Economia

Quem terá coragem de voltar a falar
sobre anedótico aeroporto regional?

DANIEL LIMA - 31/10/2011

A piada do aeroporto regional ressuscitada ainda outro dia em manchete principal de primeira página do Diário do Grande ABC e também no noticiário do ABCD Maior, além de um artigo patético no Repórter Diário, assinado por Valter Moura, presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico, ganha novo capítulo.


Pena que a maioria da Imprensa desta Província ignore que há vida além dos 840 quilômetros quadrados locais. Não fosse isso, não seríamos a Província que somos, não é verdade?


Antes que CapitalSocial passe a revelar novas nuances sobre o assunto, convém lembrar que, astutamente, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, não confirmou até agora, e duvido que confirme, a nova e esdrúxula paternidade à constituição de um aeroporto regional.


Marinho deixou para assessores a sensibilização da mídia, como espécie de teste de capacidade de interpretação e análise do jornalismo regional. É claro que o vírus foi inoculado sem dificuldades no organismo do servilismo midiático.


Feita a experiência, oficialmente Luiz Marinho não assume o proselitismo aéreo. Pegaria mal, muito mal, para um governo que se destaca pela operosidade material de transformar São Bernardo num canteiro de obras.


Quem caiu feito bobo na armadilha foi Valter Moura que, dotado de mecanismo auxiliar de oportunismo retaliador a este jornalista, partiu para um ataque discreto em artigo lamentável porque recheado de salamaleques ao prefeito e tecnicamente estéril.


Tanto os enviados da Prefeitura de São Bernardo junto à Imprensa quanto Valter Moura não conseguem uma única vez sequer dar a seguinte resposta à especulação em forma de estudos técnicos à instalação de um aeroporto na Província do Grande ABC: o que seria feito com pelo menos 10 milhões de metros quadrados de área de preservação dos mananciais que cederiam espaço ao complexo aeroportuário? Isso significa mais de dois terços do território de São Caetano.


Respondam, respondam, desafia este CapitalSocial.


Mais ainda: se o Rodoanel Sul, que tangencia a Província do Grande ABC em forma de uma serpentina minúscula em relação ao universo ambiental que o cerca, causou tanto rebuliço preservacionista, o que dizer do impacto físico e aéreo de um aeroporto?


Respondam, respondam, desafia este CapitalSocial.


Os últimos acontecimentos


O que teria ocorrido nos últimos dias para fortalecer a lógica de que um aeroporto de verdade na Província do Grande ABC não passa de loucura, de retórica triunfalista imposta à pobre pauta jornalística para esconder questões mais importantes. Caso, por exemplo, dos chamados Polos Tecnológicos que insistem em não sair do papel, depois de irem para a arena de uma competitividade partidária burra.


As duas matérias jornalísticas às quais recorro são do melhor veículo de comunicação do País, o jornal Valor Econômico. Na edição de quinta-feira, sob o título “FAB descarta aeroporto em Caieiras”, o jornal paulistano publicou matéria que dá bem a dimensão do quanto é encardida a disputa por um novo endereço aeronáutico na Grande São Paulo. Alguns dos mais importantes trechos da matéria:


bullet_quadrado A Aeronáutica rejeitou o projeto de construção de um terceiro aeroporto na Região Metropolitana de São Paulo pela iniciativa privada. A avaliação do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) é de que o plano apresentado pelas construtoras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa para Caieiras, a 30 km do centro de São Paulo, é inviável, pois causaria interferência nos aeroportos de Cumbica, Viracopos, Congonhas e Jundiaí. Quando se leva em consideração o volume de tráfego da região, um aeroporto em Caieiras ficaria no meio de um espaço aéreo já tumultuado — a área chamada Terminal São Paulo, que corresponde a 33% de todo o tráfego do País, concentrado em apenas 1,2% do território nacional. Essa configuração, segundo o Decea, não foi analisada pelas construtoras do projeto. Nos moldes de Cumbica, Caieiras seria internacional, teria duas pistas de pouso e decolagem e uma capacidade inicial para 22 milhões de passageiros. Seria o primeiro aeroporto totalmente operado e construído pela iniciativa privada. (…) A negativa é um banho de água fria nos planos do Estado e da Prefeitura de São Paulo, que tentavam emplacar o projeto com o governo federal. No Planalto, porém, o terceiro aeroporto é um assunto a ser evitado – pelo menos até saírem os leilões de Cumbica e Viracopos (visando a Copa do Mundo).


Agora, alguns trechos da matéria desta segunda-feira sob o título “Plano de outorgas definirá novas concessões”. A entrevista é com o titular da Secretaria de Aviação Civil, o ministro-chefe Wagner Bittencourt:


bullet_quadrado … Quanto ao projeto do novo aeroporto de São Paulo, um empreendimento planejado pela Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez no Município de Caieiras, Bittencourt é taxativo: ele é “incompatível” com o tráfego aéreo em outros cinco terminais na mesma área de influência –Guarulhos, Viracopos, Congonhas, Campo de Marte e Jundiaí. “Ao entrar no meio deles, o novo aeroporto tiraria capacidade dos demais aeroportos. Torna-se um investimento que não gera retorno para o sistema como um todo” — disse o entrevistado.


bullet_quadrado ”Para autorizarmos um aeroporto, precisamos de avaliações técnicas, antes de mais nada. A posição do Decea é que esse aeroporto (Caieiras) não é compatível com os outros cinco aeroportos que já existem na região. Ao entrar no meio deles, o novo aeroporto tiraria capacidade dos demais aeroportos. Torna-se um investimento que não gera retorno para o sistema como um todo. Não é um posicionamento da Secretaria de Aviação Civil, que nem sequer tem competência para isso, mas sim um posicionamento técnico do Decea.


Sugestão aos leitores


Faço uma sugestão aos leitores deste CapitalSocial: vasculhem nestes dias que se seguem, em todos os veículos de comunicação desta Província, e verão que nenhum, absolutamente nenhum, se dedicará ao tema nos termos aqui colocados. Se algum o fizer, será com o claro objetivo de contrapor-se a essa projeção. O que seria ótimo.


Poderiam os veículos impressos e digitais, também, escrever sobre o desfalque promovido pelo Grupo De Nadai na merenda de estudantes paulistas, entre outros temas indesejáveis.


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