Os efeitos da globalização econômica, da estabilidade monetária e da abertura alfandegária estão mudando o perfil de preocupações dos pequenos empresários. O aquecimento da temperatura que identifica transformações encontra no Sebrae, Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa, um laboratório de alta precisão.
O balanço da atuação em 1996 da Regional Grande ABC do Sebrae revela o fortalecimento da tendência de pequenos empreendedores tratarem seus negócios de forma distinta dos tempos de inflação alta e de mercado fechado.
Agora, em vez de atenção ao mercado financeiro, que em muitos casos contrabalançava os percalços operacionais, os pequenos negócios primam pela melhoria da administração dos recursos em caixa e pelo marketing e, num patamar um pouco inferior, com modernização através da informática.
Gerente do Sebrae no Grande ABC, Eduardo Giorfi diz que o crescimento dos indicadores de consultorias empresariais, tanto internas quanto externas, dá mostras de que a região vive a efervescência de quem já tem ou pretende abrir negócio. Foram 1.435 atendimentos em consultoria, contra 1.113 do ano anterior, ou seja, crescimento de 29%. As áreas de administração financeira e marketing, pontos vitais de uma organização, ocuparam 60% dos trabalhos dos consultores junto a empresas dos setores industrial, comercial e de serviços, contra 37% do ano anterior. Como a informatização atingiu 18%, tem-se praticamente o quadro definido.
Aumentam os pretendentes
Entretanto, o número de pretendentes a novos empreendimentos, que contabilizam no mínimo quatro horas gratuitas de assessoria, evoluiu grandemente também e ocupou 16% do total das consultorias, com crescimento absoluto que quase duplicou os 137 atendimentos de 1995, já que atingiu 237. Eduardo Giorfi acompanha de perto a febre de candidatos à beira de abrir negócios. Ele prevê para este ano alteração no ranking de consultorias, com o item ultrapassando a informatização.
O comércio tem se manifestado mais atuante no relacionamento com o Sebrae do Grande ABC. Do total de atendimentos de consultoria de 1996, 67% foram do setor, contra 19% do de serviços e apenas 14% do industrial. Em 1995 havia certo equilíbrio entre as três áreas, com números respectivos de 42%, 24% e 34%. A melhor explicação é que o quadro conjuntural exige atenção redobrada de quem teve as margens de rentabilidade comprimidas e mais expostas à concorrência. Administração financeira e marketing passam, por isso, a exigir mais atenção.
O balcão de atendimentos do Sebrae registrou presença de 23.919 interessados em obter algum tipo de informação. A comparação com o período anterior está prejudicada, segundo Giorfi, porque houve mudança de metodologia. Antes se contabilizavam procedimentos de atendimento, depois se quantificaram apenas pessoa física ou jurídica cadastrada.
Evolução mensurável sem falhas, segundo ele, pode ser identificada na área de treinamentos, que atingiu 1.253 inscritos em 1995 e saltou para 2.138 no ano passado, isto é, crescimento real de 70%. Pesou nessa evolução, além da demanda natural, a ação mais prospectiva do Sebrae junto a parcerias de entidades empresariais. Também os cursos tiveram forte impulso, passando de 86 para 107.
As estatísticas de avanço na prestação de serviços aos pequenos empreendedores e aos que pretendem empreender são explicadas por Eduardo Giorfi como consequência do atendimento da demanda somada à maior agressividade da entidade em estabelecer parcerias. “Vamos imprimir ritmo ainda mais forte este ano porque estamos sentindo que há uma sede por atendimento” — afirma.
Giorfi iniciou no ano passado e pretende ampliar neste ano trabalho voltado à área estudantil, sobretudo de Terceiro Grau. A surpresa de um estande do Sebrae do Grande ABC vender 600 guias de empreendimentos para alunos universitários que participaram de evento realizado no Colégio São Luiz, em São Paulo, indica a Giorfi um potencial até então insuspeito de jovens candidatos a empresários. Se surpreendeu o volume de guias vendidos naquela escola, os 11 mil volumes de diversos títulos comercializados no balcão da sede em Santo André durante 1996, com crescimento de 50% sobre 1995, sinalizam à direção regional uma busca frenética pelo desafio de ser micro e pequeno empresário.
Uma mostra de vídeo promovida pelo Sebrae, também no ano passado, e que exigiu a elaboração de guia específico, traduziu-se em grande sucesso, com mais de 300 participantes. A iniciativa de editar o guia de administração de empresa de vídeo rompeu as fronteiras da região e o título está à venda em todas as unidades do Sebrae no País.
O gerente regional aposta todas as fichas no desenvolvimento institucional da região. “Os secretários municipais de Desenvolvimento Econômico vão colaborar para aquecer o ambiente empreendedor na região” — afirma. Um otimismo que conta com a torcida geral, porque os números do Sebrae, principalmente os relacionados ao contingente atendido no balcão e às consultorias de potenciais novos empreendedores, estão diretamente ligados a uma dura constatação: o desemprego industrial já não está mais sendo absorvido pelos setores de comércio e de serviços, e nem pelo subemprego.
A alternativa que se vislumbra é a livre iniciativa. “E temos muito espaço para isso, porque nos Estados Unidos a relação de população e de empreendedores é de 1 para 10, enquanto no Brasil é de 1 para 100″ — lembra Giorfi.
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