Imprensa

Recomendações para quem quer
estar informado com menos riscos

DANIEL LIMA - 06/07/2012

Tenho uma sugestão aos leitores de informações sobre a Província do Grande ABC, principalmente nestes tempos de campanha eleitoral, utilizada para demagogias de suposta responsabilidade social de veículos de comunicação que se fingem impregnados de cidadania mas que fecham os olhos o ano inteiro a questões mais candentes: adotem a fórmula de ler o máximo possível de jornais da região, mas mantenham os pés sempre atrás. Não se prendam a um único título, ou mesmo a dois ou três. Foi-se o tempo em que era difícil atingir multiplicidade de identidades jornalísticas. As versões na internet facilitam a tarefa. Jornais reproduzem no monitor praticamente tudo o que disponibilizam no papel. Com a vantagem de que a versão digital não custa nada.
 
No ano passado fiz uma sondagem com integrantes do conselho editorial desta revista digital (agora Conselhão Regional) e detectei que já havia convergência maciça de leitores do papel para a plataforma digital. O impresso ainda predominava, mas havia sinais de que a biruta viraria o placar. Não custa lembrar que a quase totalidade dos conselheiros é formada por gente que já colecionou muitas primaveras. O efeito-juventude da Internet esparrama-se pela sociedade como um todo. Os usuários mais avessos à tecnologia estão derrubando as paredes de conservadorismo. Até porque, percebe-se, o nível de qualidade da informação nos jornais impressos e eletrônicos não acusa diferenças. Jornal bom impresso é jornal bom digital.
 
Reduzindo margem de erro
 
Principalmente o noticiário político deve ser cuidadosamente vasculhado pelos leitores eleitores -- eis uma sugestão que faço porque adoto o conceito. E o faço porque pretendo sempre e sempre diminuir a margem de erro de avaliação de questões estreitamente vinculadas a preferências partidárias de fundo econômico.
 
Acreditar que exista jornalismo integralmente desprovido de interesse político é jogar uma moeda ao mar e, em seguida, lançar-se nas águas para resgatá-la. Faz parte do jogo democrático estabelecer o que chamaria de condicionalidades editoriais por conta de subjetividades. O problema da maioria dos jornais da região é que seus responsáveis não têm a mesma habilidade e competência dos jornais paulistanos, por exemplo, que fazem jogo semelhante mas com tanta habilidade que, aos olhos menos treinados, parecem absolutamente isentos.
 
Não tenho por hábito ouvir rádio e acompanhar em excesso o noticiário da TV, mas de jornais e revistas paulistanos não abro mão. Consumo-os intensamente. Veja, Época, às vezes a IstoÉ, sempre a CartaCapital, fazem parte de meu cardápio intelectual. Os jornais Estadão, Valor Econômico e Folha de São Paulo também. Também não abro mão da revista Exame. Sem contar outras leituras ocasionais. Menos essas bobageiras de revistas de fofocas e entretenimento. Exceto se enquanto espero pelo corte de cabelos (acreditem, eu me submeto a isso) e ante o esquecimento de carregar um livro providencialmente reservado a essas situações, sou obrigado a folhear aquelas páginas de celebridades da vez, as quais competem em frivolidades que, lamentavelmente, espalham-se entre os anônimos como peste.
 
Anti-enganação
 
Na Província do Grande ABC leio todos os jornais e revistas. Costumo fazer um rapa diário nos estabelecimentos comerciais que exibem dezenas de exemplares de cada publicação. É claro que forço a barra quando digo que leio todas as revistas, porque de revistas a quase totalidade não tem nada. São jornais impressos em formato físico e gráfico de revistas. E mesmo as revistas, salvo exceções circunstanciais que acabam por não resistir às intempéries econômicas, não passam de lustra-egos com dezenas de páginas bajulativas e comemorativas. Senso crítico, absolutamente nenhum.
 
Ninguém tem coragem na praça para contrariar quem quer que seja. Jornalismo em revista, na maioria dos casos, é uma maneira de estender-se o braço a interesses que passam ao largo do sentido reformador do jornalismo que aprendi a praticar desde 14 anos de idade. Palavra de quem os detratores pretendem impingir a fama de mau, mas que bateu um recorde provavelmente mundial, de conduzir uma premiação que entregou meritocraticamente 1.718 troféus em 15 anos. Repito: meritocraticamente, com decisões emanadas de conselheiros editoriais, representantes da sociedade.
 
Reitero, portanto, a sugestão, quase obrigação, à multiplicidade de leitura de veículos regionais. Não se deixem contaminar por nenhum especificamente. Nem tampouco desclassifique unzinho sequer. Não há como escapar da realidade de que há uma deficiência congênita de análise mais profunda a atingir-lhes as páginas, porque faltam cabeças reflexivas, definição editorial nesse sentido e, também, alternativas de financiamento de empresas privadas em forma de publicidade, depois da hecatombe econômica regional. Mas, para contrabalançar a escassez analítica, sobram enxurradas de informações rasas, as quais, quando contrapostas à leitura crítica, tornam possível a aproximação do centro da meta de consistência dos fatos.
 
Se orientem, leitores
 
Quem duvida que a imprensa regional hoje muito mais diversificada também em títulos reúne interesses contrastantes principalmente quando a gestão pública está em jogo, basta recorrer aos arquivos para acompanhar o desenrolar da aparentemente morta apuração do caso Semasa. Tenho tudo metodologicamente guardado em meu sótão, onde repousam, aliás, mais de duas centenas de milhares de páginas do arquivo de papel mais bem organizado da região.
 
O tratamento ao prefeito Aidan Ravin navegou ao sabor de pesos e contrapesos das investigações conectadas a intervenções estratégicas do Paço Municipal. Aliás, a própria divulgação original do caso está associada a esses pesos e contrapesos. Não foi o Diário do Grande ABC que investiu na descoberta da roubalheira. Foi o oposicionista PT que municiou o jornal, porque conhece bem aquela ratoeira, porque ali já esteve também.
 
Mas a operação não desclassifica o núcleo da questão: o Semasa é uma vergonha administrativa que mereceria de instâncias policiais e ministeriais (de Ministério Público) uma ação muito mais incisiva e demolidora das fortalezas de corrupção que o domina.
 
Por isso, se oriente leitor. O antídoto contra o jornalismo direcionado é mais jornalismo direcionado, porque quase todo jornalismo é direcionado. Multipliquem, portanto, as fontes de informação. Com isso, é verdade, corre-se o risco de embananamento mental, que é melhor, muito melhor, que o doutrinamento encabrestado por razões que poderiam ser resumidas em algo como fidelidade burra.


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