Economia

Passado começa
a virar estatística

MALU MARCOCCIA - 05/08/1997

O Estado de São Paulo começa a acertar as contas com o passado de estatísticas econômicas. Submetida à concorrência das importações, em 1990, a economia do Estado brasileiro que mais produz foi obrigada a modernizar-se, a fazer mais, melhor e mais barato. De que forma? Com quais ferramentas de gestão e tecnologias? Com que impacto sobre o emprego? Com que consequências sobre as estruturas produtiva e social?


 


Tudo isso começa a ser medido este mês através de supercenso que vai radiografar a economia paulista no todo e em partes, nas suas microrregiões. O Grande ABC terá capítulo especial não só devido à importância de seu forte parque industrial, mas porque o Consórcio Intermunicipal dos Prefeitos quer esmiuçar um pouco mais levantamento a ser preparado pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) para contribuir com os debates que se desenvolvem dentro da Câmara Regional.


 


A radiografia socioeconômica, ou melhor, a verdadeira tomografia computadorizada de São Paulo, como define o diretor executivo do Seade, Pedro Paulo Martoni Branco, deve atingir mais de 30 mil empresas e pretende capturar toda a reestruturação produtiva por que passaram sobretudo a partir do desmonte das barreiras comerciais que por anos isolaram o Brasil do mundo em termos de modernidade.


 


Além de representar usina de novos dados sobre as transformações econômicas, a PAEP (Pesquisa da Atividade Econômica Paulista) quer fertilizar um universo estatístico até agora pobre, desatualizado e fragmentado, que deixa às escuras as empresas nos preciosos momentos de decidir investimentos, os Poderes Públicos nas ações de planejamento e os próprios centros de pesquisas que abastecem variados segmentos, sobretudo entidades de classe.


 


O último levantamento econômico do País, o censo de 1985, está francamente atropelado pelos fatos, enquanto algumas organizações empresariais desenvolvem esforços estatísticos isolados, casos de Fiesp, Fcesp e SindusCon, que representam indústria, comércio e construção civil, respectivamente, e que já manifestaram apoio à iniciativa, informa Pedro Paulo. Também o Conselho Regional de Contabilidade do Estado assinou protocolo de adesão.  


 


Todas as categorias


 


O inusitado da PAEP, aliás, é que cada categoria econômica terá levantamento específico, pois os questionários foram elaborados de acordo com a natureza das atividades em estudo (indústria, comércio, serviços de informática e construção civil). Em papel ou disquete, as empresas responderão a perguntas sobre temas variados, como produtividade, desempenho, eficiência, capacitação tecnológica, mão-de-obra, terceirização, meio ambiente e disposição geográfica.


 


"Vamos ter uma compreensão ampla e profunda sobre todo Estado, que, por sua vez, possibilitará análises mais detalhadas sobre setores, regiões, presença estrangeira, impacto da abertura econômica e outros" - diz o diretor executivo.


 


Por ser mais detalhada, a pesquisa no Grande ABC será censitária, não por amostragem. Pedro Paulo revela que a tomografia computadorizada do Estado e seus PIBs regionais permitirão inclusive acompanhar as trajetórias dos fluxos econômicos. "A partir de uma matriz que reflita a estrutura produtiva, será inaugurada uma série de pesquisas visando a mensurar as transformações ao longo do tempo. Como exemplo: só na Região Metropolitana de São Paulo, 33% do emprego industrial foram eliminados nos últimos 10 anos. Além disso, tivemos o desaparecimento de empresas não-competitivas, enquanto algumas migraram para outros Estados. Todos são fenômenos pouco analisados e compreendidos até agora" - justifica o diretor na apresentação da PAEP preparada pelo Seade.


 


Ele ainda acrescenta sobre a importância desse que será o maior censo até agora produzido na América Latina: "A falta de informações compromete a tomada de decisões. A nossa indústria automobilística modernizou-se? Parece que sim. Mas quais os impactos sociais dessa modernização? E a indústria têxtil, que mudou de localização geográfica em função da guerra fiscal entre Estados e da concorrência com importados, qual seu futuro no Brasil?".


 


O sentido de investigação da PAEP não lhe subtrai o caráter sigiloso dos dados coletados, tranquiliza a Fundação Seade. A dimensão estadual da PAEP ganha fôlego este mês após a pesquisa-piloto desenvolvida em junho em Sorocaba, Município com 430 mil habitantes e que sintetiza a economia de São Paulo em termos de diversidade industrial, comercial e de serviços. Participaram 150 empresas daquela cidade.


 


Até novembro


 


A idéia é coletar e tabular os levantamentos numa primeira versão até novembro, retomar algumas pendências um ou dois meses depois para produzir, até o primeiro trimestre de 1998, o consolidado geral. O mais completo mapa sobre o Grande ABC estará recebendo apoio da estrutura do Inpes (Instituto de Pesquisas do IMES de São Caetano), que já preparou micromapas socioeconômicos para Diadema e Ribeirão Pires.


 


Em âmbito estadual, o apoio financeiro virá da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) com verba de US$ 500 mil originada do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). A Fundação Seade calcula em R$ 4 milhões o custeio total, desde 1991, quando começou a debruçar-se sobre as idéias iniciais com assessoramento de órgãos de pesquisa, até a aplicação e tabulação dos questionários.


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