Imprensa

Diário esquece 30 anos do Acesso
do Ramalhão. Esquece ou boicota?

DANIEL LIMA - 01/12/2011

A marca de 30 anos redondos da conquista do título da Segunda Divisão do Futebol Paulista foi esquecida pelo Diário do Grande ABC neste 1º de dezembro. A coluna Memória, de Ademir Medici, meu amigo, não conta, porque é jornalismo à parte naquela Redação. Sem a influência corrosiva da direção.

 

Uma reportagem especial da Editoria de Esportes, porque aquela conquista vai muito além das quatro linhas, foi esquecida. Ou se promoveu um boicote contra o passado do Ramalhão. Por conta do presente empobrecido e nebuloso do Ramalhão.

 

Era este jornalista Editor de Esportes do Diário do Grande ABC naquela 1º de dezembro de 1981. Aliás, estava na função havia uma década. Contava com uma equipe de profissionais dedicadíssima e competente. Aquele 1981 foi especialíssimo.

 

Bastaria uma pesquisa editorial durante o período que antecedeu o jogo final contra o XV de Piracicaba, no Parque Antarctica, para resgatar um pedaço importantíssimo da história do Ramalhão. Mais que isso: um pedaço fundamental do processo de massificação da torcida do Ramalhão que, em última instância, significava o entranhamento do clube na sociedade. Algo que minguou a partir dos anos 1990 e que chegou ao fundo do poço na gestão de Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC e comandante supremo do Saged (Santo André Gestão Empresarial e Esportiva), empresa que terceirizou o Ramalhão há quatro anos. Os resultados, todos sabem, são desastrosos.

 

Confronto desgastante

 

Para o Diário do Grande ABC de Ronan Maria Pinto não interessaria relembrar nada daquele período, porque os menos emburrecidos vão traçar um paralelo devastador entre o passado e o presente.

 

Por isso, tudo leva a crer que a amnésia editorial do Diário do Grande ABC é seletiva. Há versões internas, na Redação, que dão conta de ordens expressas para o esquecimento daquela data. Por isso, apenas Ademir Medici, num registro sucinto, citou aquela conquista na coluna que mantém no periódico. E mesmo assim praticamente ignorando a cobertura do jornal. Preferiu destacar o trabalho da Rádio Diário do Grande ABC, meritório no acompanhamento dos fatos e na mobilização dos torcedores rumo à Capital.

 

Intencionalmente ou não, vetado ou não, Ademir Medici, meu amigo e a quem jamais farei qualquer tipo de cobrança porque não abuso dos mais próximos, principalmente dos mais próximos comprovadamente éticos e competentes, deixou para lá o ambiente jornalístico daquele jogo final. Talvez tenha sido apenas opção temática. Talvez tenha sido qualquer coisa que não tenha a ver com a ordem expressa de manter o nome deste jornalista longe daquelas páginas. Isso é outra história. Até porque envolve muitos outros profissionais de jornalismo.

 

Fonte de retalhação

 

O evento que o ex-presidente do Esporte Clube Santo André e atual presidente do Conselho Deliberativo do clube, Jairo Livolis, realizou na noite de segunda-feira na sede do Poliesportivo, no Parque Jaçatuba, teria sido o estopim para o Diário do Grande ABC rasgar a história dos 30 anos.

 

Jairo Livolis reuniu os conselheiros do clube para comemorar antecipadamente aquela data. Este jornalista foi convidado, embora não tenha relação formal alguma com o clube. Instado a me manifestar sobre aquela conquista, não resisti a comparar aqueles tempos com os atuais. Mais ainda: tendo a minha frente o segundo presidente da história do Santo André, o octogenário Wigand Rodrigues dos Santos, não tive dúvidas também em confrontar os dias atuais com aqueles de paixão pura, de falta crônica de dinheiro. Para chegar à conclusão que naqueles primeiros passos nos anos 1970 com Wigand Rodrigues o Ramalhão tinha muito mais perspectivas do que o Ramalhão-Saged deste começo dos anos 2010.

 

O presidente do Conselho Deliberativo do Santo André, Jairo Livolis, tem razão quando coloca aquele 1º de dezembro de 1981 como marco histórico do Ramalhão. Daí a estultice do Diário do Grande ABC, então monopolista da imprensa regional, omitir aquele período.

 

O Santo André atingia o ápice técnico e se envolvia de forma extraordinária com a sociedade. E era reconhecido como força viva pelo setor público, então chefiado por Lincoln Grillo. Tudo conspirou para que obtivesse, na sequência, a área no Parque Jaçatuba que, sob Jairo Livolis, o Santo André transformou num clube associativo que enriquece o 2º Subdistrito, especialmente.

 

Mais que futebol

 

Aquele 1º de dezembro foi o corolário de um feixe de emoções de cinco jogos seguidos na Capital. A Melhor de Três com o XV de Piracicaba, clube de tradição e muito respeitado, foi antecedida por uma série de dois jogos com o Paulista de Jundiaí, não menos importante entre os clubes médios paulistas.

 

Aquela Segunda Divisão de 1981 foi disputada em dois turnos. O campeão do primeiro turno, Santo André, enfrentou o Paulista de Jundiaí. Do outro agrupamento saiu o XV de Piracicaba. Foram cinco jogos em que a torcida do Santo André se mobilizou como nunca em direção à Capital. Bem diferente dos tempos recentes, como se sabe.

 

Nos jogos da final do ano passado do Campeonato Paulista da Primeira Divisão, ante o Santos, a torcida ramalhina não conseguiu preencher nem metade do tobogã no primeiro confronto e tampouco lotou a minúscula área lateral da arquibancada reservada aos visitantes, no segundo. Antes, na semifinal contra o Grêmio Prudente, o Estádio Bruno Daniel só recebeu 11 mil torcedores porque ingressos foram distribuídos entre outros pelos vereadores da cidade.

 

Entre o dever editorial de prestação de serviços de informações aos leitores e o amesquinhamento de omitir a história porque o presente é uma imensa e insatisfatória montanha de desilusões, a direção do Diário do Grande ABC optou pela segunda alternativa. Principalmente porque, além do confronto subjacente entre a incompetência do Saged e os esplendorosos resultados do passado, há também desafetos jornalísticos cujos legados de produção precisam ser sufocados.

 

Lamentavelmente não foi apenas o Santo André que se apequenou ao longo dos tempos. O Diário do Grande ABC vive apenas de espasmos de qualificação porque se tornou um corpo estranho na sociedade regional, sem memória sistêmica, sem liberdade na Redação, sem cérebro nos andares de cima.

 

Leiam também:

 

O que tem a ver a morte de Celso Daniel e o silêncio no Ramalhão?



Leia mais matérias desta seção: Imprensa

Total de 1859 matérias | Página 1

16/09/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (14)
13/09/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (13)
11/09/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (12)
09/09/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (11)
05/09/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (10)
03/09/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (9)
21/08/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (8)
15/08/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (7)
08/08/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (6)
02/08/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (5)
25/07/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (4)
16/07/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (3)
10/07/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (2)
04/07/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (1)
13/06/2024 CapitalSocial: atacado do atacado e livro histórico
09/05/2024 Perguntas para o deputado Manente
08/05/2024 Veja as perguntas ao sindicalista Martinha
07/05/2024 Veja todas as perguntas ao vereador Carlos Ferreira
06/05/2024 Ao Judiciário e ao MP: acusado faz ameaça