Com velocidade de crescimento do potencial de consumo 70% abaixo da média nacional no período de 1995 a 2011, o Grande ABC só poderia mesmo ver a larga diferença de pobres e miseráveis da população estreitar-se em relação à população brasileira. Que resultado mais desastroso que esse, levando-se em conta que aqui é o berço do capitalismo verde e amarelo e também multinacional, enquanto o País como um todo se perdeu nas brumas do tempo com excessos de estatismo improdutivo, de coronelismos políticos irrefreáveis e de atavismo social?
Aproximar-se do Retrato do Brasil também entre os pobres e os miseráveis, se já não bastasse entre as classes médias, não é um resultado a festejar. Ainda mais que, por mais que tenha melhorado nos últimos 10 anos com modestos índices de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), o País está muito distante do Primeiro Mundo e não se liberta de desigualdades sociais quase insanáveis.
O Grande ABC é espécie de Vera Fischer que envelheceu e aparece em ponta de telenovela toda retocada de botox, mas ainda se imagina no fulgor dos tempos de glória de Miss Brasil. Nem todo mundo se dá conta disso, de que o Grande ABC envelheceu numa proporção muito maior do que seria socialmente natural.
Não à toa o mercado imobiliário tão badalado em manchetes de jornais acusa essa propensão ao declínio, já que o metro quadrado de novos apartamentos custa metade do negociado na vizinha Capital. Ou alguém é capaz de defender a tese de que não há sintomas de declínio num território que não consegue seguir o ritmo de outros endereços?
Quando se ganha a preferência de investimentos imobiliários por conta do custo menor da terra é mais que evidente que o mercado como um todo está abalado e que os efeitos econômicos na outrora dinâmica sede do capitalismo industrial mais avançado do País são permanentes?
O Grande ABC está na Segunda Divisão do Campeonato Metropolitano de Investimentos Imobiliários. Nada como o Potencial de Consumo do IPC Marketing para comprovar a quantas andam as pernas da economia e da sociedade do Grande ABC e de outras áreas.
O quarto lugar no ranking nacional, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, não esconde, como mostram os números do IPC Marketing, que há desgaste da fuselagem do Grande ABC. O próprio quarto lugar é meio fantasioso, porque será o quinto se os 19 municípios da Região Metropolitana de Campinas forem tratados igualmente como área de interesses sistêmicos, como aqui. E a Grande Porto Alegre, a Grande Salvador, a Grande Recife?
Escrevo esse novo artigo tendo como base de apoio os dados sempre providenciais e sólidos do IPC Marketing, ex-Target, empresa do especialista Marcos Pazzini.
Ontem escrevemos sobre os estragos provocados pelo Plano Real e outras decisões do governo Fernando Henrique Cardoso na classe média tradicional e na classe média emergente do Grande ABC.
Agora trataremos dos pobres e miseráveis, massas drasticamente reduzidas no Brasil durante o governo Lula da Silva de políticas compensatórias, como chamam os acadêmicos os dinheiros públicos focalizados no atendimento das supostamente básicas necessidades dessas camadas de desvalidos.
A proporção de pobres no Grande ABC em 1995, primeiro ano pós-Real, era de 22,58% da população interna, ou seja, quando se comparam os números do segmento com as demais classes sociais da região. O Estado de São Paulo registrava números semelhantes (22,17%), enquanto o Brasil alcançava 38,60%. Ou seja: O Grande ABC contava com taxa de população pobre 70% inferior a registrada no Brasil, e praticamente a mesma dos paulistas.
Os pobres do Grande ABC em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, aumentaram quase quatro pontos percentuais, pois registraram 26,45% da população local. O Estado de São Paulo seguiu na mesma linha, com quase cinco pontos percentuais, chegando a 27,87%. Já no Brasil, essa faixa foi reduzida a 34,40%, ou seja, quase quatro pontos percentuais.
Veio o governo Lula da Silva e o que temos como marca para este 2011 da presidente Dilma Rousseff é que os pobres do Grande ABC caíram para apenas 10.10% da população, enquanto no Estado de São Paulo são 11,20% e no Brasil, 15,10%.
Conclusão? A diferença de participação relativa dos pobres no Grande ABC e do Brasil caiu entre os dois extremos dos estudos do IPC Marketing de 69,69% para 49,50%. Tudo porque a velocidade de queda desse estrato social registrou 55,27% no Grande ABC durante o período pesquisado, contra 49,48% no Estado de São Paulo e 60,88% no Brasil.
Em números absolutos, o Grande ABC registra nesta temporada 79.390 famílias na faixa de consumo de pobres. No Estado de São Paulo são 1.373.286 famílias, enquanto no Brasil chega-se a 7.404.082.
E entre os miseráveis das três áreas geográficas que saltam das planilhas do IPC Marketing para a metabolização deste jornalista? Simples, muito simples: em 1995 as marcas eram semelhantes (1,99% da população do Grande ABC reunia famílias de miseráveis, contra 1,09% do Estado de São Paulo e 1,48% no Brasil), mas houve desgarramento em 2002, último ano de FHC, quando os miseráveis do Grande ABC eram 3,47% das famílias locais, contra 4,10% no Estado de São Paulo e nada menos que 12,72% no Brasil.
Agora, neste 2011, pós-oito anos de Lula da Silva, o resultado voltou a ser semelhante, e bastante rebaixado: 0,5% da população do Grande ABC e do Estado de São Paulo é formada por essa última escala socioeconômica detectada nos estudos de Potencial de Consumo do IPC Marketing, enquanto no Brasil o índice é de 0,8%.
Em números absolutos, o Brasil conta nesta temporada com 404.950 famílias de miseráveis, dos quais 67.217 habitantes no Estado de São Paulo e 3.840 no Grande ABC. A proporção de famílias de miseráveis no Grande ABC em relação à população de miseráveis do Brasil aumentou de 0,25% em 1995 para 0,47% em 2002 e chegou a 0,95% nesta temporada.
Voltaremos com novas abordagens.
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17/09/2024 Sorocaba lidera RCI, São Caetano é ultima