Economia

G7 perde um terço do consumo
mas muda pouco internamente

DANIEL LIMA - 17/05/2011

O G7, variável denominativa de Grande ABC, perdeu um terço (exatamente 32,63%) de participação no potencial de consumo brasileiro nos últimos 16 anos (entre 1995 e 2011), conforme estudos do IPC Marketing Editora, banco de dados sobre o qual me lancei para tentar dissecar mais essa faceta da economia regional. Não é pouca coisa, convenhamos. Nem tampouco, em nome de apartidarismo mambembe, de ideologia rastaquera, deve ser ignorado que a fonte principal, quase exclusiva, foram os terríveis anos-Fernando Henrique Cardoso, por tudo que representou de estragos na economia regional, então superprotegida em sua principal fonte de riqueza, o setor automotivo.


A notícia amenizadora em meio ao caos estatístico que se reflete na queda do padrão de qualidade de vida do Grande ABC no período é que internamente, nas relações locais, os municípios praticamente se mantiveram intocáveis proporcionalmente na distribuição de potencial de consumo. Ou seja: o maremoto atingiu a todos quase que de forma uniforme.


Quase toda a perda de participação nacional do potencial de consumo do Grande ABC foi esculpida pelo terrorismo da política econômica de Fernando Henrique Cardoso entre 1995 e 2002. Do total de 32,63% da queda do potencial de consumo entre 1995 e 2011, nada menos que 27,81% se deram nos oito anos de FHC.


Nos anos subsequentes do presidente Lula da Silva (e o primeiro de Dilma Rousseff) e sua política amplamente favorável aos indicadores de consumo, em detrimento inclusive de investimentos produtivos à altura do comprometimento histórico da infraestrutura do País, o Grande ABC só perdeu 6,68% de participação no PIB de consumo do País.


Ou seja: com Fernando Henrique Cardoso, a média anual de afrouxamento do potencial de consumo alcançou a 3,476%, enquanto que com Lula da Silva/Dilma chega-se a apenas 0,742%. Veja na sequência os números individuais dos municípios do Grande ABC em três momentos diferentes (1995, 2002 e 2011) bem como a perda relativa:



  •  Santo André — Contava com 0,8750% em 1995, caiu para 0,6332% em 2002 e voltou a cair para 0,5832% em 2001. Queda acumulada de 33,55%, ou média de 2,09% ao ano nos últimos 16 anos (a base de cálculo é 1995).
  •  São Bernardo — Contava com 1,0040% em 1995, caiu para 0,6959 em 2002 e caiu de novo para 0,6348% em 2011. Queda acumulada de 36,70% no período, média anual de 2,29%.
  •  São Caetano — Contava com 0,2510% em 1995, caiu para 0,1931% em 2002 e voltou a cair para 0,1604% em 2011. Queda acumulada de 53,90%, média anual de 3,37%.
  •  Diadema — Contava com 0,3223% em 1995, caiu para 0,2392% em 2002% e chegou a 0,2386% em 2011. Queda acumulada de 25,97% no período, média anual de 1,62%.
  •  Mauá — Contava com 0,3210% em 1995, caiu para 0,2361% em 2002 e chegou a 0,2396% em 2011. Queda acumulada de 25,36% no período, média anual de 1,58%.
  •  Ribeirão Pires — Contava com 0,1080% em 1995, caiu para 0,0788% em 2002 e chegou a 0,0762 em 2011. Queda acumulada de 29,44% no período, média anual de 1,84%.
  •  Rio Grande da Serra — Contava com 0,0022% em 1995, caiu para 0,0019% em 2002 e subiu para 0,00230 em 2001, com estabilidade no período.

Explicitados esses números do comportamento individual dos municípios do Grande ABC em 16 anos de dados do IPC Marketing, passamos à participação relativa regional, quando se notarão pequenas variáveis:



  •  Santo André — Contava com 30,13% de participação regional em 1995, subiu para 30,21% em 2002 e caiu para 29,82% em 2011.
  •  São Bernardo — Contava com 34,58%, caiu para 33,20% e caiu de novo para 32,45%.
  •  São Caetano — Contava com 8,64%, subiu para 9,21% e caiu para 8,20%.
  •  Diadema — Contava com 11,10%, subiu para 11,41% e subiu de novo para 12,90%.
  •  Mauá — Contava com 11,06%, subiu para 11,26% e subiu de novo para 12,20%.
  •  Ribeirão Pires — Contava com 3,72%, subiu para 3,76% e subiu de novo para 3,90%.
  •  Rio Grande da Serra — Contava com 0,75%, subiu para 0,93% e subiu para 1,17%.

O Potencial de Consumo do Grande ABC nesse período esteve muito aquém da velocidade média do País como um todo. Crescer abaixo do Brasil não é um bom negócio. Há endereços municipais e regionais que suplantam largamente os números gerais. A média brasileira é comprometida por desigualdades sociais e econômicas. Nos tempos de mercado fechado e de repasse automático de improdutividades do setor automotivo ao restante do País, o Grande ABC nadava de braçadas com avanços muito acima da média nacional.


Aí veio a abertura econômica destrambelhada que nos retirou da zona de conforto e nos meteu no inferno. Caímos vertiginosamente. Qualquer indicador seriamente observado e analisado detecta a quebra do tecido socioeconômico do Grande ABC.


Potencial de Consumo é um dos medidores que utilizamos ao longo dos anos, sempre em parceria com o especialista Marcos Pazzini, ex-Target. O paralelismo entre Potencial de Consumo e PIB (Produto Interno Bruto) não é obra de alquimia matemática, aritmética, econométrica e o escambau. Causas e efeitos se entrecruzam.


Vejam os números do Potencial de Consumo do Grande ABC, do Estado de São Paulo e do Brasil em 1995, 2002 e 2011, e as variações nominais, sem contar os efeitos inflacionários, ao final de cada período, de Fernando Henrique Cardoso, de Lula da Silva e dos 16 anos pesquisados:



  •  Grande ABC — Registrava R$ 11.386.852 bilhões de potencial de consumo em 1995, R$ 16.516.038 em 2002 e R$ 47.958.304 em 2001. O crescimento nominal entre 1995 e 2011 foi de 321,17%. O crescimento nominal entre 1995 e 2002 registrou 45,04%. Já entre 2002 e 2011 o crescimento foi de 190,37%.
  •  Estado de São Paulo — Registrava R$ 139.333.116 bilhões de potencial de consumo em 1995, R$ 244.255.433 em 2002 e R$ 719.558.825 bilhões em 2011. O crescimento nominal entre 1995 e 2011 foi de 416,43%. Entre 1995 e 2002 registrou avanço de 75,30%. Entre 2002 e 2011 o crescimento nominal foi de 194,59%.
  •  Brasil — Registrava R$ 380.098.377 bilhões de potencial de consumo em 1995, R$ 760.419.315 bilhões em 2002 e R$ 2.451.729 bilhões em 2011. O crescimento nominal entre 1995 e 2011 foi de 545,02%. Entre 1995 e 2002 foi de 100% e entre 2002 e 2011, atingiu 222,41%.

O potencial de consumo do Grande ABC perde, portanto, para a média do Estado de São Paulo e a média brasileira nos três períodos, mas muito mais acentuadamente durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso: foram apenas 45,04% de avanço nominal, contra 75,30% dos paulistas e 100% da média nacional.


Resultado da ópera: o potencial de consumo do Grande ABC apresentou velocidade média 29,66% abaixo da registrada pelos paulistas e 69,69% abaixo da brasileira. Já os paulistas perderam a disputa para a média brasileira ao apresentar evolução nominal 30,88% inferior.


É por essas e outras que, também quando os espertinhos de sempre confrontam dados estatísticos do Grande ABC relativamente ao Estado de São Paulo, não podem ser levados a sério se pretendem chegar a resultados minimizadores dos estragos.


A contextualização nacional é uma boa maneira de se chegar a avaliações mais adequadas à realidade. Mas o ideal mesmo — e temos feito assim ao longo dos tempos — são os confrontos com os novos e os antigos polos de desenvolvimento econômico do Estado e do País. Aí o tamanho do prejuízo fica mais inquietante.


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