A informação é exclusiva: a Cidade Pirelli planejada pelo então prefeito Celso Daniel não será recriada mesmo que em proporções menores pelo prefeito Aidan Ravin. Trocando em miúdos: a Cidade Pirelli está morta e enterrada, tal qual seu criador. O ponto central do simbolismo da revitalização econômica de Santo André não terá o aval da Construtora e Incorporadora Brookfield. O investimento de mais de R$ 200 milhões programado para a Vila Homero Thon, em parte dos terrenos da multinacional reservados para a Cidade Pirelli, será um empreendimento autônomo, sem qualquer ligação com o projeto aprovado há mais de uma década. A decisão é da direção da Brookfield, anunciada durante reunião exclusiva com esta revista digital.
O comando da Brookfield decidiu tomar a iniciativa de separar o investimento projetado para os 45 mil metros quadrados que adquiriu da multinacional italiana do conjunto da obra da Cidade Pirelli, que envolve área quase quatro vezes maior. A Brookfield não quer ser enredada por armadilhas legais que tumultuam o legado do empreendimento idealizado por Celso Daniel. Principalmente agora que o Ministério Público de Santo André decidiu intervir e o emaranhado da Cidade Pirelli terá de ser destrinchado pelo Legislativo. A Cidade Pirelli é um novelo muito complicado para quem quer apenas construir um novo empreendimento imobiliário com potencial para alterar positivamente imensa área populacional de Santo André.
A iniciativa da direção da Brookfield deverá ter rescaldos nos campos econômico, legislativo e político, mas o que a direção da empresa espera é que não precise passar por nenhum corredor polonês de dificuldades para ver aprovado o conjunto de obras.
Uma das principais empresas do setor de construção e incorporação imobiliária do País, a Brookfield espera realizar em Santo André o que já se tornou rotina em São Paulo, onde está sediada: transformar áreas industriais em equipamentos comerciais e de serviços.
Por isso mesmo, apenas informalmente, nos contatos internos entre os profissionais da empresa, a área recebia a identidade de Pirelli. O nome da fábrica de capital italiano é mencionado como tantos outros de fábricas que também viraram empreendimentos imobiliários num processo de transformação do urbanismo paulistano cada vez mais voltado a moradias e torres comerciais, enquanto a indústria desloca-se para o Interior do Estado, principalmente.
A expressão “Cidade Pirelli” não consta de qualquer documento oficial, assegura a direção da empresa. A vinculação do empreendimento à obra imaginada e preparada por Celso Daniel partiu do Paço Municipal de Santo André. A embalagem de Cidade Pirelli, de forte apelo político-eleitoral, não é pauta de avaliações da construtora.
A Brookfield assegura que a compra da área por R$ 50 milhões não previa qualquer relação com a Cidade Pirelli formatada no final dos anos 1990 e cujos rescaldos de irregularidades ainda vicejam. O negócio imobiliário foi pautado, segundo dirigentes da Brookfield, por regras do mercado. Por isso, o projeto não teria de ser submetido a instâncias legislativas. Seguiria trâmite comum da burocracia pública, como qualquer outro empreendimento do setor imobiliário.
Ao desvincular as três áreas adquiridas da multinacional italiana do destino original dos quase 170 mil metros quadrados do espaço reservado há mais de uma década para a Cidade Pirelli, a direção da Brookfield age com a praticidade de quem quer apenas agregar valores econômicos e sociais aos empreendimentos.
Entretanto, a medida é um sério golpe nas pretensões do prefeito Aidan Ravin de desfraldar a bandeira da Cidade Pirelli na campanha eleitoral do ano que vem. A vinculação da imagem do prefeito à de Celso Daniel é considerada uma jogada de mestre por marqueteiros políticos. Há imensa parcela de admiradores do dirigente público assassinado em janeiro de 2002. Pesquisas indicam que Celso Daniel goza de imagem quase sacrossanta.
Mesmo miniaturizada nos investimentos da Brookfield, a Cidade Pirelli já é carta fora do baralho do ativo de realizações do prefeito Aidan Ravin. Entretanto, não está morta e sepultada quanto aos desdobramentos legais. Há possibilidades de entraves jurídicos envolvendo Pirelli, Brookfield e Prefeitura, embora a direção da construtora prefira não admitir.
O passivo de contrapartidas que a multinacional italiana não cumpriu integralmente quando do acordo com a administração de Celso Daniel, aprovado pelo Legislativo, poderá fomentar dores de cabeça aos parceiros e também à Administração Municipal.
Entre outros vazios decorrentes da chamada operação urbana que resultou na adequação das áreas da Pirelli aos investimentos programados está a construção de um viaduto, cujos custos seriam compartilhados por empreendedores da Cidade Pirelli.
A Prefeitura de Santo André gastou há três anos R$ 30 milhões na construção do Viaduto Cassaquera. Entretanto, a responsabilidade legal seria da Pirelli e de seus parceiros. A Brookfield assegura que não há uma cláusula sequer no contrato de aquisição dos 45 mil metros quadrados da Pirelli que remeta a reciprocidades.
O posicionamento da Brookfield anunciado com exclusividade por CapitalSocial é consequência das contínuas matérias publicadas por esta revista digital e também da audiência pública realizada na semana passada no Legislativo de Santo André. Participaram do encontro com vereadores executivos da Prefeitura de Santo André e o diretor de incorporação da Brookfield, José de Albuquerque.
Estão previstos nos três terrenos duas torres residenciais com 168 apartamentos, três torres residenciais com 480 unidades e um shopping de 30 mil metros quadrados, além de duas torres de hotel com capacidade de 350 quartos e uma torre comercial.
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