Uma boa notícia regional: o PIB de riqueza disponível no Grande ABC para ser gasto, como deve ser entendido o Índice de Potencial de Consumo, conseguiu escapar de iminente ultrapassagem ensaiada pelo G3. Esse grupo é formado por São José dos Campos, Sorocaba e Campinas, sedes de três regiões metropolitanas do Estado e áreas para as quais convergiu maior parte dos investimentos produtivos nas duas últimas décadas, juntamente com a Baixada Santista.
Graças ao governo Lula da Silva, o Grande ABC sempre pendurado perigosamente na doença holandesa das montadoras e autopeças, reagiu a partir de 2003. Mas a distância do G3 não é nada confortável. Tudo é possível nas próximas temporadas. Os dados da IPC Marketing e Editora, fonte desta análise, são implacavelmente confiáveis porque agrega indicadores de diversas fontes oficiais.
A confluência de números históricos envolvendo o Grande ABC e o G3 é a melhor forma de aferir o andar da carruagem do potencial de consumo, que nada mais é que um feixe de dados socioeconômicos que culmina com o armazenamento de salários e rendas dos moradores.
A revelação de dados estatísticos dos municípios do Grande ABC só tem sentido analítico de verdade quando se confronta com outros endereços. Principalmente com endereços economicamente mais competitivos do Estado, áreas para as quais se deslocaram indústrias ao longo de duas décadas, sempre sob observação emburrecida e atônita de instâncias locais.
É impraticável desvincular o potencial de consumo de qualquer endereço municipal, regional, estadual ou nacional das atividades econômicas.
O Grande ABC não perdeu por acaso o terceiro lugar no ranking nacional de potencial de consumo para Brasília nem alterna o quarto lugar com Belo Horizonte por teimosia. O quarto lugar no ranking é resultado dos estilhaços industriais nos anos 1990. Políticas e omissões tanto do governo federal quanto do governo estadual estão na raiz da compreensão das fraturas. Os municípios, mesmo descuidados, têm responsabilidade menor mas nem por isso desprezível nesse latifúndio de erros.
E olhem que o quarto lugar não é a realidade prática. Se forem levadas em conta áreas semelhantemente sistêmicas, casos da Grande Porto Alegre, da Grande Salvador, da Grande Recife, da Grande Curitiba, o Grande ABC despenca no ranking nacional. Aliás, já perde para a Grande Campinas, integrada por 19 municípios.
Em 1995, primeiro ano de governo de Fernando Henrique Cardoso e com o Grande ABC ainda menos atingido pelo sofrimento causado pela abertura econômica destrambelhada e tantas outras enfermidades que impactaram o setor automotivo, o potencial de consumo local era 12,39% superior ao conjunto formado pelos municípios de São José dos Campos, Campinas e Sorocaba. A diferença se estreitou ao final de 2002 para o empate técnico de 1,41% e, mesmo discretamente, subiu nos anos seguintes e atingiu 3,66% nesta temporada de 2011.
Vejam os números do Grande ABC, de cada um dos três municípios do G3 e do conjunto desses municípios em 1995, 2002 e 2011. É importante ressaltar que os valores são nominais, ou seja, sem desgastes inflacionários:
Possivelmente os leitores mais atentos identificaram as razões para que no conjunto da obra, quando os números do Grande ABC são confrontados com os do G3, a distância que separava os dois blocos tenha sido consideravelmente reduzida após 16 anos. O Grande ABC só supera a Campinas em evolução nominal do potencial de consumo: 321,17% ante 315,71%. No confronto com São José dos Campos, com 390,30%, o Grande ABC correu em velocidade 11% inferior. Já a disputa com Sorocaba é bem mais desvantajosa: os 465% de avanço do município interiorano representam velocidade 68% superior à do Grande ABC. Sorocaba está para o Grande ABC assim como a média brasileira está para o mesmo Grande ABC. Ou seja: Sorocaba e a média brasileira subiram na mesma intensidade.
Os estragos causados pelo deslocamento de investimentos em direção às regiões de Sorocaba, São José dos Campos e Campinas são muito maiores do que sugerem os números municipalizados de potencial de consumo.
As áreas metropolinas dos endereços do Interior atraíram imensa gama de empresas sobretudo do setor industrial, ainda o carro-chefe do desenvolvimento econômico brasileiro. Campinas e São José dos Campos, em maior escala, e Sorocaba, um pouco menos, já não conseguem capitalizar os investimentos produtivos como até o final dos anos 1990. Seus arredores menos problemáticos passaram a contar com a preferência de quem quer unir geração de riqueza e qualidade de vida.
Já produzi algumas dezenas de textos que dimensionam com diversos indicadores econômicos a descentralização de produção de riqueza às regiões da chamada Grande São Paulo Expandida, que vem a ser exatamente as áreas metropolitanas de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, além da Baixada Santista. O potencial de consumo da IPC Marketing e Editora corre na mesma mão de direção do PIB (Produto Interno Bruto), com pequenas nuances que não alteram relativamente o resultado final.
Sem medo de eventuais reações de gente que não suporta as dores da realidade, possivelmente nas próximas três temporadas o G3 ultrapassará o G7. A explicação é simples: se mesmo nos últimos anos dourados da indústria automotiva o Grande ABC não conseguiu diminuir ou eliminar a diferença de velocidade em relação ao conjunto formado por Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, o que será diante da perspectiva de que o setor automotivo, monomotor regional, encontrará dificuldades internas, de redução do ímpeto consumista na esteira de políticas macroprudenciais, e externas, ditadas pelo avanço das importações, para sustentar a retomada?
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