O prefeito Luiz Marinho dá corda frouxa a um assunto que, mal explicado, poderá lhe atazanar a vida mais à frente, quando colocar a disputa do governo do Estado, em 2018, em sua alça de mira objetiva, não especulativa. Ou até mesmo quando se fizer um balanço dos mais que prováveis oito anos de mandato. É claro que estou falando do aeroportozinho
Sim, o Diário do Grande ABC publicou (os demais jornais parece não terem caído nesse conto) que São Bernardo contaria com um terceiro aeroporto de passageiros da Região Metropolitana de São Paulo. Deu a notícia em manchete de primeira página na edição de outubro do ano passado sem identificar a fonte da informação. Uma fonte furadíssima, que se pretende mais conhecedora do governo Luiz Marinho do que o próprio prefeito, ou uma fonte mal interpretada pelo jornal. O problema é que o petista parece ter adorado a ideia, sem levar em conta impraticáveis probabilidades econômicas, financeiras, logísticas, políticas, ambientais e o escambau. Um prefeito do nível de Luiz Marinho não se pode dar ao desfrute de acalantar fantasias repassadas por assessores e adotadas como política de consistência editorial por um jornal debilmente preparado para análises, porque esfacelado ao longo dos anos 2000.
Acreditar que São Bernardo pode sediar um aeroporto de padrão internacional de passageiros, como foi noticiado inicialmente pelo Diário do Grande ABC no ano passado como um furo de reportagem histórico, equivale a dar crédito à mensagem de que o prefeito Aidan Ravin, de Santo André, desativará o Paço Municipal para ali instalar um Pólo Tecnológico, já que parece não ter encontrado espaço ideal ao que alardeou até recentemente como uma de suas obras mais importantes. A ideia não prosperaria até por instinto de sobrevivência.
Pacto de mediocridade
Viram que com uma só cajadada acertei dois prefeitos? Nada de extraordinário e nada de especificamente discricionário, podem acreditar. Trata-se apenas de expor as vísceras de algumas bobagens que prosperam na Província do Grande ABC. Existe um pacto de idiotice ramificada que torna qualquer declaração de gente graduada verdade cristalina ou projeto mais que concebível.
Pega muito mal para o prefeito Luiz Marinho e seus legítimos sonhos de chegar ao governo do Estado seguir embalando essa obra que, como já cansamos de escrever, não tem a menor viabilidade na Província do Grande ABC e também na Região Metropolitana de São Paulo.
Está mais que na hora de Luiz Marinho expor todos os detalhes do que realmente pretende com o aeroportozinho para executivos e pequenas cargas. A continuar desdenhando do senso crítico de quem ainda pensa um pouco nesta Província, Luiz Marinho poderá incorrer numa reiterada infração de tentar vender gato por lebre e, com isso, manchar o guarda-roupa administrativo que o coloca como favas cantadas à reeleição municipal.
O Diário do Grande ABC acredita que a memória dos leitores é curta (ignora, entretanto, que este jornalista coleciona e arquiva todas as matérias importantes publicadas nos veículos de comunicação) e por isso mesmo as últimas reportagens sobre o chamado aeroporto de São Bernardo simplesmente omitem o que suas páginas imprimiram naquela manchete principal, ou seja, que a Província do Grande ABC sediaria o terceiro aeroporto da Região Metropolitana de São Paulo, depois de Cumbica e Congonhas.
Coordenação metropolitana
Volto ao assunto porque os jornais noticiaram ontem que Luiz Marinho vai coordenar debate na câmara temática do Conselho Metropolitano que irá discutir a instalação de um terceiro aeroporto na Grande São Paulo. Vejam que a ordem de informações é colocada de tal forma, sem ponderações e relativizações, que os leitores acabam caindo no conto do vigário de aeroporto internacional, absolutamente fora de qualquer perspectiva na metrópole paulistana, segundo garantem especialistas e autoridades em textos do jornal Valor Econômico que reproduzi neste CapitalSocial.
Luiz Marinho, segundo o noticiário, vai comandar os trabalhos juntamente com o prefeito de Mogi das Cruzes, Marco Bertaiolli. Os jornais dizem que aquela cidade do Alto do Tietê também está na briga pelo aeroporto. Menos mal, agora, que os jornais corrigem parcialmente o tamanho e a dimensão do projeto.
Marinho disse aos jornais que a câmara temática vai questionar a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) sobre os estudos projetados para os próximos 30 anos, levando em consideração o aumento da demanda de passageiros. "Se a resposta for negativa, estaremos focados exclusivamente em cargas", disse Luiz Marinho ao Diário Regional.
Pois que Luiz Marinho já vá tocando. Basta recorrer aos jornais das duas últimas semanas sobre as negociações que culminaram na privatização dos aeroportos de Cumbica, Viracopos e de Brasília. Ou, retrocedendo um pouco mais, solicitar à sua assessoria de comunicação que lhe informe sobre a matéria publicada pelo Valor Econômico, à qual nos referimos num dos últimos artigos sobre o aeroporto
Arrumando as pedras
Vou repetir: Luiz Marinho precisa colocar as pedras do aeroportozinho de São Bernardo nos devidos lugares. Tem de dizer à Imprensa que quer sim um aeroporto de porte pequeno para dar sustentação logística específica a uma região que, embora no meio de caminho entre Planalto e Baixada Santista, sofre tremendamente com gargalos logísticos por terra, algo que o Rodoanel Sul foi incapaz de superar porque está apenas de passagem por nosso território. Diferentemente, portanto, do que tanto alardeou o governador do Estado Geraldo Alckmin e seu mais dileto partidário temático, o deputado Orlando Morando.
No dia
Luiz Marinho não pode ser uma extensão pública daquele veículo de comunicação quanto se trata de dar transparência e veracidade a questões que interessam a leitores e contribuintes.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?