Imprensa

Estão me ameaçando. Já entreguei
o caso para a Polícia investigar

DANIEL LIMA - 03/02/2012

Telefonema estranho, uma visita completamente fora da agenda de um homem engravatado flagrado pelas câmeras do sistema de segurança do condomínio empresarial no qual tenho meu escritório. Tudo isso, em detalhes, está sendo repassado à Polícia, inclusive a gravação em vídeo de todos os passos do visitante. Sinto-me ameaçado. Minha interpretação não é paranoia. Muito ao contrário: tenho descartado seguidamente comentários esparsos sobre os riscos que corro como jornalista, mas agora, não tenho dúvidas: se eventuais adversários querem me inquietar, eis que conseguiram. O recado foi bem dado. Mas isso não vai mudar o enredo.


 


Em condições normais, não levaria esse assunto aos leitores desta revista digital. Mas não é minha porção de pessoa física que está em jogo. É a pessoa jurídica. Sim, ser jornalista é manifestação de pessoa jurídica. A vida me ensinou que é preciso dividir minhas atividades em pelo menos duas partes: o que é de foro pessoal e o que é de foro profissional. Tenho dupla personalidade. A pessoa física detesta imiscuir-se na vida alheia. A pessoa jurídica não resiste a se preocupar com a vida em comunidade.


 


Ainda outro dia um amigo do peito me ligou para transmitir informação sobre um movimento estranho detectado e que envolvia minhas andanças profissionais sobre um determinado desafeto, o qual não menciono por falta de provas. Não dei bola. Mas agora é diferente. Tenho imagens gravadas. O homem de perto de 40 anos, de terno escuro e gravata, cabelos lisos, não me procurou de graça. Veio dar um recado. Ou não veio? O primeiro recado foi de manhã. Minha secretária atendeu o telefone. Ele se identificou como Paulo. Disse o nome da empresa que supostamente representaria. Fui informado. Mantive contato com a empresa mencionada, na qual tenho amigos. Não há ninguém com aquela identidade ali.


 


O homem que ligara de manhã utilizando um nome provavelmente falso e um vínculo corporativo distante da verdade chegou por volta das 14h45 no condomínio empresarial. Veio pelo estacionamento no subsolo, de acesso pela Rua Itaquera. Caminhou pelo hall. Usou o telefone celular para falar com alguém. Seguiu em direção à entrada das torres comerciais na Avenida Pereira Barreto. Parece que esperava por alguém. Voltou ao hall. Pediu um cafezinho, sentou-se à mesa e em seguida, por volta das 15h03, dirigiu-se ao balcão da recepção.


 


Conversou rapidamente com a atendente. Depois de se identificar como Pedro, já não como Paulo, consultou um papel para mencionar meu nome, o número da sala e o ponto cardeal adotado à localização. Minha assistente já esperava pela chegada dele, conforme o telefonema da manhã. Recomendei que não se liberasse o acesso. Estava ressabiado, mas não me passou pela cabeça uma ação preventiva. Errei ao subestimar a confirmação da visita. À informação da atendente, o homem afastou-se do balcão, dirigiu-se rapidamente ao elevador suplementar de acesso à recepção. E desapareceu.


 


Se a Polícia, depois desse relato e das imagens, entender que estou vendo fantasmas, vou responder que fantasmas existem. Principalmente quando vestem-se bem, falam ao celular, mencionam meu nome e minha sala de trabalho. E fala com terceiros de forma suspeita antes de dirigir-se à recepcionista. O recado dele foi dado. Talvez seja isso o que querem eventuais incomodados. Não tenho carro blindado, morro de medo de morrer, amo demais a vida, mas se há algo que não troco por nada nesse mundo é minha função social de jornalista. 


 


Estava esquecendo de um detalhe – que detalhe coisa nenhuma! – a marcar a imagem das câmeras: o homem engravatado, de terno elegante, carregava embaixo do braço algo relativamente volumoso enrolado num jornal dobrado. Parece-me que ele cumpriu rigorosamente o papel dos vilões de filmes de suspense. Uma pasta executiva combinaria bem mais. Mas quem disse que ele apareceu para ser coerente?


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