Economia

Quem acredita nos números do
mercado imobiliário de Bigucci?

DANIEL LIMA - 11/05/2012

A Associação dos Construtores do Grande ABC, de propriedade do empresário Milton Bigucci, continua a desfilar bobagens estatísticas sobre o comportamento do setor na Província do Grande ABC. Os jornais de hoje dão destaque aos números, aos supostos números, do primeiro trimestre de 2012. Desta feita o empresário que não suporta o contraditório da mídia independente foi mais modesto nas alquimias: a Província teria crescido em vendas de apartamentos novos no mesmo nível da Capital. No ano passado, vejam só, a Gata Borralheira cresceu 8,57% em negócios imobiliário, contra queda de 21% da Cinderela. Somos um caso de extraordinária competência. Competência à tortura estatística, é claro.
 
Quando digo e reafirmo que os dados de Milton Bigucci são uma falácia a explorar a credibilidade popular, um crime contra o bolso dos cidadãos, não o faço por qualquer outro motivo que não seja colocar ordem no galinheiro de uma entidade que deita e rola na Imprensa.
 
Minhas fontes não são fontes quaisquer: a Associação dos Construtores manipula sim os dados, inflando-os ao sabor de conveniências mercadológicas. Não são propriamente estatísticas que produz. São manobras de marketing para incrementar um mercado imobiliário que passa por enormes dificuldades.
 
Basta ler os jornais que já anunciam liquidações de apartamentos. Basta detectar o quanto de corretores imobiliários nos perseguem em todos os cantos para tentar desovar não só os excessos do mercado, mas principalmente os micos que estão a saltitar de inquietação. Como se já não bastasse o noticiário econômico, estão aí medidas do governo para tentar salvar a lavoura de um PIB (Produto Interno Bruto) que muito dificilmente passará dos 3% nesta temporada, como garantem especialistas independentes.



Nem uma nem outra
 
Os jornais estão dizendo hoje que a venda de imóveis novos na Província do Grande ABC cresceu 26% no primeiro trimestre deste ano, comparativamente ao primeiro trimestre do ano passado. Como não acredito tanto na entidade de Milton Bigucci como no Secovi (do qual Milton Bigucci faz parte como conselheiro) planto os dois pés atrás.
 
No caso específico da entidade da região (entidade é força de expressão, porque a Acigabc é uma divisão do conglomerado empresarial de Milton Bigucci) repito um desafio já formulado: duvido que o dono da MBicucci abra as informações, a metodologia, os detalhes mais intrínsecos das furadas estatísticas que utiliza como marketing de baixa responsabilidade social.
 
Fossem as unidades da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) na Província do Grande ABC redutos democráticos comprometidos de fato com a sociedade, o mínimo que suas presidências fariam para colocar os pratos a limpo seria solicitar prestação de contas públicas nas divulgações de Milton Bigucci. Sem exagero, as informações do dirigente são um atentado à sociedade porque propagam dados que não confluem para uma zona de confiança.
 
A Associação dos Construtores, sem representatividade da classe porque Milton Bigucci está isolado no ditatorialismo que marca sua longeva carreira diretiva, é um instrumento pecaminoso às relações econômicas e sociais na Província do Grande ABC. Pretende-se, com unilateralismo institucional e voraz apetite econômico, ocupar o papel de oráculo da atividade, no mais abusado dos lobbies empresariais que já vivenciamos.
 
Mais que impunidade
 
A impunidade reservada à atuação institucional de Milton Bigucci à frente da Associação dos Construtores já seria um escárnio se fosse limitada às próprias informações do dirigente, mas ganha dimensão inquietante na medida em que as piruetas estatísticas que produz contam com a retaguarda de boa parte das empresas de comunicação. É muita ingenuidade acreditar em mudanças de rotas que coloquem Milton Bigucci frente a frente com a transparência pública. Ele fala com ar de soberania, aquela soberania falsa, politicamente correta, de palavras sob medida. Bem diferente do comportamento em ambiente privado.


 


A gravidade do momento econômico na Província do Grande ABC, com perdas fluviais de empregos industriais principalmente no setor automotivo, carro-chefe de nosso PIB, não dá a menor retaguarda ao mundo cor-de-rosa que Milton Bigucci pinta na área imobiliária. Quando se recua no tempo, como temos feito sistematicamente com estatísticas de fontes confiáveis e límpidas, e observamos que nosso PIB, nosso Potencial de Consumo, nosso Valor Adicionado, não acompanham o ritmo médio nacional, que não é lá essa maravilha toda, e, mais ainda, não recuperam a sangria dos anos 1990, os gordos números de Milton Bigucci cabem perfeitamente num desses quadros de entretenimento televisivo, sempre com viés desmoralizante, é claro.
 
Pensando bem, talvez Chico Anysio que se foi outro dia tenha deixado escapar, por subestimar a humanidade, um personagem que aumentaria a coleção de tipos brasileiros que tanto fizeram sucesso. O presidente da Associação dos Construtores do Grande ABC poderia caracterizar o protagonista de um quadro hilariante: alguém que em meio às turbulências econômicas e sociais reproduzidas pela mídia mais séria, empunha um megafone e incansavelmente repete velhos e manjados bordões interesseiros. O megafone poderia ter a forma de um enorme umbigo.
 
Provavelmente Chico Anysio tenha sido mais sábio que todos, porque ao não chamar por um clone de Milton Bigucci teria respeitado muito mais os telespectadores do que o presidente da Associação dos Construtores a sociedade regional.


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