A economia de Santo André não consegue reagir nem em termos provinciais, isto é, comparando os dados com os demais municípios da região, quanto mais em confrontos amplos, extra-territoriais.
Por isso, a Imprensa cumpriria o papel crítico e analítico do qual jamais deveria abdicar se filtrasse com um mínimo de cuidado as informações oficiais que procuram instalar a antiga capital econômica da região em situação positivamente diferenciada.
Tudo não passa de uma jogada publicitária disfarçada de pesquisa e de informação jornalística publicada em estado bruto, em forma de press-release.
O PIB (Produto Interno Bruto) de Santo André só superou o de Mauá entre 1999 e 2009. Em períodos anteriores, a partir dos anos 1980, conheceu derrotas ainda mais duras. Desde os anos 1970, o repasse do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) retirou dois-terços do volume destinado a Santo André. Nenhum outro Município brasileiro sofreu tanto. A desindustrialização fez estragos.
A tentativa da Administração Aidan Ravin de embevecer leitores de jornais incautos ou imprevidentes sobre o suposto dinamismo econômico de Santo André equivale em desperdício à fanfarronice da Administração Luiz Marinho no campo logístico, ao instalar um aeroporto internacional em São Bernardo quando se sabe que de fato a possível obra não passaria de aeroportozinho para uso de aviões de executivos. Ou seja: anunciou-se um jogo com o Barcelona quando o adversário é o Jabaquara.
Marinho tem cacife
A diferença principal entre os excessos da Administração Luiz Marinho e os arroubos da Administração Aidan Ravin é que o petista tem cacife para desperdiçar com uma bobagem sem tamanho, porque realiza governo muito acima das perspectivas mais otimistas, enquanto Aidan Ravin patina, patina e patina.
Luiz Marinho preparou-se para arrecadar o máximo possível de recursos federais. Aidan Ravin faz fita para negar o inegável: desdenhou de programas que revertessem em dinheiro de Brasília. Vitimiza-se para aliviar a barra mas não resistiria a um embate no qual se exigisse rigorosa prestação de contas dos diálogos documentais com a capital federal.
Em favor de Aidan Ravin existem obstáculos cristalizados quando se trata de desenvolvimento econômico: Santo André está geograficamente encalacrada enquanto São Bernardo, apesar de não ser aquela esquina tão rica quanto a propagada pelo proselitismo eleitoral do governador Geraldo Alckmin, conta com mais alternativas ao chamamento de negócios. Pesam bastante as montadoras de veículos e tanto a Anchieta quanto a Imigrantes ainda carregam potencialidades que os mais afoitos e festivos tentaram transferir para o fechadíssimo traçado do Rodoanel Sul.
Exatamente por conta das diferenças acentuadamente mais problemáticas para Santo André o governo Aidan Ravin deveria ter preparado força-tarefa para esquadrinhar um projeto prioritário de recuperação econômica que o antecessor petista, João Avamileno, também subestimou, e o antecessor de seu antecessor, Celso Daniel, fez das tripas coração para implementar num período pouco fértil, de governo federal completamente alheio quando não ostensivamente contrário à Província.
A Cidade Pirelli (não essa miniaturização que está aí, de fato Espaço Brookfield) e o Eixo Tamanduatehy foram gestados para reescrever economicamente o hino do Município, que saudosamente remete à “viveiro industrial” porque, quando composto, viviam-se férteis anos 1950.
Viuvez industrial
A evolução (ou a involução) do PIB de Santo André só supera Mauá, tendo 1999 como base de comparação. A melhor explicação é que Santo André caiu na pasmaceira da viuvez industrial e perdeu o rumo. Mauá é a última colocada regional porque se acomodou com as receitas do Polo Petroquímico de Capuava, avaro em geração de emprego, e o Polo Industrial de Sertãozinho não decolou ante a especulação imobiliária ensandecida com a chegada do trecho sul do Rodoanel.
Há dois medidores disponíveis para encontrar os números que dimensionam a situação regional. A deflação pelo IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) da Fundação Getúlio Vargas, determina que a Província do Grande ABC perdeu 2,93% do PIB acumulado no período de 10 anos. Ou 0,293% ao ano. Já pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), o estudo aponta crescimento acumulado da Província de 16,56%. É claro que a escolha do indicador não altera o produto final em termos de ranqueamento, embora minimize bastante o desempenho regional. De qualquer maneira, Santo André está na roça.
Vejam os números do PIB dos municípios da Província do Grande ABC entre 1999 e 2009:
Santo André contava com R$ 5.954,25 bilhões e chegou a R$ 14.709,60 bilhões, com avanço nominal (sem considerar a inflação) de 147,04%.
São Bernardo contava com R$ 10.463,85 bilhões e chegou a R$ 28.935,77 bilhões, com avanço nominal de 176,53%.
São Caetano contava com R$ 3.014,67 bilhões e saltou para R$ 8.920,20 bilhões, com avanço nominal de 195,89%.
Diadema contava com R$ 3.824,97 bilhões e saltou para R$ 9.969,82 bilhões, com avanço nominal de 160,65%.
Mauá contava com R$ 2.838,24 bilhões e chegou a R$ 6.574,85 bilhões, com avanço nominal de 131,65%.
Ribeirão Pires contava com R$ 646,02 milhões e saltou para R$ 1.631,34 bilhão, com avanço nominal de 152,52%.
Rio Grande da Serra contava com R$ 142,25 milhões e passou para R$ 421,63 milhões, com avanço nominal de 196,40%.
O conjunto da Província do Grande ABC alcançou PIB em valores nominais de R$ 26.884,25 bilhões em 1999, ante R$ 71.163,21 bilhões em 2009, com avanço nominal de 164,70%.
Vejam agora o resultado individual dos municípios da Província, em termos de desempenho acumulado no período de 10 anos, sempre tendo 1999 como base de cálculos, e levando-se em conta o deflacionamento pelo IGP-M e pelo IPCA do período:
Santo André perdeu 9,41% no período pelo IGP-M (queda de 0,941 ao ano) e ganhou 30,00% pelo IPCA (crescimento de 3,00% ao ano).
São Bernardo ganhou 1,40% no acumulado de 10 anos (0,140% ao ano) pelo IGP-M e 45,57% no acumulado pelo IPCA (crescimento de 4,557% ao ano).
São Caetano ganhou 8,50% no acumulado de 10 anos pelo IGP-M (0,858% ao ano) e 55,76% no acumulado pelo IPCA (5,557% ao ano).
Diadema perdeu 4,425% no acumulado de 10 anos pelo IGP-M (queda de 0,442% ao ano) e ganhou 37,19% no acumulado pelo IPCA (3,719% ao ano).
Mauá perdeu 15,05% no acumulado de 10 anos pelo IGP-M (média de 1,505% ao ano) e ganhou 21,95% no acumulado pelo IPCA (2,195% ao ano).
Ribeirão Pires perdeu 7,40% no acumulado de 10 anos pelo IGP-M (média de 0,740% ao ano) e ganhou 32,93% no acumulado pelo IPCA (3,293% ao ano).
Rio Grande da Serra perdeu 2,93% no acumulado de 10 anos pelo IGP-M (média de 0,293% ao ano) e ganhou 56,03% no acumulado pelo IPCA (média de 5,603% ao ano).
O acumulado de crescimento do PIB da Província do Grande ABC pelo IPCA alcançou 39,34% no período pesquisado. Praticamente empatando com o registrado pelo Brasil como um todo, de 39,20%. A média anual da Província é de 3,934%. A brasileira é de 3,920%. Empate técnico em jogo de baixo nível. Tanto que a Província do Grande ABC perde feio para as regiões metropolitanas de Campinas, Sorocaba, Vale do Paraíba e Baixada Santista.
Só existe algo pior que cair pelas tabelas, como a Província vem caindo há mais de duas décadas: é trombetear falso sucesso. Como tem feito a Prefeitura de Santo André com os alquimistas da Secretaria de Desenvolvimento Econômico.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?