Uma das cinco maiores preciosidades com que espera contar na corrida eleitoral no ano que vem, a Cidade Pirelli poderá desfalcar a campanha do prefeito Aidan Ravin para manter-se no Paço de Santo André. As informações ainda não são detalhadas, há dificuldades à apuração, mas o básico dos básicos que não pode ser contestado é o seguinte: o braço do meio ambiente do Ministério Público de Santo André estaria opondo série de recomendações, quando não de exigências, que inviabilizariam o projeto da forma como que foi comercialmente concebido pela Brookfield. Essa construtora e incorporadora da Capital investe no ressuscitamento de uma proposta lançada no final dos anos 1990 pelo então prefeito Celso Daniel.
É possível que venha a público nos próximos dias alguma novidade no front desse empreendimento que tem tanto valor simbólico ao desenvolvimento econômico de Santo André quanto estratégico no campo eleitoral.
A Cidade Pirelli é a salvação da lavoura do petebista que comanda o Paço Municipal porque o tempo passa na catinga da fumaça e a administração não consegue registrar um grande empreendimento na área econômica, verdadeiro calcanhar de Aquiles de Santo André.
A Cidade Pirelli tem um duplo efeito eleitoral: dá personalidade mesmo que em algum grau fantasiosa ao administrador petebista e acerta em cheio os adversários petistas, que, por conta da inapetência do então prefeito João Avamileno, não souberam valorizar a proposta de erguer um ícone de suporte à autoestima municipal. Algo como o Espaço Cerâmica em São Caetano, outro Município que sofreu as dores do parto da desindustrialização em doses cavalares ao longo de três décadas.
O que estaria ocorrendo com o projeto da Cidade Pirelli, afinal?
Há inconformidades entre o projeto gestado pela Brookfield e o uso do solo. Traduzindo: a pretensão de dar aproveitamento muito maior ao espaço físico disponível colidiria com a legislação vigente.
A Cidade Pirelli começou a se redesenhar em março do ano passado, depois de entregue às baratas durante a administração de João Avamileno. Acompanhado do primeiro-ministro Nilson Bonome, o prefeito Aidan Ravin compareceu a um encontro na Capital quando a multinacional de origem italiana anunciou a colocação à venda de cinco terrenos localizados naquela área na Vila Homero Thon. Um total de 142 mil metros quadrados. Nada menos que 80 investidores participaram do encontro. Em setembro do ano passado a Brookfield anunciou a compra de 46 mil metros quadrados por R$ 40 milhões.
O projeto Cidade Pirelli original daquele 1998 que passou pelo crivo da Câmara de Vereadores prometia investimentos de R$ 200 milhões da Pirelli e parceiros numa área de 200 mil metros quadrados, ao lado da fábrica da Pirelli Cabos. Não falta leitura de que houve exagero no marketing com que o projeto foi conduzido. O Brasil já dava sinais de comprometimento do Plano Real. Havia imperiosidade de mudanças. A inflação ganhava fôlego. O déficit comercial subia às alturas e o PIB (Produto Interno Bruto) começava a ratear. Vivia-se o último ano do mandato de Fernando Henrique Cardoso. Em janeiro de 1999, o Brasil recorreu a empréstimos internacionais e alterou a rota do câmbio valorizado para fugir da quebradeira. Agora a situação é diferente. O mercado imobiliário está bombando. Aliás, bombando até demais. Muito acima do PIB. Muita acima, dizem os especialistas, do bom senso e da sustentabilidade macroeconômica.
Dinheiro não falta para a Cidade Pirelli repaginada e reduzida sair do papel. Mas, pelo visto, estão exagerando na dose. Querem ganhar mais do que é possível. E o que é possível já é bastante. E o bastante já seria suficiente para quem enxerga o capitalismo como ferramenta de desenvolvimento econômico compartilhado pela sociedade, principalmente em qualidade de vida.
Certo mesmo é que o prefeito Aidan Ravin está preocupadíssimo com o cronograma em atraso. A Cidade Pirelli seria uma forma engenhosa também para dar ou tentar dar um nó nos críticos da ausência de planejamento econômico para Santo André. Um exagero, é claro, mas válido em termos eleitorais.
Talvez alguém precise dizer no ouvido direito ou esquerdo de Aidan Ravin, num cantinho qualquer de seu gabinete, que não adianta fazer de um assessor ventríloquo de seus sonhos, trombeteando números parciais e meias-verdades sobre a realidade econômica de Santo André, porque a imagem da administração quando se coloca em xeque a área de desenvolvimento econômico é sofrível.
A página não virou. Continua em branco. Pensando bem, foi rasurada, porque pelo menos com Celso Daniel o Eixo Tamanduatehy, lançado pelos petistas, deu alguns filhotes robustos de investimentos.
A Cidade Pirelli pode dar sim uma maquiada no quadro de horrores, mas está longe de ser a solução.
Santo André está muito distante do dinamismo do passado. O fluxo de veículos de moradores da cidade que trabalham em outros municípios e que congestionam o sistema viário no começo do dia e no entardecer é denunciatório.
Uma Prefeitura que nem tem de fato um secretário de Desenvolvimento Econômico do ramo, um executivo que não divida a pasta com outras áreas, como é o caso do atual quebragalhismo do titular do setor, é uma Prefeitura que ainda não entendeu o jogo da competitividade dos municípios, que começa e termina com a captura de investimentos privados. No Campeonato Paulista de Desenvolvimento Econômico, Santo André de Aidan Ravin está na mesma situação do Ramalhão de Ronan Maria Pinto, porque foi igualmente rebaixada à Segunda Divisão.
No Campeonato Brasileiro, nem se diga. A Cidade se antecipou ao Ramalhão.
Talvez um possível fracasso da retomada da Cidade Pirelli seja didático. Deixaremos de acreditar em soluções mágicas.
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