Economia

Santo André perde feio de Osasco
em quatro de cinco indicadores

DANIEL LIMA - 16/06/2011

O dinamismo econômico de Santo André cantado em prosa e verso por um executivo público para agradar ao chefe Aidan Ravin é uma falácia provada e comprovada em quatro de cinco indicadores essenciais à avaliação do movimento das pedras de desenvolvimento econômico ante Osasco. Números do PIB (Produto Interno Bruto), de repasse de tributos estaduais, principalmente ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), de Valor Adicionado e de empregos formais industriais destroem qualquer tentativa de manipulação.


Somente em potencial de consumo, por razões especialíssimas, Santo André safa-se de uma goleada ainda mais contundente, sem direito a um gol sequer. Mas, convenhamos, 4 a 1 diante de Osasco não é resultado que se coloque sob suspeição e muito menos deixa de expressar avanços substantivos a separar o joio da letargia do trigo de avanços.


Antes de invadir a grande área desses indicadores, convém destacar algumas diferenças básicas entre as vizinhas Santo André e Osasco.


A principal é que a logística que atende a Osasco e aquela região à oeste da Capital está anos-luz à frente de Santo André e do Grande ABC, principalmente por conta do trecho do Rodoanel, que, inserido na geografia interna daquela área com mais de uma dezena de acessos, é agente indutor de desenvolvimento econômico.


Já o trecho sul do Rodoanel passa apenas tangencialmente pelo Grande ABC e é alimentado restritivamente por apenas três alças de acesso. O Rodoanel Sul tem mais valor à mobilidade urbana do que à retomada desenvolvimentista.


Não bastasse a vantagem do sistema macroviário que serve a Osasco e vizinhança, também a legislação de proteção aos mananciais, tão maltratada e sempre inibidora de desenvolvimento econômico limpo e sustentável, atua contrariamente aos interesses do Grande ABC.


Com mais da metade do território comprometido pela suposta preservação ambiental, o Grande ABC não tem para onde crescer. Diferente de Osasco e da chamada Região Oeste da Capital.


Já mostramos em estudo que é uma falácia estender à Grande São Paulo os males de esvaziamento econômico que atingem principalmente o Grande ABC e a cidade de São Paulo. Grande parte do que chamaria de G29 (Os 39 municípios da Grande São Paulo, menos Grande ABC, São Paulo, Guarulhos e Osasco) cresce acima da vizinhança mais badalada.


Agora vamos ao que interessa no desmonte do castelo de areia do executivo público de Santo André.


Primeira surra: PIB


A primeira surra que Santo André sofre de Osasco está no PIB (Produto Interno Bruto). Os dois municípios estão entre os 48 maiores endereços do Estado, segundo dados oficiais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Os números referem-se ao período que começa em 1999 e vai até 2008. São nove anos de base comparativa.



  •  Santo André contava com PIB de R$ 5.954,25 bilhões em 1999 e em 2008 alcançou R$ 13.446,56 bilhões, com crescimento nominal, sem efeitos inflacionários, de 125,83%.
  •  Osasco contava com PIB de R$ 5.282,86 bilhões em 1999 e em 2008 chegou a R$ 30.024,36 bilhões, crescimento nominal de 468,33%.

Não há erro de digitação. No final do século passado Santo André e Osasco praticamente empatavam no Produto Interno Bruto, que é a soma de bens e serviços finais produzidos num determinado endereço. Já em 2008, Santo André apresentava volume 55% superior a Osasco.


Não foi por outra razão que no final do ano passado Osasco fez festa para comemorar a subida no ranking nacional: chegou ao 10º lugar. No Estado, Osasco está em terceiro, atrás apenas de São Paulo e Guarulhos. Santo André está em 29º lugar no ranking nacional.


Segunda surra: Valor Adicionado


Parente muito próximo do PIB, o Valor Adicionado registrado por Osasco num período mais amplo que o apontado no PIB (de 1994 a 2009) é relativamente muito superior ao de Santo André e também ao do Grande ABC como conjunto.



  •  Em 1994 o Valor Adicionado de Santo André registrava R$ 2.309.978 bilhões, ante R$ 7.676.787 bilhões em 2009, com crescimento nominal de 232,33%. Já o Valor Adicionado do Grande ABC em 1994 era de R$ 16.032.475 bilhões, ante R$ 48.541.406 bilhões em 2009, com avanço nominal de 202,77%.
  •  Em 1994 o Valor Adicionado de Osasco era de R$ 1.497.105 bilhões, ante R$ 9.861.696 bilhões em 2009, com avanço nominal, que desconsidera a inflação do período, de 558,72%.

Reparem que o Valor Adicionado de Osasco nos 15 anos pós-implementação do Plano Real cresceu à velocidade mais que o dobro de Santo André e do Grande ABC. O avanço nominal de Santo André no período é superior à média do Grande ABC, mas os 232,33% perdem para os 243,34% de São Bernardo, para os 339% de Diadema e para os 490% de Rio Grande da Serra. Só superam os 223,12% de São Caetano, os 177,55% de Mauá e os 149,36% de Ribeirão Pires.


Quando se refere ao dinamismo de Santo André, Dalmir Ribeiro, diretor do Departamento de Indicadores Sociais e Econômicos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de Santo André, provavelmente toma como referência de resultados São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires.


Se o confronto for com Osasco, está mais que na cara que os danos são insofismáveis. A evolução do Valor Adicionado é estonteantemente favorável àquele Município: são 558,72% de crescimento nominal no período contra apenas 232,33% de Santo André.


Terceira surra: ICMS e outros


O repasse de tributos do governo do Estado em 1995 apontava Santo André 40% superior a Osasco. Na soma de repasses de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), de IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores) e outros menos votados, Santo André registrava R$ 102.922 479 milhões em valores originais, ante R$ 61.062.862 milhões de Osasco. Já no ano passado, a situação tornou-se amplamente favorável a Osasco. Foram repassados R$ 311.047 milhões, ante R$ 284.739 milhões a Santo André. Ou seja: o que era vantagem de 40,67% para a cidade do Grande ABC, tornou-se 8,57% favorável a Osasco.


Tudo isso é resultado da evolução dos recursos monetários transferidos pelo governo paulista. Enquanto o avanço nominal de Santo André chegou a 176,65%, o de Osasco alcançou 409,38%.


Quarta surra: emprego industrial


Também no emprego industrial com carteira assinada Santo André viu esfarelar supremacia em relação a Osasco. Agora o período de análise começa em 1994 e chega a 2010. Embora o desenvolvimento econômico de Osasco esteja mais atrelado ao setor de serviços, sobretudo em logística intensamente competitiva com a chegada do Rodoanel Oeste, os vínculos empregatícios industriais superaram no período uma Santo André que sente a viuvez da atividade.


Santo André contava em 1994 com 41.392 trabalhadores em setores de transformação industrial, contra 28.681 de Osasco. Uma vantagem de 30,70%. Já no ano passado foram contabilizados 38.368 empregos industriais em Santo André, ante 32.918 em Osasco. A diferença estreitou-se para 14,20%. Em termos absolutos, enquanto o emprego industrial em Santo André perdeu 3.024 postos de trabalho no período pesquisado, em Osasco foram criados 4.237. Osasco viu o emprego industrial crescer 14,77% no período, enquanto Santo André teve enxugamento de 7,30%.


No mesmo período, o estoque de empregos industriais no Grande ABC sofreu revés de 24.230 vagas — eram 276.650 postos em 1994 ante 252.420 no ano passado.


Há estreita relação entre empregos formais, Valor Adicionado e PIB.


Única vitória: Potencial de Consumo


Apenas no vetor de potencial de consumo Santo André supera Osasco, em números que envolvem o período de 1995 a 2010. Explica-se o fenômeno: a cidade do Grande ABC é economicamente mais madura que a da região oeste de São Paulo. A industrialização chegou mais cedo, a consolidação de uma classe média se deu durante longas décadas e mesmo uma trajetória de empobrecimento, como na última década dos anos 1990, não dissolve uma estrutura social a ponto de comprometimento irreversível. Potencial de consumo tem movimentos lentos e graduais semelhantes aos de uma grande embarcação. Diferentemente de PIB, Valor Adicionado, empregos industriais e repasses de ICMS, de processos mais vigorosos no mesmo espaço de tempo.


Um outro ponto relevante à compreensão do gol de honra marcado por Santo André ante Osasco: o potencial de consumo detecta a riqueza em forma de salários e rendas de um Município por conta do domicílio dos moradores, independentemente do local da atividade econômica. Santo André tem-se tornado endereço de moradores que exercem atividades profissionais em outros municípios, por conta do esvaziamento industrial ao longo de três décadas.


Em contraste, Osasco ainda não conseguiu atrair número expressivo de moradores de classes médias, muitos dos quais preferem a vizinha e rica Alphaville, em Barueri.



  •  Santo André contava com potencial de consumo de R$ 3.3450.119 bilhões em 1995, ante R$ 12.933.465 bilhões de 2010. Um crescimento nominal de 287,21%.
  •  Osasco contava com potencial de consumo de R$ 2.701.273 bilhões em 1995, ante R$ 10.180.389 bilhões em 2010. Um crescimento nominal de 276,87%.

Traduzindo em miúdos: o potencial de consumo de Santo André era 19,12% superior ao de Osasco em 1995, ante 21,28% em 2010. Uma diferença quase que residual.


Quando o confronto dos números de Osasco se dá com os números do Grande ABC como um todo, verifica-se o quanto Santo André perdeu participação no bolo de riqueza regional. Entre 1995 e 2010, o potencial de consumo do Grande ABC saltou nominalmente 317,24% (de R$ 10.721.904 bilhões para R$ 44.736.293 bilhões). Portanto, acima dos 287,21% de Santo André.


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