do solo em São Bernardo dentro de contornos suportáveis se sentem constrangidos com a voracidade daquela entidade.
Felizmente, o que se tem de informação segura é que a gestão de Luiz Marinho não cederá aos propósitos dos especuladores imobiliários.
Vamos avançar nesse assunto nos próximos tempos. É claro que não teremos respostas da entidade de Milton Bigucci, porque ele se nega terminantemente a fornecer esclarecimentos. Acostumado com lantejoulas da imprensa servil, que lustra seu ego e faz estardalhaços combinados para elevar os níveis de especulação de preços dos imóveis, Milton Bigucci já se recusou a prestar informações aos leitores desta revista digital. Ele foge terminantemente do contraditório. Sente-se acuado quando o desafio a um embate público onde bem entender.
Certo é que as temporadas de assassinatos éticos que a Acigabc perpetrou estão em fase terminal nesta Província. Há movimentação coletiva de secretarias vinculadas à habitação que dirigem barreiras à redução dos índices de construção, algo contra o qual Milton Bigucci se debate. Serão necessárias mais áreas de terrenos para menor número de apartamentos entre outras razões porque os impactos viários e sociais precisam ser minimizados.
A reprodução do padrão preferencial de Milton Bigucci, que está na vizinhança do Paço de São Bernardo, é uma calamidade social. Que padrão é esse? Quem conhece a geografia de São Bernardo sabe do que se trata. O entorno do Paço Municipal, algo como um quilômetro de diâmetro, que já vive quadro de congelamento viário nos horários de pico ou nem sempre no horário de pico, será tremendamente agravado quando os lançamentos imobiliários na Avenida Senador Vergueiro e nas antigas instalações da Indústria Têxtil Tognato estiverem liberados à ocupação. O impacto suplementar diário de 50 mil pessoas e 20 mil veículos naquela área, segundo cálculos do secretário de Planejamento Urbano, Alfredo Buso, provocará o caos.
Milton Bigucci e os empresários do mercado imobiliário que só pensam em enriquecimento não suportam ouvir a expressão “contrapartida”, que, em resumo, é uma resposta financeira à possibilidade de aprovação de projetos que estiquem o potencial de construção, sempre muito abaixo dos padrões liberalizados à algazarra histórica. Bigucci e os prevaricadores da qualidade de vida querem continuar nadando de braçadas.
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