A Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Santo André, extravagante nomenclatura para uma divisão da Administração Aidan Ravin que assiste impunemente a banda da decadência econômica da cidade passar, precisa deixar de firulas estatísticas para prestar mais atenção ao andar da carruagem da realidade. E a realidade diz que, desde 2000 (é melhor esquecer temporariamente os desajustes anteriores, que são mais tenebrosos) Santo André é lanterninha entre os integrantes do G7 e do G5. O G7 é formado pelos municípios da Província do Grande ABC. O G5 é integrado por Osasco, Guarulhos, Campinas, São José dos Campos e Sorocaba.
Se a pesquisa à qual me dediquei nos últimos dias for mais elástica e reunir todos os municípios paulistas com riqueza econômica razoavelmente construída, praticamente nada se alterará. Santo André não escapa da síndrome do rebaixamento permanente que assombra também o futebol, o pobre futebol do Saged (ex-Ramalhão), e os esportes semiprofissionais nos Jogos Abertos do Interior, além do outrora insuperável voleibol.
Responsabilizar exclusivamente o governo Aidan Ravin pelos desastres seria rematada idiotice. A marcha fúnebre vem de longe, apenas com estancamento parcial durante a Administração Celso Daniel. E mesmo assim por conta de fatores externos -- apesar de o então prefeito de Santo André dedicar-se à execução de um plano de reorganização econômica.
O problema maior da Administração Aidan Ravin é que, a seu mando ou por interesses mais que ostensivos de assessores em marcar presença, desfilam-se dados e análises despropositais na tentativa de dourar a pílula. Uma besteira sem tamanho porque, após três anos de gerenciamento, o prefeito de Santo André não deu um passo sequer, unzinho, em direção a uma leve reação.
Considerando-se o ano base de 1999 e chegando ao extremo de 2009 os números do PIB (Produto Interno Bruto) dos municípios integrantes do G12, a soma do G7 e do G5, a situação da parcela do PIB do setor industrial de Santo André é a mais desvantajosa. Vejam os números:
Santo André cresceu nominalmente (sem efeitos inflacionários) apenas 92,13% no período, contra uma inflação acumulada do IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado) de 127,08%.
São Bernardo cresceu nominalmente 216,77%.
São Caetano cresceu nominalmente 307,40%.
Diadema cresceu nominalmente 181,59%.
Mauá cresceu nominalmente 150,00%.
Ribeirão Pires cresceu nominalmente 180,94%.
Rio Grande da Serra cresceu nominalmente 166,25%.
Campinas cresceu nominalmente 174,51%.
São José dos Campos cresceu nominalmente 123,40%.
Sorocaba cresceu nominalmente 271,00%.
Osasco cresceu nominalmente 150%.
Guarulhos cresceu nominalmente 151,26%.
Números esclarecidos
Na média ponta a ponta entre 1999 e 2009, os municípios que formam a Província do Grande ABC registraram crescimento nominal de 178,23%, enquanto os integrantes do G5 evoluíram 157,32%. Dirão os propagadores de subterfúgios que não temos nada a reclamar, apesar dos estragos principalmente
Os municípios da Província do Grande ABC que mais cresceram (São Caetano e São Bernardo) estão ligadíssimos ao setor automotivo que apresentou evolução considerável no período. Além disso, a base de comparação é favorável à Província, porque 1999 ainda marcava o período mais terrível da economia regional, atingida em cheio pela abertura econômica e a desarticulação da cadeia produtiva de setor automotivo.
Reconheço mais uma vez que a contabilidade a que me dei ao trabalho não é a mais depurada, porque comparação ponta a ponta não alcança o detalhismo dos números quando se decompõe uma ação estatística levando-se em conta os dados anuais, confrontados com as respectivas taxas de inflação. Se formos dar conta desse tipo de preciosidade, podem ter certeza os leitores que os resultados serão ainda mais preocupantes para Santo André porque os desencontros a cada 12 meses se retroalimentarão de forma ainda mais insidiosa.
A perda da musculatura industrial é patente
Terciário pobre
Celso Daniel procurou destilar o conceito mais que oportuno de valorização do terciário, agregando valor às atividades de modo a aproximá-las do setor industrial. Mas a morte precoce do dirigente interrompeu a catequese. João Avamileno não teve cacoete desenvolvimentista. Aidan Ravin consegue ser uma cópia piorada porque, diferentemente de Avamileno, não se cala. Mais que isso, permite emissões de bobagens supostamente bem fundamentadas, porque suportadas por dados macroeconômicos. O problema é que a capacidade de inserção e de intervenção regional nessa numeralha tem tanta intimidade quanto o ambiente num monastério e o dia a dia do Big Brother Brasil.
Quando se confronta o Valor Adicionado do setor industrial, que faz parte de composição do PIB, com o número geral de cada Município, é possível extraírem-se conjecturas fantasiosas. Foi a essa conclusão que cheguei quando, ao comparar a participação do Valor Adicionado industrial em 1999 e em 2009, registrei os seguintes números:
Santo André contava com 32,88% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 29,04% em 2009, o que significa uma queda de 11,68%.
São Bernardo contava com 33,92% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 36,68% em 2009, com crescimento de 7,52%.
São Caetano contava com 21,29% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 29,83% em 2009, com crescimento de 40,11%.
Diadema contava com 38,55% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 38,65% em 2009, com crescimento residual.
Mauá contava com 34,71% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 35,71% em 2009, com crescimento de 2,88%.
Ribeirão Pires contava com 30,13% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 33,92% em 2009, com crescimento de 12,57%.
Rio Grande da Serra contava com 39,64% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 38,92% em 2009, com crescimento residual.
Campinas contava com 21,07% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 20,76% em 2009, com queda residual.
Sorocaba contava com 26,59% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 32,13% em 2009, com crescimento nominal de 20,83%.
São José dos Campos contava com 43,41% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 45,41% em 2009, com crescimento de 4,60%.
Osasco contava com 13,66% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 8,52% em 2009, com queda de 37,63%.
Guarulhos contava com 28,86% de Valor Adicionado Industrial em 1999 ante 26,96% em 2009, com queda de 6,58%.
Perigo de escorregar
A interpretação desses números comparativos sem a devida contextualização econômica é uma casca de banana que pode derrubar especialistas descuidados. Isoladamente, a queda da participação relativa do Valor Adicionado Industrial no PIB de um Município não significa necessariamente rebaixamento econômico. Para Santo André essa premissa não encontra sustentação. No conjunto das atividades que integram o PIB, houve perda até mesmo para a inflação do período.
Já a situação de Osasco, por exemplo, é diferente: a perda de participação relativa do Valor Adicionado Industrial decorre em larga escala do crescimento vertiginoso do setor de serviços, movido principalmente pelo trecho oeste do Rodoanel, que atraiu inúmeras empresas de logística. Tanto que Osasco apresentou números gerais do Produto Interno Bruto (crescimento nominal de 498,47% no período) muito acima da inflação medida pelo IGP-M, de 127,08%, enquanto Santo André não passou de 147,04% -- ou seja, raspando por cima o acumulado do medidor da Fundação Getúlio Vargas.
Portanto, quem subestima o poder de reação de Osasco e ainda acredita que a decadente indústria de Santo André é garantia de mais algumas décadas de embromação, não sabe o que está dizendo. Embora o Valor Adicionado Industrial de Santo André fosse 36,92% superior ao de Osasco em 2009, o Produto Interno Bruto, que acrescenta números dos setores de serviços, Administração Pública e Agropecuária, além da indústria, é extraordinariamente favorável ao ex-território da Capital: são R$ 31.616,45 bilhões contra R$ 14.709,60 bilhões de Santo André.
Aliás, Osasco é líder absoluta em crescimento nominal do PIB 1999-2009 dessa pesquisa entre os municípios do G12, contabilizando todos os setores geradores de Valor Adicionado, enquanto Santo André só supera Mauá (dependente demais do setor petroquímico) e São José dos Campos (que viveu crise do setor aeronáutico).
O próximo prefeito, seja quem for, inclusive Aidan Ravin, não pode continuar a assistir impunementemente o descarrilamento econômico de Santo André. Não é uma tarefa simples. Muito pelo contrário. Mas é inadiável.
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