Economia

Santo André e Osasco, tão perto e tão
longe em desenvolvimento econômico

DANIEL LIMA - 15/06/2011

Embora a distância física que separa Santo André e Osasco na Grande São Paulo seja escassa, o desenvolvimento econômico é disparadamente favorável ao Município da região oeste. A transposição dessa realidade para o conjunto do Grande ABC em relação ao que chamaria de Grande Oeste, área na qual Osasco e Barueri dão as cartas, não seria desproposital. O Grande ABC viveu tormentoso período de declínio nos anos 1990, exatamente o oposto de Osasco e aquela região, beneficiados pelo Rodoanel Oeste. Nesse novo século, os indicadores econômicos dão ao Grande ABC estabilidade relativa, por conta de superproduções automotivas, mas nada que se aproxime de Osasco e vizinhança.


Esse paralelo é importantíssimo nesse momento em que um novo deus do triunfalismo aparece em cena travestido de cabo eleitoral do prefeito Aidan Ravin, de Santo André. Dalmir Ribeiro é o nome do diretor do Departamento de Indicadores Sociais e Econômicos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho. Uma grife e tanto para uma gestão que conseguiu piorar o que já vinha em processo de declínio nos seis anos de comando do Paço Municipal de Santo André do petista João Avamileno.


Desenvolvimento Econômico não é o forte da gestão de Aidan Ravin. Tanto não é que nem secretário do ramo, que entenda um mínimo do riscado, o organograma contempla. Há um secretário quebra-galho.


Por isso mesmo as declarações de Dalmir Ribeiro são uma acintosa tentativa de ludibriar o distinto público que consome informações.


Faz tempo que estou de olho nele, porque leio rigorosamente todos os jornais da região, inclusive no formato digital. Não só leio como os coleciono. É de minha obrigação como profissional de comunicação saber quem são os agentes públicos e privados escolhidos pelos editores, profissionais de jornalismo que decidem quem fala em seus respectivos veículos.


Mais que saber quem são os agentes informativos, é preciso identificá-los qualitativamente.


Dalmir Ribeiro é apetrechado como a maioria dos economistas, mas, também como a maioria dos economistas, daqui e de fora, adora manipulações. Eles se mimetizam. São cópias fieis do mesmo enredo de embromação, de seletivismo informativo, de puxa-saquismo. Poderiam ser mais úteis à sociedade se contribuíssem de forma crítica com os gestores públicos. Vá lá que tenham de dourar a pílula para fazer o jogo do chefe do Executivo, mas não precisam exagerar nem fugir da essência informativa. A perspectiva de que todos os leitores são otários é furada. Vejam alguns trechos da matéria publicada pelo ABC Repórter sob o título “Arrecadação de Santo André bate em 16,3% o período que antecedeu a crise”.


 A arrecadação da Prefeitura de Santo André atingiu R$ 644 milhões de janeiro a maio deste ano, valor 6,1% superior ao do mesmo período de 2010 e 16,3% mais elevado que o atingido nos mesmos cinco meses de 2008, em valores atualizados pelo IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isso significa que as receitas da Administração (que excluiu autarquias) superaram em R$ 91 milhões as do período igualmente aquecido anterior à eclosão da crise financeira global. “Isso reflete o dinamismo econômico do município” — explica o economista Dalmir Ribeiro (…). A Prefeitura mantém programas de apoio ao desenvolvimento econômico como o Barrios + Fortes, cursos profissionalizantes oferecidos por meio do Centro Público de Emprego, Trabalho e Renda (CPETR), Banco do Povo Paulista, palestras de promoção ao comércio internacional, entre outros.


 Entre os impostos que mais contribuíram para este salto figuram o ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), com 13,3% na comparação janeiro e maio de 2011 versus janeiro a maio de 2008, e o ISS (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza), cujo incremento foi de 49,5%. As receitas com ICMS totalizaram R$ 127 milhões, com reflexo no aumento da atividade dos setores da indústria e do comércio. A arrecadação do ISS atingiu R$ 98 milhões.


Os truques do economista Dalmir Ribeiro vão de tratamento exclusivo a algo coletivo até a ausência de referenciais mais amplos.


Dalmir Ribeiro prende-se exclusivamente à numerologia de Santo André, como se o Município fosse um oásis de desenvolvimento econômico em meio a uma selva de inoperâncias da Região Metropolitana de São Paulo e também ao restante do País. Na realidade, os números expostos de Santo André estão abaixo e também acima de municípios da região. Não há mágica alguma. Tudo é resultado de um período relativamente curto de avanço do PIB (Produto Interno Bruto) de um País que cresce movido a consumo, não a investimento.


Acredito que destrincho completamente o assunto na edição de amanhã, quando mostrarei ao economista as bases estruturais que deveriam nortear as declarações que presta à Imprensa, de forma a substituir a prestidigitação semântica por uma indumentária de responsabilidade social.


Uma questão de ética que não está sendo observada por conta de interesses políticos e eleitorais. A administração de Aidan Ravin não sabe lidar com a economia de Santo André porque não tem nenhuma vocação a complexidades. É muito mais fácil tentar tapar os furos nas áreas de Educação e Saúde, cujas receitas são carimbadas, ou seja, têm aplicação automática e os controles de qualidade e eficiência, assim como em todos os municípios, não são parametrizados por indicadores confiáveis.


O confronto entre Santo André e Osasco não deixará dúvida alguma sobre o grau de complicações em que se meteu a economia do Grande ABC desde que investimentos produtivos passaram a ditar o ritmo dos negócios de um Brasil que largou no passado o caos gerado pelo processo inflacionário insano. Santo André sofre particularmente mais que os demais municípios da região. O que os primórdios do século passado lhe foram favoráveis com a estrada de ferro como instrumento indutor de industrialização, as últimas décadas daquele mesmo século lhe foram desafiadores, sem que desse respostas esperadas.


Santo André é uma cidade logisticamente encalacrada no interior do encalacradíssimo Grande ABC e está a exigir dos gestores públicos e das instituições econômicas muito mais que contemplação. Ou se organizam, ou vão viver de gente como o economista da Prefeitura de Santo André.


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