Economia

Sorocaba supera Província na
geração de emprego industrial

DANIEL LIMA - 13/07/2012

Sozinho, o Município de Sorocaba, com população inferior a de Santo André distribuída em não mais que metade do território da região, acumula mais empregos com carteira assinada na indústria de transformação do que os sete municípios da Província do Grande ABC juntos. A contabilidade, respaldada por dados oficiais do Ministério do Trabalho, começa em janeiro do ano passado e vai até maio deste ano, período de complicações para a economia nacional. Sorocaba soma no período saldo de 4.312 empregos industriais, ante 4.005 da Província.


 


Pinçamos propositadamente esse período porque demarca nova trajetória do PIB (Produto Interno Bruto) do País, depois de crescimento médio de 4,2% ao ano durante o governo Lula da Silva. O PIB brasileiro não passou de 2,7% no ano passado e neste ano, segundo projeções sérias, será inferior. Não fosse a indústria automotiva, nossa doença holandesa, a situação da Província do Grande ABC seria ainda pior. Mas, paradoxalmente, por conta do prevalecimento massacrante dessa mesma matriz econômica, não conseguimos enxergar luz no fim do túnel.


 


O emprego da indústria de transformação é um medidor indispensável à tomada de pulso da Economia. A Província do Grande ABC conta com alguns falastrões que adoram manipular dados. Empregos gerados nos setores de serviços e de comércio, principalmente, com baixo valor agregado, porque a Província não conta com atividades disseminadoras de riquezas nessas áreas, são instrumentalizados para vender mentiras.


 


Enquanto não tivermos atividades de comércio e de serviços que  se aproximem do perfil da Capital, onde as indústrias cultural, de entretenimento, hoteleira, gastronômica, tecnológica e financeira ajudam a esculpir modernidade econômica, não poderemos cantar de galo. Muito pelo contrário.


 


Relativizando atividades


 


Exatamente por conta disso, de que comércio e serviços da Província do Grande ABC são de Terceira Divisão, os empregos formais gerados nessas atividades precisam ser relativizados em importância. A maioria das carteiras profissionais assinadas está muito aquém da média salarial do setor industrial. Em outras praças menos provincianas, a distância é menor. Mas é a indústria de transformação que faz a diferença. Aliás, a Província do Grande ABC ainda ostenta superioridade econômica e social em relação à média brasileira porque vem do passado de investimentos e empregos industriais a mobilidade social que há muito, infelizmente, desce ladeira abaixo. A chamada nova classe média não passa de falácia. É um “fenômeno” nacional tão abrangente quanto fantasioso porque movido a crédito, não a crescimento de Produto Interno Bruto sustentável.


 


Fui ao banco de dados do Ministério do Trabalho para colocar a Província do Grande ABC num novo enquadramento no G-20, o grupo dos 20 municípios mais importantes do Estado de São Paulo, bloco que organizei para confrontar nossa região com outras áreas paulistas. Essa é uma maneira de não cair na arapuca que os triunfalistas preparam ao comparar  pedaços da Província com pedaços da própria Província. Ou a Província inteira com a Província inteira. Como se isso refrescasse alguma coisa. Que adianta escrever que Santo André gerou mais empregos industriais que São Bernardo ou em nível superior aos demais municípios da região se, quando confrontada com outras localidades do G-20, o que encontramos são sinais de alerta? Que muda dizer que a Província cresceu tantos por cento em dois anos em relação à própria Província se outros endereços são desconsiderados?


 


E já que estamos falando de Santo André, cuja Administração Municipal escalou um mistificador  para divulgar estatísticas furadas, eis que nos últimos 17 meses o desempenho no quesito de empregos industriais formais é dos mais pífios: dos integrantes do G-20, Santo André está entre as seis cidades que registram perdas de trabalhadores. O saldo de 287 demissões no período só é inferior às 497 demissões de Osasco e às 381 de Barueri, municípios da Região Metropolitana de São Paulo. São José do Rio Preto perdeu 53 postos de trabalho enquanto Guarulhos, também na Grande São Paulo, registrou 172 perdas. Diadema somou 169 perdas.


 


As demais cidades do G-20 Paulista safaram-se em postos de trabalho da indústria de transformação. Sorocaba lidera com certa folga, porque os 4.212 empregos gerados são bem superiores aos do segundo colocado da lista, no caso Jundiaí com 2.859. A situação da Província do Grande ABC só não é mais lamentável porque São Bernardo apresentou saldo positivo de 2.342 vagas. Um pouco mais que as 1.470 de São Caetano. O G-7, formado pelos sete municípios da Província do Grande ABC, transforma-se em G-5 no interior do G-20, porque Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra estão excluídos do agrupamento.


 


Menos que o PIB


 


Embora participe com 28% do PIB do G-20, a Província do Grande ABC gerou 23,47% do saldo de emprego industrial.  Dos 17.061 empregos criados no período de 17 meses (sempre considerando o saldo entre contratações e demissões), 13.056 foram registrados nos municípios à parte da Província, ou seja, no G-15 do G-20. A redução do saldo de emprego industrial no período em relação à força da Província no PIB no setor pode evocar discussões quilométricas.


 


Primeiro porque os dados do PIB Industrial referem-se a 2009, último estudo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), enquanto o balanço de emprego industrial com carteira assinada é de 2011. Há defasagem que, entretanto, não deve ser significativa. São raros os casos em que os resultados individuais do PIB se alteram marcantemente num período tão curto. É um movimento de transatlântico, como se sabe.


 


Outro aspecto que o confronto entre PIB Industrial e saldo de empregos formais no setor  poderia fomentar é tentar interpretar as razões de a Província apresentar participação relativa inferior. Traduzindo: com PIB Industrial de 28% no G-20, a Província deveria estar próxima ao saldo de 28% do número de postos de trabalho do setor  no período, não 20% inferior. Como se explicaria tal fenômeno? Uma argumentação é que a produtividade da Província é maior que a média dos 15 municípios listados. Outra justificativa seria a premissa de que, por contar com maior variedade de atividades da indústria de transformação, aqueles 15 municípios apresentam potencialmente mais necessidade  de absorção de mão-de-obra em relação ao predomínio do setor automotivo, ajustado fortemente nos últimos 15 anos na Província sob pressão de concorrência nacional e internacional.


 


Seja qual for a razão o fato é que a Província do Grande ABC vem perdendo participação relativa importante no universo de trabalhadores formalizados no G-20 Paulista. Perder o jogo de abertura de novos postos de trabalho para um único Município paulista, que não passa de um quinto do PIB Geral da Província, não é uma boa notícia, mas não surpreende. O PIB da indústria de transformação da Província do Grande ABC (sempre considerando os cinco municípios do G-20) cresceu em termos nominais (sem influência inflacionária) no período de 1999 a 2009 não mais que 178,22%, enquanto Sorocaba registrou avanço igualmente nominal de 730%. Já o G-15 cresceu no período 189%. Ou seja: mesmo com o setor automotivo turbinado em termos de produção, sempre sob a proteção do governo federal e diferentemente dos tempos de Fernando Henrique Cardoso, a Província do Grande ABC segue comendo poeira da maioria dos concorrentes do G-20.


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