Economia

O que se passa com o mercado
imobiliário da Província? Um perigo

DANIEL LIMA - 27/03/2012

É claro que os controladores do mercado imobiliário na Província do Grande ABC, entre os quais gente graúda da mídia permissiva, vão detestar essa informação, mas o fato é que a situação está para lá de Bagdá. Principalmente para os chamados invasores, empresas da vizinha Capital que vieram para a região certos de que iriam encontrar um oásis de rentabilidade. Quebraram a cara, mesmo com todas as vantagens competitivas que conseguem graças ao lobby despudorado nas administrações públicas. Em São Bernardo, particularmente em São Bernardo, a situação do mercado imobiliário é crônica.
 
Quem está atento ao rebolado das baianas paulistanas que ancoraram na Província do Grande ABC certas de que fariam a festa são os pequenos e médios construtores da região, ou seja, a quase totalidade de empreendedores do setor. Eles só não estão rindo à toa porque não são trouxas, já que o efeito-contaminação atingirá a todos.
 
Resumidamente, vieram empresas demais com muita sede ao pote e se descobriu, agora, que o pote não é assim uma Brastemp. Pobres deslumbrados que desconhecem os efeitos tóxicos da desindustrialização de décadas contínuas e que caem no conto do vigário de estatísticas furadas. A Província do Grande ABC perdeu a corrida do ouro de desenvolvimento econômico neste novo século, em consequência da desaceleração econômica das duas últimas décadas do século passado. Só não contaram para os espertalhões paulistanos. Como não contaram também que nossa doença holandesa, a indústria automotiva, pode ser nosso Waterloo, porque os asiáticos nos batem sem parar.
 
Não pensem os leitores que este jornalista raciocina provincianamente sobre empreendimentos paulistanos que ancoraram na região. Nada disso: competição é ótima para a sociedade, mas no caso do mercado imobiliário o que menos se encontra é gente competindo para valer, quando se trata de altos coturnos. Há cambalachos protegidos por gente igualmente graúda que penaliza não só os competidores de menor porte, mas também ou principalmente parte da população que se lança a investimentos em moradia.
 
Embuste
estatístico
 
Não faltarão nos próximos tempos, como não faltaram em temos passados, recorrentemente, despudoramente, impunemente, estatísticas industrializadas pela Associação dos Construtores, sob o eterno comando do empresário Milton Bigucci. As próximas manchetes serão as mesmas de sempre sobre números regionais do mercado imobiliário que jamais passariam por uma sabatina formulada por especialistas. O que a Associação dos Construtores apresenta mensalmente não passa de embuste estatístico, sem bases sólidas, sem metodologia confiável, sem lastro de credibilidade. Para deleite dos prevaricadores.
 
Alguns empreendimentos tratados a pão-de-ló pela imprensa regional e mesmo da Capital estão próximos de virarem micos. A demanda superdimensionada e a especulação na formação do preço do metro quadrado morreram na praia da desilusão de uma região empobrecida. Trataram o solo da Província como se solo da Capital fosse. Deram com os burros nágua. A Capital é cosmopolita, o Grande ABC é Província.
 
Vivemos à sombra da Capital na maioria das atividades sociais, econômicas, culturais, acadêmicas e institucionais. Temos um agrupamento de manda-chuvas que acredita, com a arrogância dos ignorantes, que vai continuar a dar as ordens e a comandar os destinos da região. Pobres coitados porque seguem a afundar o navio que conduz 2,6 milhões de pessoas.
 
Particularmente em São Bernardo -- mas com extensão assemelhada às demais cidades da região -- o que se registra é um movimento claramente contracionista do preço do metro quadrado. Sem a demanda esperada para as unidades não comercializadas (e são proporcionalmente muitas) e com a queda da ficha de que os valores pagos pelas unidades tratadas como investimentos estavam completamente fora da órbita regional, a solução é partir para liquidações a toque de caixa. Até a máscara da discrição, medida indispensável para não levar pânico ao mercado, está sendo abandonada. As primeiras liquidações já ganharam até horário nobre da principal emissora de TV do País.
 
Oportunistas de sempre
 
Não estou afirmando nem insinuando tampouco sugerindo e muito menos alertando que estamos próximos de um crash imobiliário. Não estou dizendo que uma bolha está próxima de estourar. Nada disso, até porque o arcabouço que rege as transações imobiliárias amadureceu a tal ponto no País que não há praticamente espaço para grandes quebras, embora esse quadro não possa ser desprezado. O problema é mesmo tipicamente de mercado, da lei da oferta e da procura. Há lançamentos demais para interessados de menos. Essa é uma encruzilhada que não oferece garantia de saída feliz. Há armadilhas a provocar desequilíbrios.
 
Não bastassem os invasores paulistanos mal-informados, também se multiplicam na região os oportunistas de sempre que, crédito imobiliário farto, se lançam em empreitadas para as quais jamais estiveram tecnicamente apetrechados, porque a maioria é especialista em outras atividades. São os infiltrados que também resumem tudo à simplicidade dos ignorantes. Quem é do ramo imobiliário, principalmente gente que amassa o barro há décadas e consta da lista de pequenos e médios, sabe que o movimento do barco não é exatamente de tranquilidade, como a mídia desavergonhada publica.
 
Os espertalhões cinderelescos, da Capital, perderam a noção do perigo e subestimaram os limites gataborralheirescos da Província do Grande ABC. Justamente eles, paulistanos, que sempre olham para a região com desdém. O que se pode fazer quando a ganância é muito maior que a racionalidade econômica? 


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