Imprensa

Rodoanel Sul vai marcar para
sempre carreira de Morando

DANIEL LIMA - 20/09/2011

Goste ou não o deputado estadual Orlando Morando, sua identidade política vai estar marcada definitivamente pelo Rodoanel Sul. O tempo vai dizer se essa herança será positiva ou negativa numa carreira que se depara com complexa bifurcação, porque a grande meta de chegar ao Paço Municipal de São Bernardo parece tão viável quanto inviável nesta década.

Os 37 anos de idade de Orlando Morando são um aliado importante, mas nem por isso acomodatícios. Há um grande rival em São Bernardo, além do PT de Luiz Marinho, a atormentar o sonho de prefeito. É o também jovem e também deputado estadual Alex Manente, sempre mais próximo de eventual conciliação com os petistas porque soube construir, embora aos trancos e barrancos, relações ideológicas menos conflitantes.

Alex Manente candidato a prefeito no futuro com o aval e mesmo com a parceria do PT é uma equação que não causaria choque no eleitorado. Orlando Morando criaria.

Quem virá depois de Luiz Marinho na Prefeitura de São Bernardo, já que o PT não consegue sinalizar eventual sucessor de segundo mandato do ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e ex-ministro da Previdência Social do governo Lula da Silva?

Orlando Morando e Alex Manente são os principais concorrentes. Nada que façam hoje e que tenham feito no passado será diferente do que pretendem fazer no futuro: planejar obcecadamente a ocupação do principal gabinete do Paço Municipal. Não foi por outra razão que Orlando Morando fez do Rodoanel Sul ponta de lança de massificação da imagem de jovem dinâmico, determinado, resolutivo.

Orlando Morando atuou de forma tão intensa na transposição do Rodoanel Sul das pranchetas para as obras, expondo-se como nenhum outro político na propagação do investimento mais reluzente do governo do Estado tucano, que não haverá jamais de escapulir de tudo de bom ou eventualmente de ruim que ocorra com essa estrada tão festejada quanto tão pouco avaliada economicamente para o desenvolvimento da Província do Grande ABC.

Na entrevista que CapitalSocial publica nesta edição, Orlando Morando se revelou diferente das duas anteriores, sempre coordenadas e produzidas por este jornalista. Basta uma leitura comparativa para chegar ao ponto nuclear de que o candidato escolhido em 2008 pelo então prefeito William Dib para concorrer à Prefeitura de São Bernardo mostrou-se muito mais comedido, quando não evasivo.

Certamente o estado de espírito de Orlando Morando não tem relação alguma com a derrota para Luiz Marinho há quase três anos. O tempo sempre apaga ou minimiza decepções. A bem da verdade, o tucano saiu fortalecido da disputa, apesar de superado nas urnas, porque se credenciou como principal nome da oposição do centro-direita aos petistas.

Então, o que teria deixado Orlando Morando reticente ou econômico demais na Entrevista Especial desta edição? Só o tempo dirá, porque há questões que possivelmente devam ser mantidas submersas até exposição no momento mais adequado.

Estaria Orlando Morando passando por alguma dificuldade como parlamentar ou tudo não passa mesmo de estratégia para reduzir o grau de beligerância e estridência, quando não de sarcasmo, que cristalizou as relações do deputado com seus opositores, principalmente de centro-esquerda?

Certo mesmo é que Orlando Morando não mudou nada quando o assunto é Rodoanel Sul. Ele continua a destilar otimismo como fiador do governador do Estado, Geraldo Alckmin, no que é mais emblemático do entusiasmo tucano na relação com São Bernardo, tratada como esquina privilegiada do País.

Quem não cataloga a fraseologia tucana derivada do Rodoanel Sul como exagero explícito para afagar o ego regional desconhece os números históricos que estão aí para ser conferidos: há muito tempo a Província do Grande ABC deixou de constar do plano de voo de novos investimentos industriais e de alto valor agregado do setor de serviços. As inversões financeiras à modernização das montadoras de veículos e de empresas satélites salvaram a pátria regional de derrocada ainda maior.

Quando se refere ao desenvolvimento econômico da Província do Grande ABC, Orlando Morando cai na armadilha da contradição. Ao mesmo tempo em que declara que dezenas de investimentos aportaram na região por conta do Rodoanel Sul, lamenta que especificamente em Mauá a especulação imobiliária com áreas industriais afaste investimentos produtivos.

Orlando Morando erra duplamente na avaliação. Primeiro porque a chegada de empresas comerciais e de serviços de baixo valor agregado, como é o perfil dos empreendimentos que aportaram na Província do Grande ABC nos últimos anos, não centraliza sinais de vitalidade econômica e não é privilégio regional. Trata-se muito mais do óbvio reconhecimento de que há um mercado consumidor de 2,6 milhões de habitantes forjado — mesmo com percalços das duas últimas décadas — por um capitalismo privado vigoroso, sob o eixo das montadoras de veículos.

Segundo, tem duas faces complementares o afastamento de empreendedores nas áreas próximas do traçado do Rodoanel Sul em Mauá: os preços estão mesmo e há muito tempo salgados demais, porque os proprietários não se deram conta de que a Província entrou em declínio, e, também, as alternativas fora do mercado regional são observadas com muita atenção porque o custo/benefício que leva em conta uma gama de fatores geralmente pesa favoravelmente a escolhas decepcionantes para quem espera pela revitalização da Província.

Há outros pontos da Entrevista Especial com Orlando Morando que mereceriam reparos, mas não são tão importantes como os vetores econômicos. Por exemplo: quando afirma que jamais contou com recursos financeiros do mercado imobiliário em campanhas eleitorais das quais saiu eleito deputado estadual e vereador e também como candidato derrotado a prefeito, desliza num vácuo de memória. Os maiores volumes de dinheiro oficial nas campanhas eleitorais de Orlando Morando têm origem em negócios da área de construção civil.

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