Enquanto o Grande ABC discute com certo estardalhaço mas baixa capacidade resolutiva o sexo dos anjos dos problemas sociais e econômicos num Clube de Prefeitos que jamais passou de abstração quando se confrontam os problemas acumulados desde a implementação do Plano Real, em 1994, os principais endereços econômicos do Estado de São Paulo são pragmáticos na arte de crescimento. Nos últimos 15 anos (período entre 1995 e 2009) os cinco maiores municípios do Grande ABC e o Grande ABC como um todo despencaram no ranking de produção de riqueza dos paulistas, Estado que progressivamente perde participação absoluta e relativa no mapa nacional. A crise pós-Plano Real foi abrandada durante os anos Lula da Silva, mas nem assim o Grande ABC gerador de riqueza dá mostras de revitalização suficiente para impedir novas ultrapassagens.
Tendo como ano-base 1994, os 15 anos que se seguiram e que já foram traduzidos em números de Valor Adicionado o Grande ABC perdeu participação relativa de 38% na geração de riqueza estadual. Esse é o resultado de uma conta simples: em 1994 o chamado G7 contava com R$ 16.032.475 bilhões de Valor Adicionado, enquanto o Estado de São Paulo registrava R$ 115.403.666 bilhões — isso dá 13,89%. Quinze anos depois e mesmo com a recuperação da economia regional durante a primeira década do novo século, a participação relativa caiu para 8,61%, resultado de R$ 54.296.822 bilhões divididos pelo bolo estadual de R$ 630.536.862 bilhões. Os valores são nominais, ou seja, sem desgaste inflacionário.
Se no conjunto o Grande ABC não escapou de uma sonora surra quando os números são confrontados com o desempenho da economia paulista, no ranking individual a situação não é diferente. Dos 20 endereços com maior poderio de transformação industrial, essência de Valor Adicionado, apenas a cidade de São Paulo manteve posição. A Capital do Estado permanece folgadamente na liderança.
Dos demais 19 integrantes da classificação, o Grande ABC participa com cinco endereços. Todos caíram pelas tabelas. São Bernardo caiu do segundo para o terceiro lugar, Santo André do sétimo para o 13º, Diadema do 13º para o 14º, São Caetano do 11º para o 16º e Mauá do nono para o 18º. Também perderam posição no ranking Campinas, do quarto para o quinto lugar, e São José dos Campos do quinto para o sexto.
Subiram no ranking Guarulhos, do terceiro para o segundo lugar; Barueri do 10º para o sétimo; Jundiaí do 12º para o oitavo; Osasco do 14º para o 10º Sorocaba do 15º para o 11º; Ribeirão Preto do 16º para o 12º; Santos do 17º para o 15º; Piracicaba do 19º para o 17º; Taubaté do 30º para o 19º e Mogi das Cruzes do 22º para o 20º lugar.
A principal diferença entre Valor Adicionado e PIB (Produto Interno Bruto) é que o primeiro conceito refere-se à renda gerada como saldo da produção e consumo intermediário. Simplificadamente, uma matéria-prima do Polo Petroquímico de Capuava industrializada em forma de pára-choque numa autopeças. Incluem-se todos os valores da fase de produção, como salários, insumos energéticos, prestadores de serviços. Quando se contabilizam os impostos líquidos de subsídios obtém-se o PIB. Ou seja: Valor Adicionado é estrutura orgânica de uma economia.
O bom senso recomenda que a anatomia do desenvolvimento econômico de qualquer localidade não pode se prender exclusivamente ao Valor Adicionado, mas também não pode desgarrar-se dessa medida de valor. PIB e Potencial de Consumo são companhias mais que importantes à consolidação de estudos. No caso do Grande ABC, há finíssima convergência entre os três indicadores. O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) também pode ser agregado às análises, mas enraizadamente está ligado ao Valor Adicionado.
Por mais que ao longo dos anos este jornalista tenha produzido estudos sobre o embicamento da economia do Grande ABC, com consequentes efeitos sociais, o que mais se pratica em instâncias públicas, empresariais e sindicais é o tratamento pontual dos problemas, sem qualquer objetividade e profundidade. Mais que isso: há sempre uma prévia disposição ao esquecimento permanente das complicações derivadas principalmente da desindustrialização dos anos 1990 e uma preferência fundamentalista de enaltecimento de eventuais avanços, desconsiderando-se bases de comparação mais abrangentes.
Quando dados do Valor Adicionado paulista do ano passado saltarem das planilhas da Secretaria da Fazenda do Estado o Grande ABC talvez possa melhorar de rendimento, porque o calendário foi extraordinariamente favorável, com crescimento de 7,5% do Produto Interno Bruto. O setor automotivo, do qual o Grande ABC participava com 20% das vendas de veículos de passeio e leves, bombou como nunca.
Entretanto, nada disso alterará a trajetória, porque há localidades e regiões com estruturas desenvolvimentistas muito mais aparelhadas à competitividade nacional e internacional em amplos setores produtivos. Enquanto isso, o Grande ABC automotivo fica com os fundilhos expostos numa das janelas preferenciais ao abate dos chineses.
A velocidade de crescimento da economia regional nos últimos 15 anos está muito aquém da média estadual, da média dos municípios que constam da lista dos 20 maiores do Estado e até mesmo da Capital. Isso significa que não será uma possível rota de fuga emergencial ditada pelo financiamento a perder de vista do item número um, número dois e número três dos brasileiros, o veículo próprio, a agregar força suficiente para uma reviravolta.
Vejam só algumas comparações que preparei para mostrar que o Grande ABC vai mal das pernas quando se entende que ir mal das pernas é não ter fôlego nem musculatura para uma corrida de longa distância:
Mesmo para quem, como este jornalista, lança-se à devassa da numerologia do Valor Adicionado com a certeza de que sempre recolherá más notícias, esses novos números são inquietantes. Vejam mais estes:
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